Capítulo 59 - Conselho Sincero

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Moody recebeu os documentos com um olhar satisfeito.
- Conseguiu em tempo recorde! Como fez menina? - perguntou ele admirado.

- Falei com ministro primeiro, depois tive uma visita desagradável a sua sala, isso meio que... agilizou meu trabalho. - contou ela fazendo uma careta.

- Hum, bom trabalho. - comentou ele sem prestar atenção.

Ella saiu andando pelo corredor, e lágrimas desciam pelo seu rosto sem que ela notasse.

- Quem eu devo matar? - perguntou Severo saindo das sombras do corredor a frente.

- Do que está falando? - perguntou ela confusa, então sentiu seu rosto úmido, e limpou rapidamente as lágrimas. - Eu estou bem, não é nada demais.

- Conheço esse olhar e esse tipo de lágrima. Não minta para mim Ella Prince. - disse ele em tom de bronca.

- Como pode conhecer o "tipo de lágrima"? Isso é ridículo. - disse ela irônica, empurrando ele gentilmente para o lado para ir em direção aos seus aposentos.

- Eu conheço porque já passei pela mesma coisa. - disse ele ainda de costas para ela.

Ella parou e se encostou a parede, ainda de costas para ele.
- Estou ouvindo.

- Você se sente humilhada, está com raiva e ao mesmo tempo se pergunta onde errou e quando deixou de ser boa o suficiente para aquele imbecil. - disse Severo ficando de frente para ela.

Ella se virou lentamente com os olhos arregalados.
- Como sabe?

- Eu já disse, conheço essa dor, vejo o mesmo em seus olhos. - disse ele dando de ombros.

- Não imagina o quanto me controlei para não mata-lo - confessou ela deixando sua raiva transparecer.

- Bem vinda ao meu mundo, todos os dias mato Tiago Potter em meus sonhos e a morte dele nunca é cruel e dolorosa o suficiente. - disse Severo num tom cômico, até deu um leve sorriso.

- Por que quer matar um homem que já está morto? Digo, depois de todo esse tempo - perguntou Ella curiosa.

- Se quer falar sobre isso precisa ser com boas doses de álcool, não consigo admitir certas coisas estando sóbrio. - disse ele colocando a mão no ombro dela e a conduzindo para o quarto dela.

Os aposentos de Ella eram muito bem decorados, as paredes azul marinho eram iluminadas com estrelas enfeitiçadas para brilhar como no céu a noite. Na pequena cozinha tinha apenas uma bancada e uma prateleira cheia de ingredientes de poção misturadas a comida, em Hogwarts somente Ella e Severo tinham pequenas cozinhas em seus aposentos, o restante dos professores e funcionários não tinham comida estocada em seus quartos.

Severo pegou uma garrafa de whisky de fogo, e ambos se sentaram nas poltronas da saleta, ele serviu dois copos e bebeu um longo gole do seu antes de falar.
- Ela morreu por causa da burrice e da arrogância do Potter, mesmo após meu erro contando ao lorde das trevas sobre a profecia, Dumbledore os teria mantido em segurança, se Potter não fosse tão imbecil a ponto de negar Alvo Dumbledore como fiel do segredo, e colocar o psicopata do Black no lugar, isso sem contar sobre o inferno que fizeram na minha vida durante os estudos, e é por isso, que odeio a memória dele, por isso quero matar um homem que já morreu depois de tantos anos.

- Ele foi um imbecil, mas você tem sua parcela de culpa, e eu não sei como me enquadro, se sou imbecil, ou se tive uma parcela de culpa. - comentou ela observando o líquido âmbar dentro de seu copo.

- No seu caso não acho que teve culpa, mas acredito que aconteceu o mesmo que comigo na época. Os dois querem coisas diferentes. - explicou Severo pensativo.

- Claro, eu queria um relacionamento e ele queria enfiar a língua na boca de uma vagabunda. - disse ela com amargura.

- Ele o que? - disse Severo se levantando com raiva. - Eu vou matar aquele panaca! Pena que não posso deixá-lo careca já que ele não tem um fio de cabelo naquela cabeça oca.

- Podemos deixar as ameaças de morte para depois? No momento não estou animada para isso. - disse ela virando sua bebida. Severo ficou em silêncio observando Ella, então se sentou chateado.

- Eu também não quis o mal dela quando a vi com Potter, ao contrário, eu odiei a mim mesmo. - confessou ele sem jeito.

- Eu também estou me odiando agora, mas acho que é mais sobre meu ego ferido, do que sobre sentimentos. - revelou ela se auto analisando.

- Se for só isso é fácil de superar, meu ego é ferido constantemente quando vejo todo meu talento desperdiçado com crianças arrogantes que não enxergam a simples diferença entre 1/2 e 1/4. - disse Severo irônico.

- E como consegue superar isso? - perguntou ela desolada.

- Meus métodos não são bons para você, porque eu simplesmente escolhi não me apegar a mais ninguém já que isso só me trouxe dor. E quanto ao meu ego, bem, eu só supero sendo o mais odiável e detestável possível, assim eu de certa forma me vingo antes de ser atacado. - Severo bebeu mais um copo de bebida, seu rosto pálido já estava ficando corado.

- É uma forma bem infantil e triste de se pensar. Mas entendo, perseguir antes que te persigam, embora eu não apoie essa idéia, sei que foi a forma mais fácil que encontrou para lidar com seus conflitos interiores. - disse ela se aproximando dele e segurando a mão dele, que retribuiu o gesto dando um sorriso triste.

- Cada um tem seus próprios demônios a lidar, e eu estou fazendo o melhor que posso com o restou de mim mesmo. - declarou ele tirando seus cabelos do rosto.

- Obrigada.

- Pelo o que? - perguntou ele assumindo e volta sua pose impassível.

- Por compartilhar sua dor comigo, e me deixar compartilhar a minha com você. Você me deu uma luz, me mostrando o que devo fazer.

- Transfigurar o babaca em uma lesma e jogar sal em cima? - perguntou ele sarcástico.

Ella riu.
- Ótima idéia, mas não.

- Independente do que for fazer, creio que deva dar uma conclusão a tudo. Dê a ele a chance de se explicar e ouça sinceramente, depois dê um fim a tudo e explique suas motivações sem deixar esperanças e sem deixar nada subentendido. - disse Severo a contragosto.

- E por que acha que ele merece isso? - perguntou ela surpresa com a atitude dele.

- Por que a indiferença é um castigo pior que a morte e nem o ser mais cruel do mundo merece isso  - disse Severo falando mais sobre si do que sobre ela.

A Princesa Mestiça e a Ordem da FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora