Capítulo 75 - Proteções Para a Pedra

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Ella estava de pé na sala principal da sua antiga fazenda, a luz suave do entardecer lançando sombras longas e inquietantes pelas paredes desgastadas.  
Sua frustração com Dumbledore era palpável.

- O pobre menino é tratado como lixo, e você não se importa? - Ela disparou, a voz carregada de uma irritação que há muito tentava conter.

Dumbledore, sentado em uma poltrona de couro desgastada, manteve a calma, embora o peso das palavras dela parecesse causar pequenas fissuras em sua habitual serenidade.
- Claro que me importo, Ella, mas Harry não tem outros familiares... - respondeu ele, cada palavra cuidadosamente medida.

Ella deu um passo adiante, não se deixando intimidar pela postura calma do diretor, a raiva a fazendo soar mais firme.
- Você deveria ter criado o garoto! - acusou ela - Aposto que nem o Ministério nem o Conselho se oporiam a Harry Potter morando em Hogwarts, pelo menos ele teria sido cuidado.

Dumbledore suspirou, cruzando as mãos no colo, havia uma sombra de cansaço em seus olhos.
- Eu não poderia, Ella, negligenciei minha própria família. Veja meu irmão, Aberforth, com sua estranha fascinação por bodes, minha irmã... morta. Sou um velho, sempre ocupado e com ameaça do retorno de Voldemort, eu não tinha como cuidar de Harry.

Ella estreitou os olhos, sua raiva não se apaziguava com a sinceridade de Dumbledore.
- Você poderia tê-lo deixado com qualquer um de sua confiança, até mesmo Severo seria um guardião melhor do que aqueles trouxas! - Ela rebateu, sem hesitar.

Dumbledore piscou, surpreso pela sugestão, e então, como se as palavras fossem absurdamente engraçadas, ele começou a rir. Um riso suave, quase irônico.
- Você realmente acha que Severo conseguiria criar o filho de Tiago Potter? - perguntou ele, ainda divertido.

- Acho que ele criaria o filho de Lílian. - afirmou Ella com convicção. - Pelo menos o garoto não passaria fome, e poderia ouvir histórias sobre sua mãe, ver algumas fotos, e mesmo que não houvesse amor ou demonstrações de afeto, ele estaria protegido, e teria uma experiência muito melhor com magia.

A risada de Dumbledore diminuiu, e ele ficou pensativo, quando finalmente falou, sua voz estava tingida de uma leve melancolia.
- Severo é um bom homem, Ella, mas sempre teve uma tendência para o lado das trevas, eu não poderia expor Harry a esse ramo da magia tão cedo, mas você está certa, o garoto sofre. Quando vi a cicatriz em sua testa, tive meus palpites... providenciei proteções para ele, mas não imaginei que seria tão maltratado e negligenciado...

Ella não estava satisfeita, a ideia de Harry suportando tudo aquilo para ter seu caráter moldado, a fazia tremer de indignação.
- Tá, ele não se tornou um garoto mimado que pensa que o mundo está aos seus pés, certo. Mas a que preço? Você já pensou no destino fadado que ele tem de enfrentar? Por que aumentar o fardo do pobrezinho? - Ela questionou, sem esconder sua frustração.

Dumbledore inclinou-se um pouco para frente, olhando para Ella com a expressão de alguém carregando um grande peso.
- A tia tem o mesmo sangue da mãe. Esse sangue permite que a proteção que Lílian conferiu a Harry seja expandida. - Ele revelou com simplicidade.

Ella conhecia o suficiente sobre as magias antigas para entender. Apesar de relutante, ela se calou, reconhecendo a lógica por trás da decisão, mesmo que ainda discordasse.

Um silêncio pesado pairou entre os dois, até que Dumbledore, suavemente, o quebrou.
- Daqui a alguns dias as aulas vão se iniciar, e preciso de mais um favor seu. - Ele disse, seu tom voltando ao pragmatismo.

Ella o olhou com ceticismo, cruzando os braços.
- O que quer? - Ela perguntou, com um toque de contragosto.

- Quero que verifique para mim as camadas de proteção que os professores conferiram à Pedra Filosofal. - disse Dumbledore, sua voz calma, mas com uma seriedade que Ella não pôde ignorar.

Dumbledore agitou a varinha e deu a Ella uns pergaminhos com as descrições dos feitiços e proteções, Ella leu com atenção. Primeira camada seria o guardião de Hagrid, Fofo, um cão de 3 cabeças.
- Isso é impressionante, mas vulnerável... - murmurou Ella preocupada - Uma falha fácil de explorar para quem souber abrir um livro grego sobre criaturas.

Ella leu sobre o feitiço de McGonagall, peças de xadrez gigantes transfiguradas com precisão.
- Piertotum locomotor? - perguntou ela a Dumbledore que assentiu.

- Sendo Minerva a responsável, não há duvidas da força do encantamento e a habilidade envolvida. Isso aqui vai exigir uma mente afiada para passar... ainda assim, alguém com a estratégia certa pode vencer. - Ella avaliou, pensativa.

O próximo pergaminho era sobre Pomona Sprout, envolvendo o Visgo do Diabo.
- Fascinante... Mas um simples feitiço é suficiente para neutralizar. - disse Ella, ponderando sobre a vulnerabilidade do feitiço. Dumbledore que estava atento as reações de Ella assentiu em concordância.

O próximo foi o desafio de Filius Flitwick, uma porta trancada e encantada para se abrir somente com a chave, mil chaves voadoras ficariam pairando no ar e somente um seria a certa.
- Hum, engenhoso, foi projetado para confundir e frustar. Brilhante, mas uma vez que alguém identificar a chave certa, será apenas uma questão de tempo até conseguir pegá-la. - murmurou, reconhecendo o esforço, mas sabendo que um bruxo determinado conseguiria.

O próximo a avaliar era o desafio do Professor Quirrell: um enorme trasgo.
- Ele nem se esforçou - comentou Ella olhando para Dumbledore de soslaio. - nada que um feitiço de atordoamento forte não resolva.

Finalmente, chegou ao enigma deixado por Severo Snape.
- Um conjunto de poções com um enigma lógico para ser resolvido... Isso sim é complicado... - comentou ela lendo o enigma orgulhosa. - Não se trata apenas de magia, mas de sagacidade, Severo nunca facilitou as coisas.

Ella ficou em silêncio por um momento, absorvendo a complexidade da proteção. Era uma combinação perigosa de magia avançada e lógica implacável, algo que poucos conseguiriam resolver sem sofrer graves consequências, ela terminou de inspecionar todas as camadas, sua expressão era séria.

- E então? Qual o seu parecer final? - perguntou Dumbledore calmamente.

- As proteções são formidáveis, mas cada uma delas possuí uma vulnerabilidade, uma falha que alguém com conhecimento suficiente poderia explorar. - explicou ela com um suspiro - Isso pode atrasar um intruso, mas, ainda assim, não é infalível.

Dumbledore ouviu em silêncio, suas mãos entrelaçadas sob o queixo enquanto absorvia cada palavra de Ella.
- Agradeço sua sinceridade, mas minha intenção é exatamente essa, que não seja infalível.

- Desculpe? Não entendi. - balbuciou ela pasma.

- Não posso acusar Quirrell sem provas, e atrasa-lo é o suficiente para que eu possa envolve-lo na minha armadilha. - revelou Dumbledore com um sorriso enigmático.

- Agora entendi onde quer chegar... Mas onde vai deixar a pedra realmente? - perguntou ela em tom conspiratório.

- Ficará protegida por um feitiço que ainda estou adaptando, dentro do espelho de Ojesed. - revelou Dumbledore misterioso.

- E que diabos é isso? - perguntou ela séria.

- Um espelho que mostra o desejo mais desesperado e profundo do coração de uma pessoa. Estou aguardando o espelho chegar, e lançarei um feitiço nele escondendo a pedra ali, mesmo que alguém passe por todos os obstáculos, terá que enfrentar um último feitiço, o meu. - disse Dumbledore com simplicidade.

- E qual feitiço usará? Porque quebrar um espelho é bastante simples. - comentou Ella tentando adivinhar.

- Curiosa como Severo... - murmurou Dumbledore. - Meu trunfo será usar o caráter da pessoa, somente quem desejar pegar a pedra, pegar sem usar... Poderá obtê-la. Caso o indivíduo tenha intenção de usá-la, ele vai passar horas se vendo pegando a pedra e fazendo elixir sem nunca conseguir alcança-la... Isso dará tempo o suficiente para eu perceba falhas na segurança e chegue no momento certo.

- Interessante... Muito interessante... - comentou Ella. - Posso ver esse espelho? - perguntou ela intrigada.

- Ele é um artefato perigoso, mas sou um velho curioso e não serei hipócrita de impedi-la de dar uma olhada se assim desejar. - comentou o diretor rindo - lhe avisarei quando o espelho chegar.

- Combinado. - assentiu ela cordialmente.

A Princesa Mestiça e a Ordem da FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora