A Princesa Mestiça e a Ordem da Fênix

Capítulo 119 - Último Dia de Sol

Sirius estava sentado à mesa, os dedos tamborilando levemente no pergaminho à sua frente. Seus olhos, apesar de estarem fixos nas palavras escritas, revelavam uma mente distante, absorta em pensamentos. O ar na sala estava pesado, carregado de ansiedade contida. Ele segurou a pena por mais um segundo antes de soltá-la com um suspiro pesado.

O leve som da porta se abrindo interrompeu seus devaneios, e ele ergueu os olhos ao ver Dumbledore entrar silenciosamente.

- Dumbledore? - perguntou Sirius, surpreso, a voz ecoando levemente pela sala quase vazia.

- Bom dia, Sirius. - disse o diretor com um sorriso gentil, sentando-se diante dele.

Sirius observou Dumbledore por um momento, os olhos estreitando. 
- Aconteceu alguma coisa... Ah! - exclamou de repente, como se uma lâmpada tivesse se acendido em sua mente. - Ella te contou.

Dumbledore assentiu, o sorriso não se alterando, porém seus olhos, como de costume, mantinham aquele brilho enigmático.

Sirius recostou-se na cadeira, soltando outro suspiro.
- E você veio aqui para me convencer do contrário. - Ele fechou os olhos, o cansaço pesando em suas palavras. A tensão parecia aumentar à medida que ele deixava suas preocupações escorrerem pela fala.

- Eu não disse nada, ainda - respondeu Dumbledore com um daqueles seus sorrisos misteriosos, o tipo de sorriso que sugeria que ele sabia muito mais do que deixava transparecer. - O que está escrevendo?

Sirius deu de ombros e gesticulou vagamente para o pergaminho na mesa.
- Isso? - Ele soltou um riso seco. - É meu testamento. Caso... você sabe, aconteça algo comigo.

Os olhos de Dumbledore suavizaram com preocupação, mas ele manteve o tom leve.
- Um pouco mórbido para um homem que está prestes a se casar, não acha?

- Nah, já conversei com Ella sobre isso. - Sirius gesticulou com desdém, mas sua voz estava mais séria do que de costume. - Vou deixar tudo para Harry, inclusive essa maldita casa. - Ele apontou para as paredes sombrias ao seu redor, um sorriso sarcástico se formando. - Ella achou que seria uma piada interna excelente, Harry herdar o quadro gentil da minha mãe.

- Ela tem um senso de humor peculiar, sem dúvida. - Dumbledore riu baixinho, o som suave preenchendo a sala fria. - E quando será o casamento? Temo não ter roupas apropriadas para a ocasião dependendo da data.

Sirius ergueu uma sobrancelha, claramente desconfiado.
- Não vai tentar impedir?

Dumbledore o observou por um longo momento, sua expressão inalterada, mas acolhedora.
- Por que eu faria isso?

Sirius deu um riso seco, cruzando os braços.
- Por causa de Voldemort? Da segurança do meu filho? Ella teria que se esconder, abandonar os planos da Ordem... Isso poderia por tudo a perder.

Dumbledore se recostou na cadeira, seus dedos entrelaçando-se calmamente.
- Uma casa protegida por um feitiço Fidelius seria suficiente, a Ordem pode protegê-los. E quanto aos planos de Ella com a Ordem... a verdade é que eu a aproveito muito mais como estrategista do que no campo de batalha, ajustes podem ser feitos, tudo é maleável. - garantiu ele com serenidade.

Sirius ficou em silêncio por um momento, processando as palavras do diretor. Ele abaixou a cabeça, os dedos acariciando o pergaminho sobre a mesa.
- Harry poderá ficar conosco nas férias de verão? - perguntou com uma leve esperança na voz.

Dumbledore assentiu levemente.
- Ele ainda terá que passar pelo menos uma semana com os tios, mas depois disso, sim. A habilidade de Ella de aparatar será útil para mantê-lo seguro.

Sirius sorriu, o alívio suavizando suas feições, mas ainda assim havia uma sombra persistente.
- Mal posso acreditar que você concorda com essa loucura... Eu nunca poderei retribuir tudo o que fez por nós.