Capítulo 37 - Pecados confessos

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- Ella te chamei aqui porque Alastor tem estado com receio em relação a você. - disse o diretor muito a vontade como se falasse sobre o clima, arrumando algumas pilhas de cartas bagunçadas sobre sua mesa e sentando.

- Manda ele entrar na fila. - disse ela se sentando na cadeira em frente a escrivaninha dele.

- Ella - disse Dumbledore com um semblante sereno - eu te conheço há alguns meses, e compartilhamos alguns segredos entre nós, eu posso afirmar com toda certeza que confiaria minha vida a você, entretanto, certos fatos do seu passado descrevem uma pessoa totalmente diferente da que eu conheço, o que deixa o ministério um pouco alarmado em relação a você.

Ambos ficaram em silêncio, Dumbledore olhando para o rosto dela com um sorriso, e Ella olhando para a mesa, até que ela comentou mais séria ao se sentar a frente de Dumbledore.
- Eles querem que eu fique longe das crianças não é.

- Querer e poder são duas coisas diferentes. - afirmou Dumbledore calmamente. - Não devo nenhuma explicação ao ministério, mas por amizade, preciso tranquilizar Alastor, e para isso, eu gostaria de saber a história completa - ele mostrou uma pasta com papéis - sem os floreios que estão descritos nesses relatórios.

- Compreendo, de qualquer forma eu iria lhe contar, eu só queria que visse as minhas memórias antes, para que visse a história através dos meus olhos. - disse ela se levantando e indo até a janela.

- Eu confio em você Ella, o passado não muda meu conceito sobre você, eu melhor do ninguém posso afirmar que as pessoas mudam. - disse o diretor ainda sentado em sua mesa.

Ella olhou para o diretor um pouco hesitante.
- Como sabe, eu era uma criança quando conheci Riddle, o que me fez perder a infância, depois estudei em Durmstrang onde eu não me encaixava, e perdi meu senso de sociedade, depois eu e minha mãe fomos amaldiçoadas, o que me tirou o senso de justiça, depois Severo me feriu e foi embora o que me fez perder o senso de família, depois minha mãe morreu e perdi todo o amor que tinha na minha vida, então fui capturada por Carrow e torturada de diversas formas terríveis por anos, o que me fez perder a humanidade. - ela se virou de volta para a janela secando o rosto que estava molhado de lágrimas, e ficou olhando para o horizonte.

- Isso justifica muita coisa. - comentou Dumbledore depois de algum tempo em silêncio.

Ella olhou para o diretor se sentindo um lixo, com as palavras de Carrow se repetindo em sua mente como um mantra de desespero "Dumbledore pode amar os inferiores, mas será que ele poderia amar um monstrinho como você? Ah eu duvido muito"
- Isso não justifica nada - sussurrou ela chorosa.

Dumbledore se levantou e se aproximou dela, enquanto ambos olhavam para o sol leve lá fora.
- O inverno se aproxima. - comentou o diretor.

- Era inverno naquela época também - disse Ella relembrando o passado. - Desde que sofri a maldição eu sentia tanta raiva, eu não podia me controlar, quando os comensais chegaram para tirar satisfação com minha mãe, eu não me segurei, os matei lentamente e de forma dolorosa.

- Como fez isso, um feitiço? - questionou Dumbledore se apoiando na borda da janela pensativo.

- Com minha magia - disse ela como se aquilo fosse óbvio - depois presa com Carrow, eu só sentia cada vez mais raiva, mais ódio, e meu desejo de vingança crescia e tudo o que eu queria era causar dor, eu queria que sentissem o que senti. Passei anos tentado conjurar um patrono sem varinha, e quando os aurores americanos me libertaram, eu fugi, e fui atrás daqueles que me fizeram mal.

- Você sabia onde estavam? - perguntou Dumbledore sério.

- Não. Mas eu os encontrei, e bem... Me vinguei deles, um a um, fossem trouxas ou bruxos, não importava, matava todos, e a cada vez eu esperava me sentir melhor, mas só me sentia pior, a raiva não passava, a dor daqueles anos de tortura não me deixava, eu fui entrando cada vez mais fundo no meu sentimento de vingança até que... Conheci Steve Willians. - ela falava olhando para o nada, relembrando o passado como um filme diante dela.

- O auror americano? - perguntou Dumbledore.

- Sim, ele poderia ter me prendido, mas os aurores tentavam pegar aqueles bruxos há anos e não conseguiam uma pista sequer, enquanto eu em apenas 6 meses matei metade da organização. Eles precisavam de mim, e eu precisava deles, eu só não sabia ainda. Mas depois com o passar do tempo eu fui me apegando ao pessoal, pela primeira vez eu não me senti deslocada, senti que pertencia a algo, eu quis ser uma pessoa melhor. - ela tinha um sorriso leve nos lábios enquanto falava, Dumbledore percebeu que ela tinha certo carinho por aquelas pessoas.

- Fomos feitos para viver em sociedade, precisamos das pessoas. - comentou Dumbledore. - Mas se você se apegou tanto aquele grupo de aurores, porque saiu? Foi pela sua doença?

- Não. Eu saí de lá porque as lembranças aumentavam a minha dor. - respondeu ela ansiosa - Enquanto seguia com meu desejo de vingança louco e desenfreado, a vida me cobrou um preço alto... - a voz dela se quebrou, ela agarrou os próprios cabelos e gritou em lamento, era visível que ela vinha reprimindo a dor mais dolorida que já existira, uma dor que Dumbledore compreendeu sem precisar de palavras, um fardo que era impossível de se desfazer, o remorso.

Os olhos de Dumbledore se encheram de lágrimas, mas ele precisava ser forte por ela, tamanha dor sendo reprimida por tanto tempo, precisava ser expressada.
- Chore querida, não reprima a sua dor.

Ella caiu ao pés de Dumbledore e agarrou as pernas dele chorando e soluçando, enquanto o diretor afagou os cabelos da garota olhando para ela com compaixão, levou algum tempo até que ela se acalmasse.
Ela então se sentou no degrau próximo a mesa do diretor, sem forças para se levantar.
Dumbledore se sentou ao lado dela aguardando em silêncio ela estar pronta para finalizar sua história.

- Eu estava tão focada na minha vingança, tão determinada em matar todos, eu pensava que estava fazendo justiça, a cada vida que eu tirava eu acreditava que estava certa e me convencia disso - disse ela sussurrando em meio a um soluço e outro. - Certo dia Carrow me encurralou em um prédio abandonado enquanto eu e Willians investigavamos uma pista. Ele veio com vários bruxos das trevas para nos atacar e eu.. eu nunca fui boa em duelos, Willians fez o melhor que pôde sozinho, tentei ajudar mas eu fui bloqueada em todos os feitiços que lancei, Willians foi ferido, e eu revoltada com tudo aquilo, senti tanto ódio... - as lágrimas voltaram a correr pelo rosto dela, enquanto ela se lembrava. - eu lancei toda a minha magia naqueles bruxos das trevas, matando a todos sem pestanejar, fiquei fraca, exaurida, mas fiquei orgulhosa de ter salvo meu amigo.

- As vezes em momentos de grande pressão reagimos sem pensar, claro que não justifica... Matar tantas pessoas... Mas o desespero nos leva a fazer coisas que não queremos - comentou Dumbledore tentando ser compreensivo.

- Mas eles não eram bruxos das trevas... - continuou ela como se estivesse anestesiada, seus olhos paralisados no nada, seu rosto sem expressão, apenas lágrimas descendo pelas bochechas. - quando o efeito da poção polissuco passou, os olhos vidrados e sem luz que vi eram de: Hellen, Liam, Noah, James, Mackenzie e Stacey.

- Seus amigos aurores? Ele te fez mata-los? - perguntou Dumbledore assombrado, o entendimento rapidamente tomando conta de suas expressões e logo ficando com uma expressão de compaixão.

- Não me olhe assim como se eu merecesse compaixão. Não há perdão para o que fiz - disse ela se levantando ansiosa, sentindo nojo de si mesma. - Eu poderia ter incapacitado eles, mas escolhi matar, eu quis matar, é tudo minha culpa.

Dumbledore ficou em silêncio, pela primeira vez ele não sabia o que responder, nos relatórios diziam que ela e Willians foram os únicos sobreviventes de um ataque de Carrow. Alastor disse que aquela história estava mal contada, e estava certo, o relatório foi maquiado para esconder o grande erro cometido por Ella.

Ela se controlou um pouco respirando fundo algumas vezes.
- O ministério está correto, sou um perigo para qualquer pessoa. Eu vou embora.

Dumbledore se levantou com autoridade.
- Você está proibida de sair desse escritório hoje.

A Princesa Mestiça e a Ordem da FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora