Capítulo 83 - Absinto

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Ella foi até os aposentos de Severo de forma discreta, pois não tinha nenhuma intenção de ser vista pelos alunos, ainda mais considerando que Harry Potter estava por lá, e era melhor para o garoto manter distância dela e de seus problemas.

Ela sentou-se na poltrona próxima à lareira, observando a sala escura e levemente opressiva. As sombras dançavam nas paredes, refletindo o humor sombrio que era assinatura de Severo. Ela aguardou em silêncio, sabendo que ele logo retornaria.

Severo entrou em seu quarto, com a carranca ainda mais pronunciada do que o habitual, o rosto pálido como se ele tivesse acabado de duelar com um dementador. Ao ver Ella sentada na sua poltrona, sua expressão se suavizou.

- Peste, o que faz aqui? Pensei que estava evitando Dumbledore. - disse ele colocando um cálice vazio sobre a bancada onde ele preparava poções mais avançadas, longe do olhar dos alunos.

- Eu estava, mas você conhece Dumbledore, não é possível evita-lo por muito tempo. - contou ela de forma desinteressada.

- Sei... - assentiu Severo desconfiado, enquanto abria um armarinho e retirava um caldeirão fumegante de lá.

- Esse cheiro... É acônito? - disse ela se aproximando para olhar - vai envenenar alguém? - perguntou ela com um sorriso.

- É tentador, mas não faz meu estilo. - disse Severo aumentando o fogo abaixo do caldeirão.

Ella fez uma careta.
- Se não é para nada interessante, porque está fazendo essa poção escondido?

- Esta é a poção mata-cão, ingredientes valiosos desperdiçados com alguém não merece. - comentou Snape rabugento.

- Ah sim, o novo professor é um lobisomem, havia me esquecido desse detalhe. - comentou ela interessada na poção.

- Mexa a poção para mim, uma vez horário, 3 anti horário. - ordenou Severo enquanto abria a porta para seu estoque particular e verificava um cálice ainda cheio que estava lá dentro.

- Algum problema? - perguntou ela mexendo a poção.

- Como sempre sou o único que parece ser responsável nesse lugar. - reclamou ele.

- Por qual razão? - perguntou ela.

- O lobinho ainda não bebeu a poção dele de hoje, ele nem se importa com a segurança dos outros nesse castelo. - reclamou Severo parecendo irritado. - sempre tenho que lembrá-lo de tomar as doses, parece que ele fica satisfeito em me fazer de servo, o imbecil.

- Severo... Não fale assim. - repreendeu Ella encantando a concha para mexer a poção por ela. - você está sob muito estresse, porque não nos sentamos para uma bebida?

- Tenho de levar a poção para o maldito lobo, antes que seja tarde. - praguejou Severo impaciente.

- Ainda tem tempo, está cedo, ele vai vir buscar. - ponderou ela pegando Severo pelo braço e o fazendo se sentar. - Olhe, eu trouxe uma garrafa de absinto, amargo como você. - disse ela conjurando uma garrafa com uma bebida verde.

- Você quem fez? - perguntou Severo avaliando a garrafa sem rótulo.

- Óbvio. - disse ela conjurando dois copos.

- Então aceito uma dose, ou duas - disse ele mais descontraído, embora ainda parecesse raivoso.

Ambos beberam colocando a conversa em dia, e também acrescentando os acontecimentos recentes. Ella contou que havia deixado Émilie Roux careca e cheia de pústulas, e Severo levado pelo álcool riu maldosamente.
Severo parecia entediado relatando sua vida nos últimos meses, e Ella ficou triste ao perceber que ele não era feliz sendo professor, ele tinha um grande talento, e muito potencial, mas como cometeu erros no passado, sua cina era viver enterrado naquela escola, ensinado uma matéria que os alunos não valorizavam, lidando com colegas que apenas o aturavam sem gostar realmente dele, e sem nenhuma oportunidade de lazer, nem amigos com quem conversar.

- Eu não imaginava que sua vida fosse tão triste. - comentou ela decepcionada. - não me impressiona que seja tão amargo.

- Minha vida não é mais tão triste assim, eu tenho você não tenho? - comentou ele com seriedade.

- Tem - concordou ela com um sorriso emocionado.

- Te ver feliz e livre, me deixa satisfeito, e para mim isso basta. - disse ele dando de ombros.

Ella estava afetada pela bebida, Severo havia bebido dois copos, enquanto ela havia bebido a garrafa inteira e mais metade de outra, e envolvida pela conversa e as emoções sinceras tratadas ali ela sentiu que devia ser sincera com Severo, como ele estava sendo com ela.

Ela olhou para Severo com os olhos suplicantes.
- Preciso confessar algo que fiz. - disse ela colocando o copo de lado.

Severo a encarou com atenção.
- Azarou algum desavisado? - disse ele tentando adivinhar.

- Não, é bem pior... - comentou ela escondendo o rosto nas mãos.

Severo ficou confuso, ele tocou de leve os cabelos dela, a fazendo olhar para ele.
- Pode confiar em mim, nada que tenha feito, por mais terrível que seja, pode me afastar de você, somos família, e nos apoiaremos sempre.

Ella respirou fundo, parecendo uma criança que foi pega fazendo uma travessura.
- Eu... Bem, depois que conversamos da última vez, sobre o Potter e seus amigos, lembra-se?

Severo apertou os olhos desconfiado.
- Sim...

- Bom, eu achei que não fazia sentido Sirius ser um comensal da morte, e fui investigar sozinha. Manipulei o ministro e entramos em Askaban, lá eu dei uma desbaratinada e conversei com Black, antes dele fugir, é claro. - contou ela rapidamente com um olhar penoso de culpa.

Severo parecia ferver por dentro, sua boca se tornando uma linha fina e seu rosto ficando vermelho, ele engoliu em seco, mordendo os lábios e suspirando para controlar a raiva. E após alguns minutos em silêncio ele finalmente falou.
- Eu posso conviver com isso - assentiu ele a contragosto.

- Menos mal - disse ela aliviada, mas sua expressão dando lugar a tensão. - porque tem uma coisinha a mais.

Severo bufou.
- Você não ajudou Black a...

- Não não, fique tranquilo, não cometi nenhum crime, posso te garantir. - tranquilizou ela rapidamente.

Severo pensou por alguns segundos, e então abriu um sorriso maldoso.
- Me diga que você matou Black a caminho daqui? Nada me deixaria mais satisfeito e...

- Não! - garantiu ela impaciente. - não o vi depois que ele fugiu de Askaban.

- Pelas barbas de Merlim desembucha logo que já perdendo a paciência. - reclamou Severo irritadiço.

- Eu meio que... Bem não foi uma escolha minha, mas eu tampouco reagi realmente... - tagarelou ela temerosa.

- Diga logo - disse Severo de forma ameaçadora.

- Eu... Beijei Sirius na prisão... Mas foi meio ele quem me puxou para o beijo, e eu só não... Não o afastei sabe, porque eu meio que... Gostei. - revelou ela envergonhada e falando rápido para não precisar se demorar naquelas memórias.

Severo ficou paralisado com a boca aberta em um "O" de supresa. Saindo do transe ele começou a respirar com dificuldade, fazendo uma careta mortal, ainda sentado ele apenas apontou a varinha para uma estante de livros e a reduziu a poeira com uma explosão controlada, depois ficou encarando o nada como se estivesse catatônico e furioso ao mesmo tempo.
Ele ficou longos minutos parado ali sem dizer uma palavra sequer, sem olhar para ela. Era visível que estava chocado, decepcionado, e muito muito irritado com a situação.

Até que ele se levantou espanando sua capa com uma tranquilidade que ele estava longe de sentir.
- Você fica aqui, levarei a poção até o maldito lobo, e quando eu voltar nós conversamos. - ordenou ele com a voz firme e Ella não teve coragem de responder. Apenas assentiu de olhos fechados, ouvindo ele sair e bater a porta com tanta força que fez eco pelos corredores das masmorras.

A Princesa Mestiça e a Ordem da FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora