Capítulo 69 - Uma Carta Reconfortante

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Severo sabia que não tinha como impedir Ella depois que ela enfiava uma idéia na cabeça, mas tinha uma pessoa que devia explicações para ele. Ele passou dias ruminando aqueles pensamentos, evitando a todos trancado em seus aposentos.

Uma semana se passou e ele ainda estava irritado, se lembrando de Ella dando seu discurso de adeus para os professores, parecendo mais ansiosa e alegre do que o normal.
Severo não parava de pensar em que missão maluca Dumbledore poderia ter envolvido Ella, e ficava assombrado só de pensar que ela poderia estar em perigo, ele tinha pesadelos todas as noites com Ella aparecendo em seu quarto com ferimentos graves e morrendo em seus braços antes que ele pudesse reagir.

Aqueles pensamentos se transformaram em raiva, Ella já era adulta e podia escolher por si, mas isso não iria impedir que ele falasse com Dumbledore dessa vez.
Ele subiu as escadas até a sala de Dumbledore e a encontrou vazia, os quadros dos diretores na parede falavam juntos.

- Apague essa luz, estou tentando dormir!

- O diretor saiu, volte quando ele voltar.

- Saia!

Severo olhou para os quadros com deboche, se aproximou da mesa do diretor calmamente, e jogou todas as coisas no chão, num acesso de raiva.

- Está maluco filho? Pare já com essa barbaridade! - gritou o quadro de Armando Dipet. Severo apontou a varinha para o quadro e ele levantou as mãos. - Acalme-se rapaz!

Severo suspirou fechando os olhos e abaixou a varinha, exasperado ele se sentou na cadeira mais próxima, massageando as têmporas.
Fawkes se aproximou dele dando um pio suave.
- Não se aproxime Fawkes - disse Severo com os cabelos escondendo seu rosto - Não sou uma boa companhia para agora.

A ave ignorou o aviso, e pousou a cabeça suavemente no joelho dele, que a olhou confuso, então hesitante ele estendeu a mão para acariciar a ave que pareceu satisfeita em ganhar um carinho.
- Você também gosta dela não é - murmurou Severo conversando com a ave. - Não consigo me conformar com o fato dela ter partido, ela poderia ter ficado, estaria segura aqui, e próxima da família, perto de quem gosta dela.

Fawkes o encarou piando melodiosamente tentando responder.

- Eu sei que ela é teimosa - concordou Severo como se entendesse - Mas Dumbledore a enviou para alguma missão perigosa, sendo que ela passou toda a vida presa, e agora está doente, afetada pela maldição do lorde das trevas, você não se preocupa com isso? - perguntou ele arqueando as sobrancelhas.

Fawkes piou de novo, dessa vez mais suave, e voltou a pousar a cabeça no joelho dele.
- Você nunca ficou próxima de mim dessa forma, sente falta dela não é. - comentou ele quase sorrindo, quando a porta se abriu e ele recolheu a mão automaticamente tomando uma postura mais séria.

- Severo! - exclamou Dumbledore com um sorriso amistoso. - fui ao três vassouras para uma bebida, desculpe se precisou esperar muito.

- Tive com o que me ocupar enquanto esteve fora - comentou Severo se levantando e dando uma visão mais ampla dos pertences e documentos do diretor jogados no chão.

- Compreendo... - avaliou Dumbledore encarando Severo com serenidade. - Tem sempre papéis demais em minha mesa, e sempre estão bagunçados junto a meus pertences que admito, são muitos.

- Não me olhe assim. - esbravejou Severo rabugento.

- Assim como meu amigo? - perguntou Dumbledore brandamente.

- Com esse semblante de bom samaritano, sabemos bem que você não é. - declarou Severo com um olhar frio - sempre conspirando pelos cantos, manipulando as pessoas para fazerem o trabalho que você não tem coragem de fazer.

Dumbledore deu um suspiro decepcionado.
- É isso que pensa de mim Severo? Me pergunto se a partida da senhorita Prince é o motivo para tanta raiva e verdades dolorosas.

- Então admite que é assim? - questionou Severo lívido.

- Me refiro a verdade a questão do que pensa de mim, agora quanto a manipulação e covardia que me acusa gostaria de entender quais motivos lhe dei para pensar assim. - disse Dumbledore enquanto pegava os papéis do chão e limpava a tinta de caneta derrubada usando a varinha.

- Você meteu Ella em alguma questão sua, e agora faz dias que ela não manda notícias, você não se importa com os outros, sabe que ela está doente e pode até morrer dependendo do que estiver fazendo. - esbravejou Severo apontando o dedo para o rosto de Dumbledore.

- E o que faz pensar que eu a enviei para alguma missão baseada em "minhas questões"? - perguntou Dumbledore calmamente.

Severo encarou aqueles olhos azuis que pareciam tão sinceros, mas não se deixou abalar.
- Quando ela estava aqui, vocês ficavam andando cochichando pelos corredores, até mesmo nos jantares ela se sentava ao seu lado, longe de mim, para vocês ficarem conspirando juntos sobre sei lá o que, e até no último dia dela aqui você a manteve ao seu lado ao invés de deixá-la passar tempo com a família dela, eu sou do sangue dela Dumbledore, não você! - acusou Severo claramente raivoso.

Dumbledore riu baixinho, fazendo Severo perder o rumo por um segundo o olhando confuso.
- Então é isso? Ah meu amigo, isso posso compreender muito bem, porque não disse antes que estava com ciúmes? - perguntou Dumbledore num tom divertido.

- Eu não senti ciúmes... - balbuciou Severo um pouco envergonhado, se recompondo rapidamente para sua versão impassível. - Não adianta mudar de assunto, me diga, para onde enviou Ella?

Dumbledore sorriu mais abertamente com o semblante terno.
- Ella está com um amigo meu, na verdade ele é amigo da Minerva também,  e posso garantir que ela não está correndo nenhum perigo.

- Com quem ela está? - perguntou Severo com o tom de voz mais ameno e casual.

- Ela está com Newt Scamander, ele vai ajudá-la a compreender melhor a parte anhangá em seu sangue, com ele, Ella irá aprender mais sobre si mesma, e a controlar seus poderes com maior facilidade, os canalizando talvez até mesmo para expulsar de si a magia negra que corre em suas veias. - explicou Dumbledore com ternura, desestabilizando toda a raiva de Snape.

- Se é apenas isso por que ela não me contou antes? Porque não me enviou nenhuma carta? - murmurou ele sem entender.

- Eu não podia contar, ela me fez prometer - disse Dumbledore com serenidade mexendo nos papéis que tirou do chão e pegando uma carta - Aqui, essa carta chegou hoje, como não te encontrei, fui tomar uma bebida e iria pedir para Fawkes lhe levar quando eu voltasse. - disse Dumbledore estendendo um envelope grosso para Severo que pegou com hesitação e abriu imediatamente.

Dentro haviam algumas fotos de Ella na praia com seus elfos, Ella sentada em frente a lareira com um amasso cinza no colo, Ella lançando um patrono com seu formato incomum de Qilin, mas dessa vez era um Qilin adulto enorme, e uma carta.

"Caro Severo, não te disse antes onde eu estaria porque sabia que você iria implicar ou iria querer vir junto, e Hogwarts precisa de você.
Estou me divertindo muito com os animais do senhor Scamander, ele disse que tenho uma afinidade incomum com criaturas, embora eu seja péssima em me lembrar o que cada um come, e como tratar doenças deles.
Estou aprendendo bastante sobre mim, e já consegui evoluir meu patrono como te mostro na foto, estou bem, mais do que bem, não estou correndo perigo, nem me envolvi em encrencas (por enquanto), voltarei para acabar com sua paz no dia das bruxas e já revelo a intenção que tenho de por fogo na sua capa sem que perceba.

Com amor, Ella."

Severo tinha lágrimas nos olhos ao ler, mas quando reparou Dumbledore o encarando com suavidade, guardou a carta e as fotos no bolso da capa e saiu sem dar satisfações.

A Princesa Mestiça e a Ordem da FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora