A Princesa Mestiça e a Ordem da Fênix

Capítulo 48 - Azkaban

- Leve ela Olho-Tonto, ficarei aqui para tentar enrolar Dumbledore ou Snape caso apareçam, para dar tempo a vocês. - disse Kingsley com seriedade.

- Me disseram que pode aparatar onde quiser, mesmo que ajam feitiços de proteção? - perguntou Moody.

- Sim, posso. Mas não podemos entrar em Askaban diretamente, há muitas testemunhas, e prefiro ser discreta, embora seja impossível uma vez que eu esteja frente a frente com os dementadores. - disse ela pensativa. - mas posso aparatar daqui até as margens da prisão, e chegaremos lá como qualquer bruxo normal sem causar suspeitas até entrarmos.

- O que acontece com você perto dos dementadores que torna impossível ser discreto? - questionou Moody inquisidor.

- Você vai ver quando chegarmos, vamos? - disse ela estendendo a mão para o auror.

Ele olhou para Kingsley que assentiu com a cabeça o encorajando, e depois segurou o pulso da moça a contragosto, sentindo imediatamente um puxão, e abrindo os olhos diante das margens que levavam a Azkaban.

Era a beira de um precipício, com o mar lá embaixo, um bruxo magro e idoso esperava numa mesinha com alguns objetos incomuns, chaves de portal.
- Bom dia Olho-Tonto - disse o bruxo amigável. - bom dia senhorita.

- Dê a ele o documento de permissão de entrada. - disse Moody a Ella.

A moça deu o documento ao bruxo que analisou usando alguns feitiços, ficando satisfeito, ele deu aos dois uma touca velha.
- 5 segundos. - disse ele. E os dois agarraram o objeto imediatamente, sendo levados para dentro da prisão.

Moody pousou no chão elegantemente mesmo com a perna de pau, enquanto Ella caiu de bunda no chão.
Ele estendeu a mão para a moça, que aceitou humilhada a ajuda para se levantar.
- Nunca usou uma chave de portal? - perguntou ele.

- Não - disse ela massageando o traseiro de maneira engraçada, enquanto ele encarava o corredor de pedra escuro.

- Dementadores. - disse ele sombrio. - vou falar com eles, conjure seu patrono, eles atacam de imediato sem questionar.

- Não é necessário. - disse ela andando a frente. - Eles não vão nos incomodar, vamos.

Os dois seguiram pelos corredores, subindo as escadas para as torres, e todos os dementadores no caminho se afastavam da moça como se ela fosse repugnante, o efeito que ela causava neles era tão forte, que Moody nem sequer sentiu a aura maligna da presença deles.
- O que faz para afasta-los? - perguntou Moody genuinamente curioso.

- Não uso nada, sou mestiça como bem sabe, e nas minhas veias corre magia de luz fortíssima, o que afasta essas coisas de mim. - ela riu - eles não me suportam, escute o que estão dizendo.

Moody apurou a mente, e conseguiu ouvir sons como cochichos repetidos com vozes fantasmagóricas "vá embora, vá embora", "fujam da luz", "se afaste ninfa repulsiva".
- Eles te odeiam - comentou Moody surpreso.

- É a única vantagem de ser eu. - comentou ela observando as pessoas dentro das celas procurando Jacob entre eles.

Os prisioneiros estavam todos deitados, alguns em posição fetal, outros de barriga pra cima olhando para o nada, inertes. Mas um entre eles chamou a atenção mais que os outros, aqueles estava sentado próximo as grades, encostado na parede, cantarolando baixinho. Ella se aproximou da cela, e um par de olhos acizentados a encararam de volta, ela não pode deixar de perceber que havia certo brilho naquele olhar, os dementadores não o afetaram como os outros, havia algo diferente nele.
- Quem é este? - perguntou ela para Moody sem tirar os olhos do homem.

- Pode falar diretamente comigo, não sou um animal, não hoje. - respondeu o homem se levantando para a encarar, ele era mais alto que Ella, e estava um pouco desnutrido e apático.

- Sirius Black - disse Moody com um olhar hostil para o homem.

- Por que ele é diferente dos outros? - perguntou ela para Moody ignorando Sirius que revirou os olhos para eles se afastando das grades.

- Sou mais bonito que os outros. - disse ele com ironia.

Ella o olhou com curiosidade, enquanto Moody seguiu em frente ignorando as gracinhas dele.
- Não dê ouvidos ao Black, ele é um dos piores aqui. - disse ele a duas celas de distância dos dois.

- O que você fez? - perguntou Ella diretamente a Sirius que a olhou intrigado, então se aproximou das grades afastando o cabelo emaranhado do rosto.

- Resolveu me tratar como gente doçura? - disse ele num sorriso largo.

Ella se virou e ia saindo mas ele se alarmou e a chamou volta.
- Espere! Estou há tanto tempo aqui que desaprendi a tratar as pessoas, eu fui rude, me perdoe.

- O que você fez? - insistiu ela com um olhar frio.

Ele abaixou o olhar, e suspirou fechando os olhos num semblante perturbado.
- Eu matei meus amigos.

Aquelas palavras acertaram Ella como facas afiadas, ela se lembrou de seu passado, e sentiu empatia pelo homem que parecia estar genuinamente arrependido.
- Você... se arrepende? - sussurrou ela.

Ele a encarou surpreso, ela foi a primeira pessoa a se dispor a ouvi-lo, as mãos dele tremeram, o que ele conseguiu disfarçar segurando as grades.
- Não há um único segundo em que eu não me arrependa, e que não odeie a mim mesmo. - revelou ele com olhos marejados.

Ella observou os olhos torturados daquele homem, e viu a a si mesma, mesmo que não fossem os mesmos motivos, a mesma história, ela via nele a mesma dor, e sem pensar ela estendeu a mão e tocou a mão de Sírius que se assustou com um pulo.
- Nunca é tarde para se redimir, você errou, mas seus amigos não gostariam de te ver nessa situação, independente do que você tenha feito.

- Esse homem não merece perdão, nem é digno de redenção. - disse Moody de longe. - ele merece apodrecer aqui.

Sirius não respondeu, nem Ella, ambos estavam se encarando intensamente, e uma lágrima escorreu por aquele rosto triste, sujo, e magro. Ella estendeu a mão e tocou o rosto dele enxugando a lágrima, com a delicadeza de uma borboleta.
- Mesmo preso aqui, ainda há chance de se redimir, você deve isso a eles, mantenha-se longe das trevas, cultive a luz dentro de si, e poderá revê-los um dia para se desculpar.

- Vamos menina - disse Moody quebrando o encanto daquele momento, ele a pegou pelo braço e a puxou para ir em frente. - encontrei Jacob, vamos terminar com isso logo e ir embora antes que Dumbledore nos encontre e me puxe pelas orelhas.

Ella seguiu Moody, dando um olhar hesitante para trás, enquanto Sirius a observava se afastar se ajoelhando no chão da cela desolado.

- O que tanto ficou conversando com Black? - perguntou Moody incomodado.

Ela parecia anestesiada, ainda sentindo o toque da pele fria do pobre homem em sua mão. Aquele olhar desolado, ele parecia tão sincero, mesmo desnutrido, sujo e malcuidado, aqueles olhos cinzentos, tão expressivos. Moody a olhou de soslaio deduzindo o que ela pensava.
- Não se deixe enganar por Black, ele é muito carismático, sempre foi. Mas foi ele quem entregou o segredo do esconderijo dos Potter para você-sabe-quem.

- Ele me lembrou uma coisa. - balbuciou ela.

- Vocês se parecem bastante em personalidade, mas você não tem a mesma perversidade dele, ele tentou pegar Harry Potter da casa depois que os pais do garoto estavam mortos, como não conseguiu, fugiu mas foi encurralado por Pettigrew um amigo de escola, então matou Pedro, e vários trouxas inocentes numa explosão. - rosnou Moody em tom definitivo. - você se defendeu e protegeu seu amigo de uma forma extrema, mas se arrependeu depois. Black viu os corpos de seus amigos, mas mesmo assim queria matar o bebê deles!

Ella encarou Moody por alguns segundos, as emoções conturbadas daquela conversa fizeram os dementadores se aproximarem um pouco. Ela conjurou seu patrono para proteger Moody e seguiu para a cela de Jacob sem responder.