Capítulo 40 - Enlouquecer

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- Como assim ele não quis me matar? - perguntou Ella irritadiça.

- Deixe Severo explicar. - disse Dumbledore calmamente, mas com uma espécie de fogo no olhar.

- Todos esses anos, Ella pensou que o lorde das trevas havia lançado nela a mesma maldição que lançou em Edithe, mas não. - começou Snape sério.

- E como o antídoto funcionou? - questionou ela incrédula.

- Funcionou porque Edithe gastou seu pouco tempo para desenvolver um antídoto que anulasse seus sintomas, ela já sabia que ia morrer, e não te deixaria desamparada quando acontecesse. - revelou Severo sem expressão nos rosto.

- E como eu não descobri a mentira dela? Eu conseguiria sentir se ela estivesse mentindo. - disse ela de forma analítica.

- Ela era sua mãe, te conhecia melhor que ninguém, ela se forçou a pensar em outras coisas para esconder de você o fato de que sabia que não havia cura para ela. - disse Snape sério encarando a garota. - pense bem, o que ela sentia antes de morrer? Medo? Raiva? Não acredito que foram esses seus últimos sentimentos.

Ella se dirigiu até a cadeira próxima a mesa do diretor e se sentou prestes a ter uma crise de pânico, sua respiração rápida e descompassada, o coração acelerado e suando frio, ela puxou a gola da veste como se estivesse sufocando.
- Ela sentia abnegação. - disse ela segurando o próprio pescoço.

- Exato, é apenas uma teoria claro, mas tenho quase certeza, só preciso terminar uma poção antes para confirmar. - disse Severo com o semblante sério, mas seus olhos o traíam demonstrando preocupação com a sobrinha.

Dumbledore que estava em silêncio, se aproximou de Snape colocando a mão no ombro dele e o conduzindo próximo ao armário da penseira.
- Explique sua teoria.

- Ella me explicou um pouco sobre o que sentia desde que foi amaldiçoada, me contou como Edithe morreu, e me ensinou a preparar o antídoto, com essas informações eu cheguei a uma conclusão, de que, se o lorde das trevas quisesse mata-la, ele teria feito isso usando Avada Kedavra, não tinha explicação ele usar uma maldição de morte lenta em pessoas que ele quis punir, para ele a pior punição era a morte, ele só usava esse tipo de maldição quando queria algo de alguém. - explicou Severo para Dumbledore, enquanto Ella tentava respirar se controlando.

- Se ele não queria matar Ella, o que ele fez então? - perguntou Dumbledore.

- Minha teoria é de que ele não queria matar nem a Edithe, mas quis usar uma punição com a intenção de ver Ella ir até ele implorar, Edithe o irritou, e se ela não se voltasse a ele, seria melhor que morresse, porém Ella era importante para ele, eu me lembro dele dizer "essa criança me lembra a mim mesmo na infância", ele não a mataria assim, ela sempre o intrigou e ele estava ansioso para vê-la adulta. - continuou Snape com seriedade.

- Também achei estranho quando vi nas memórias de Ella, o olhar de cobiça que ele lançava a ela, e quando ela subjugava alguém, ele aplaudia, quase como se fosse capaz de sentir orgulho. Também cogitei a idéia de que ele não iria a querer morta pelos erros de sua mãe, ele valorizava o poder, não parecia ser do feitio dele matar alguém que era tão submissa a ele. - concordou Dumbledore.

- Conversando com Ella hoje eu percebi algumas nuances nos sintomas que ela sente, e decidi avaliar melhor a poção antídoto, lancei a maldição em uma das mandrágoras de Pomona, depois reguei com o antidoto, em outra mandrágora apenas lancei a maldição, e aguardei. - explicou Snape.

- E deixe eu adivinhar, as duas plantas morreram ao mesmo tempo. - completou Dumbledore pensativo.

- Exatamente, foi aí que comecei a pesquisar sobre alguma maldição que tivesse sintomas parecidos, porém com finalidades diferentes, deu muito trabalho, eu não encontrava nada. - relatou Snape olhando de soslaio para Ella que parecia não estar prestando atenção a conversa. - O que eu não entendo é como ela não notou.

- O que quer dizer? - perguntou Dumbledore confuso

- Ella sempre teve talento excepcional em poções desde criança, sempre foi muito astuta e racional, ela conseguiria chegar a conclusão que tive sem problemas. Entretanto... - Snape olhou de novo para Ella que continuava sentada com a mão no pescoço tentando puxar a gola da veste para baixo e respirando com dificuldade. - Ela não notou, nem buscou saber mais.

- Ella passou por muita coisa traumática, a mãe foi a pessoa que ela mais confiava, ela não iria se dar ao trabalho de investigar uma poção, e depois que perdeu a mãe, não questionaria sua memória. - deduziu Dumbledore preocupado, ele aproximou dela colocando a mão em seu ombro.

- Eu aperfeiçoei a poção, eu deveria saber, mas nunca pensei... - respondeu ela num sussurro apático.

- É compreensível querida, fique tranquila. - disse Dumbledore afagando o cabelo dela. - E o que acha que pode ser Severo? - perguntou ele olhando diretamente para Snape.

- Acredito que o lorde das trevas usou um feitiço criado por Herpo o Sujo na antiguidade, um feitiço que o movimento e a entonação das palavras havia se perdido no tempo, porém acredito que o lorde das trevas tenha descoberto sozinho como o lançar. - explicou Snape andando em círculos pela sala.

- Herpo o Sujo? O primeiro bruxo a criar um basilisco? - perguntou Dumbledore.

- Sim. O feitiço é uma variação da maldição imperdoável Imperius, se fala Imperius Obscurus Diabolicus. Tal maldição faz com que a vítima ponha seu lado obscuro em evidência, é um feitiço progressivo, então uma pessoa boa pode levar meses até ser totalmente tomada pelo mal, no caso de Ella, como é mestiça, o feitiço afeta apenas seu lado humano, e o sangue de Anhangá concentrado com magia de luz impede que a maldição se espalhe. - explicou Snape como se estivesse dando uma aula.

Os olhos de Dumbledore se arregalaram com o entendimento.
- Voldemort pensava que o amor que Ella sentia pela mãe, era de alguma forma uma fraqueza que a impedia de realizar artes das trevas, e quis retirar isso dela, para que Ella de certa forma, fosse inteiramente para o lado das trevas.

- Acredito que seja isso - concordou Snape. - a poção antídoto criada por Edithe e aperfeiçoada por Ella, auxilia nos sintomas que vem junto com a maldição, evitando que o mal se espalhe completamente, no livro que estudei relatava que a vítima afetada por tal maldição sentirá dor excruciante ao cultivar sentimentos de redenção, e dependendo da intensidade dessas emoções, a pessoa pode morrer.

- Mas Ella tem magia de luz correndo em suas veias, o anhangá é um ser de pura magia branca, isso em si impede que ela seja tomada pelo mal. - comentou Dumbledore pensativo.

- Sim, seu sangue mestiço foi o que a salvou, entretanto ela não pode deixar sua parte humana ser tomada pela escuridão, ou a luta entre essas duas energias dentro dela pode fazer sua mente sucumbir a dor, e nunca mais retornar ao normal. - explicou Snape visivelmente preocupado.

- Esta dizendo que posso enlouquecer? - perguntou Ella numa voz fina.

- É uma das possibilidades. - afirmou Snape encarando o chão.

A Princesa Mestiça e a Ordem da FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora