Capítulo 38 - Todos Temos Demônios a Tratar

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Ella olhou deprimida para Dumbledore, e se sentou no chão se encostando na parede.
- Aceito meu destino.

Dumbledore deu um suspiro fechando os olhos.
- Qual destino você escolheu? - perguntou ele serenamente.

- Tem importância isso agora? - sussurrou ela sem olhar para ele.

- Tudo tem importância, mas eu me refiro ao restante da história, o que houve depois? - disse ele se aproximando da janela e fingindo não ver a expressão surpresa no rosto dela.

Ela piscou algumas vezes sem entender, depois deu de ombros.
- Eu prometi a mim mesma que nunca mais tiraria a vida de alguém, fiquei doente e a maldição começou a se espalhar como um câncer. Com muita insistência da parte da MACUSA, fui em mais uma missão com Steve Willians, e dois bruxos usaram feitiços mortais (protego diabolica e fogo maldito), e ali não havia como se defender, aparatei até eles e usei uma arma de trouxa para matar os dois, aquele dia não tive outra opção, eles não iriam parar, e tive de escolher entre a vida deles e a vida de um quarteirão cheio de pessoas inocentes - contou ela com uma expressão perturbada. - depois que a adrenalina passou e as pessoas estavam a salvo, o peso do que fiz recaiu sobre mim como uma bigorna de uma tonelada, engatilhei a arma e apontei para minha boca, eu era uma assassina, sempre reagia com o mau, sempre fazia o pior, eu só queria acabar com tudo. - ela ficou em silêncio, por alguns segundos.

- E o que houve depois? - perguntou Dumbledore.

- Steve retirou a arma da minha mão usando um feitiço convocatório, e fui impedida de morrer. Os dias se passaram e caí de cama doente, meu sangue queimava minhas veias como se fosse água fervente, fui piorando dia após dia, morrendo aos poucos, o remorso me queimava de dentro pra fora mais rápido do que a magia negra corroendo minhas veias, todos acharam que eu ia morrer.

- E como melhorou? - questionou Dumbledore pensativo.

- Quanto mais culpa eu sentia, mais a dor se concentrava, até que o chefe da seção dos aurores veio até mim e disse as palavras mágicas. - contou ela relembrando com a expressão de um leve sorriso.

- Ah foi um feitiço? - perguntou o diretor surpreso.

- Ele disse "eu te perdôo Ella", e a dor foi se concentrando só no meu peito, então percebi que a magia negra havia cedido, e a unica dor que restara era a do arrependimento. Ele me convenceu de que meus amigos não iriam querer que eu vivesse afundada em dor e culpa, que era minha obrigação seguir em frente e ser a melhor versão de mim, por eles, eu deveria fazer jus a marca que deixaram na minha vida e me comprometer a ser melhor, a ser boa, e a lutar pelo bem, para que pessoas como eles nunca mais precisassem morrer.

Dumbledore se emocionou com as palavras que ouviu, aquelas mesmas palavras no passado, foram a motivação que ele teve para derrotar Grindewald, para a criação da ordem da fênix, e para ele querer tanto derrotar Voldemort.
- Seu amigo é um homem sábio.

- Ele nunca foi meu amigo, mas ele me deu força, para que eu continuasse vivendo. - respondeu ela deprimida. Ambos ficaram em silêncio por longos minutos, apenas digerindo informações e controlando emoções.

- Poderia me explicar como funciona essa sua "magia" e como você a usou para... Bem, como a usou? - questionou ele com cuidado.

- Ah isso...- respondeu ela com uma voz sem vida. - É simples, como você é um legilimens, vai entender com maior facilidade, posso demonstrar usando suas emoções? - então ela olhou alarmada para Dumbledore se sentindo horrível. - desculpe, eu não me expressei bem, só vou te dar um exemplo, mas prometo que não vou lhe causar dor nem te machucar, não é minha intenção.

- Eu confio em você Ella, me mostre. - concluiu ele com um sorriso.

- Vamos ficar em pé. - ambos se levantaram devagar. - Na legilimência o bruxo precisa ser sutil e cuidadoso para não afetar a saúde mental do alvo, ou pode usar a mesma como forma de tortura, minha magia funciona igual. É preciso muita destreza, atenção e concentração para se retirar uma memória que um bruxo esconde, assim também funcionam os sentimentos. - explicou ela de forma didática. - Eu analiso e encontro o sentimento que quero, seja raiva, tristeza, alegria, tanto faz, só preciso achar a centelha certa.

Ela apontou a mão para Dumbledore que estava a uns 3 metros distante dela, o diretor sentiu um leve arrepio na espinha, enquanto ela fez um movimento de puxar algo invisível em forma de bola, sua expressão um pouco ansiosa.
- Poderia lançar o feitiço detector de magia? O meu não dura tempo suficiente. - pediu ela concentrada.

Dumbledore assoprou a própria varinha e conseguiu visualizar um fio cintilante muito fino que saía diretamente do coração dele e se ligava a um orbe de luz dourada na mão da garota.
- Isso aqui, é uma emoção boa que não vou dizer qual é, quero adivinhe. - disse ela avaliando o orbe do tamanho de uma bola de basquete.

- É impressionante. - comentou Dumbledore se aproximando e observando o orbe dourado com curiosidade.

- Voltando a explicação, faz de conta que esse sentimento em minha mão é sua tristeza, ou seu remorso, ou um sentimento de aversão a si mesmo. Eu pego ele e... - a garota pegou o orbe com as duas mãos e o puxou com força o expandindo por toda a sala, assustando até os ex diretores nos retratos.

Dumbledore porém não se assustou, ele sentiu uma força tremenda, um sentimento de que tudo daria certo, um sentimento mais forte que resiliência...
- Esperança. - comentou ele maravilhado, o orbe estava tão grande que ele e Ella estavam dentro dele, o feitiço de detecção de magia estava ativo e ele conseguia visualizar cada fagulha mágica usada para capturar aquela emoção, era lindo e então se foi da mesma forma que veio. Ella fez o orbe retornar ao tamanho original e devolveu a Dumbledore que se sentiu estranho.

- É normal se sentir um pouco vazio por alguns segundos após a manipulação, como eu expandi sua esperança e depois fiz que ela retornasse ao tamanho normal, seu cérebro vai sentir falta rapidamente da sensação anterior, mas já deve estar se estabilizando, vejo em seus olhos. - disse ela um pouco rápido demais.

Dumbledore piscou os olhos com força, e a sensação passou, o entendimento então tomando conta da expressão em seu rosto.
- Então você aumenta uma emoção ruim de uma pessoa a um nível colossal, e isso a faz morrer como?

- Depende da emoção, depende da pessoa, é relativo, pode ser suicídio, pode ser um AVC, um ataque cardíaco... A minha magia em si não mata, mas causa diretamente a morte - comentou ela desconfortável.

- Compreendo. - comentou Dumbledore muito pensativo, ele foi até sua mesa e se sentou com o olhar longe, mexendo os lábios como se falasse sozinho. Ella se aproximou e se sentou na cadeira em frente esperando. - E quanto a Voldemort? Funcionou com ele? - perguntou o diretor em voz alta do nada assustando Ella que estava com o pensamento longe.

- Aquele psicopata? Ele não sente tristeza ou remorso, eu só podia usar o medo, mas ele era catastrófico quando estava receoso. Usei sutilmente a minha magia para conquistar a confiança dele, mas não funcionou muito bem como pode ver. - respondeu ela com aversão.

Dumbledore encarou ela por longos minutos antes de dizer com um sorriso leve.
- Obrigado por me dizer a verdade, sei que foi difícil para você, Severo sabe disso?

- Só sabe da morte dos comensais, ainda não entrei em detalhes de quão cruel eu posso ser. - respondeu ela deprimida.

- Guardarei seu segredo.

- O que fará agora Dumbledore?- perguntou ela dando um suspiro triste.

- Você foi perdoada pela MACUSA, todos os processos contra você foram encerrados, está no relatório, não há nada a se fazer. - ele se levantou para afagar Fawkes que havia acabado acabado de retornar de uma missão, a ave piou melodiosamente cumprimentando Ella.

- Oi Fawkes. - cumprimentou ela deprimida.

- Ella, como hoje está sendo uma espécie de dia da verdade, vou te contar a história de um rapaz, um jovem que tinha a ambição de um futuro brilhante com um legado de sucesso, e ambicionava ser de certa forma, o senhor da morte.

- Tom Riddle? - questionou ela de má vontade.

- Não, eu. - respondeu ele com simplicidade.

Ella arregalou os olhos e sua boca se abriu num O de surpresa.

- Você vai entender logo... Esse rapaz se apaixonou por outro que pensava como ele, e ambos queriam tomar o poder a ferro e fogo, e se convenciam de que as mortes no processo seriam pelo bem maior.........

A Princesa Mestiça e a Ordem da FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora