A Princesa Mestiça e a Ordem da Fênix

Capítulo 90 - Desencanto

Ella se agitou na cama se afastando de Sírius como se ele fosse um dementador, ela se enrolou no lençol e correu para seu quarto se trancando lá com o coração agitado quase explodindo no peito.

- Não, não, não, não....- murmurou ela batendo na própria testa. Então respirou fundo algumas vezes para se recompor. - Tá tudo bem Ella, já foi, já aconteceu, não há mais nada o que fazer, e tá tudo bem, você quis, você arca com as consequências agora. - disse ela repetidamente para si mesma.

Ela correu para tomar um banho, dando socos na parede do banheiro para lidar com a raiva que sentia de si mesma, como ela pôde se deixar levar assim? E coitado do Sírius, mal imaginava ele a responsabilidade por trás do ocorrido naquela noite.
Ella pensou que nunca teria de chegar a conversar sobre isso com ninguém, talvez num futuro distante, quando não houvesse mais lutas ou dificuldades a enfrentar, mas não hoje, não agora. 
 
Como ela conseguiria contar a ele, que os anhangás, eram seres que tinham apenas um parceiro por toda a vida? E valia a pena contar? E se ela contasse e ele ficasse com ela apenas por pena, ou obrigação? E se ela não contasse e ele não levasse a sério os seus sentimentos?

Ella se demorou o máximo que pode para sair de seu quarto, um mosto de vergonha e hesitação fazia seu coração bater forte, a força dos batimentos subindo para a garganta e ouvidos, seu rosto estava vermelho vivo, suas orelhas queimavam.

Ela desceu as escadas, e encontrou Sírius cantarolando e fazendo panquecas com uma dancinha esquisita.
- Bom dia bela dama - disse ele num tom divertido, o sorriso se quebrando em seu rosto ao ver a expressão dela. - O que aconteceu? Harry está bem?

- Ele está bem, Sírius, Dumbledore mandou um recado ontem a noite antes de... Enfim, ele está bem. - disse ela corando ainda mais como se fosse possível - Precisamos conversar.

- Concordo. - disse Sírius sério, mostrando que levava tudo aquilo muito a sério.

Ella pode sentir as emoções que o rondavam, ele estava feliz, eufórico para ser mais exata, e apaixonado, mas haviam algumas emoções conflitantes, ele estava preocupado, com medo, inseguro...

Ella se sentou na cadeira a frente da bancada, e ele se sentou a sua frente, as mãos dele tremeram levemente, e ele as escondeu no colo.
- Sírius, desculpe, nós... bem deveríamos ter conversado sobre isso antes, não deveríamos ter sido tão irresponsáveis como fomos.

- Eu não vejo dessa forma. - protestou ele.

- E como vê essa situação? - retrucou ela parecendo tensa.

- Nós temos sentimentos um pelo outro, e apenas expressamos essas emoções, não é nada de mais. - explicou ele dando de ombros.

O sangue de Ella ferveu.
- Nada de mais? - questionou ela cerrando os olhos, seu semblante parecia calmo, mas Sírius nem imaginava que um vulcão estava prestes a explodir na cara dele.

- Não coloque palavras na minha boca Ella. - alertou ele com seriedade - eu estava feliz, mais feliz do achei que poderia me sentir um dia, mas você vem e me joga um balde de água fria com sua cara amarrada, e agora quer jogar a culpa em cima de mim? - explicou ele de forma responsável, mas tinha uma pitada de irritação ali.

- Você não entenderia mesmo que eu desenhasse para você! - esbravejou ela com a voz contida, parecendo uma ameaça.

- Tente! Quem sabe um imbecil como eu consiga entender suas sábias palavras um dia? - retrucou ele passando a mão pelos cabelos, sua voz estava irritadiça, mas havia um tom de desespero.

Ella o encarou com mágoa brilhando em seus olhos, mas seu semblante se manteve firme, ela não iria ceder as provocações dele, ela tinha motivos mais do que suficientes para estar se sentindo daquela forma, e se ele não estava disposto a ouvir, ela não estava disposta a expor.

Ela suspirou decepcionada.
- Esquece, deixa pra lá. Você está certo, apenas cedemos a impulsos, foi algo do momento, mas já passou. Só precisamos cuidar para não cometer o mesmo erro novamente. - balbuciou ela claramente de coração partido, mas seu semblante duro e impassível fez Sírius tirar outras conclusões.

Ella pegou se caderninho e foi para a praia deixando Sírius sozinho com seus pensamentos.
E ele a viu sair com um olhar frio e distante, e desejou ter uma varinha para conseguir explodir aquela casa inteira se fosse possível, como se a destruição fosse amenizar o que ele sentia naquele momento.
Ele estava preparando um café da manhã maravilhoso, ele havia planejado o dia todo, até flores ele colheu para dar a ela, ele tinha intenção de dizer que amava, de pedir que ela não desistisse dele, que ela esperasse ele ser inocentado, e que poderiam se casar, viajar o mundo, conhecer coisas novas, era tudo questão de tempo, Harry estava crescendo, logo seria adulto e não precisaria mais dele. Mas tudo foi por água abaixo, o encanto se quebrou mais rápido do que iniciou.

Ele foi até o quarto, e se deitou emburrado na cama olhando para o teto, se lembrando dos momentos doces que passaram, será que ela não gostava dele? Ou será que ela percebeu que ele não tinha nada a oferecer?
Ella tinha dinheiro, propriedades, poder, amigos, com certeza ela tinha pretendentes melhores, com certeza tudo o que houve entre eles foi apenas uma diversão para ela, apenas uma distração do tédio, ela mesma havia dito que estava entediada.
A mente de Sírius girava com aquele turbilhão de pensamentos, e ainda cansado da noite mal dormida, ou talvez fosse a ressaca pela bebida, ele adormeceu.

  A noite chegou imperiosa, o céu nublado se negava a dar uma visão das estrelas, um vento fresco e frio vinha do mar, quando Ella entrou no quarto de Sírius batendo a porta com força e o chamando alarmada.
- Sírius, Sírius! - disse ela o chacoalhando de leve.

Ele abriu os olhos sem vontade se espreguiçando e dando um sorriso malicioso para ela, claro que foi só um pesadelo, Ella iria voltar a se deitar e eles iriam se abraçar e voltar a dormir...
- Se queria deitar ao meu lado era só dizer, não precisa me acordar com tanta pressa. - disse ele divertido, a voz sonolenta.

Ella deu um tapa na cabeça dele.
- Não é isso seu idiota, Dumbledore escreveu. - disse ela com um tom sério que o fez se levantar rapidamente, o sono deixando seus olhos e fazendo sua mente trabalhar. Um eco de dor o atingiu o lembrando dos acontecimentos anteriores.

- O que aconteceu? Harry está bem? - perguntou ele preocupado.

- Harry está bem e seguro, mas aconteceu algo incomum na copa de quadribol. - explicou Ella abrindo seu  caderno e mostrando para ele a letra inclinada e floreada de Dumbledore.

"Querida Ella,
Mostre essa mensagem a Sírius imediatamente depois que ler, acontecimentos estranhos andam ocorrendo no mundo bruxo, coisas que eu e você conseguimos ler nas entrelinhas, mas pessoas comuns não.  
  Creio que chegou a hora de nos organizarmos em relação a nosso tratado.
Berta Jorkins desapareceu durante esse verão, e um velho trouxa que morava na antiga casa dos Riddle apareceu morto misteriosamente, na copa de quadribol comensais da morte apareceram e causaram grande confusão, que se terminou com a marca negra brilhando imperiosa no céu.
Sírius me escreveu relatando que Harry sentiu sua cicatriz doer durante o verão, acho que eu e você sabemos bem o que significa.
Alastor Moody foi atacado em sua casa as vésperas de vir para Hogwarts lecionar como professor, tem algo estranho no ar Ella, consigo sentir.
Preciso de seu auxílio imediato, isso não pode mais esperar, enviarei uma varinha para Sírius através de Fawkes, e assim que chegar quero que você venha imediatamente para a Grã-Bretanha, Sírius pode se cuidar sozinho, mas eu não posso ficar sem sua ajuda, aquilo que falamos meses atrás? Preciso que faça.
Aguardo sua resposta e presença o quanto antes.
Atenciosamente
Alvo Dumbledore"

Abaixo havia apenas a letra de Ella respondendo ligeiramente.
"Entendido, confirmado."

Sírius olhou para Ella que estava de braços cruzados e de costas para ele.
- O que Dumbledore quer que você faça? - perguntou ele totalmente despertado.

- Não é da sua conta. - disse ela pegando o livro das mãos dele e saindo do quarto batendo a porta com força.

- Preciso retornar a Grã-Bretanha. - murmurou Sirius preocupado e decidido.