Capítulo 134 - Preço da Magia

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Os dias passavam, e a chuva se transformava em neve, trazendo um vento gelado do norte. O Natal se aproximava rapidamente, e era impressionante como o tempo parecia escorrer por entre os dedos.

Maylos ainda não tivera a conversa que tanto queria com Ella. Seus deveres como protetor das florestas da Albânia o mantinham ocupado, e, quando se encontravam, Ella sempre evitava o assunto. Ele lhe dera tempo o suficiente para lidar com seus próprios sentimentos, mas agora estava claro que ela tinha escolhido seu próprio caminho.

No dia 20 de dezembro, ao chegar na casa, Maylos notou mais uma vez a ausência de Ella. Sírius, com sua expressão curiosa e um tanto confusa, lhe contou que a mãe saía de madrugada, quase todos os dias, e ficava fora por algumas horas, mas que os elfos cuidavam dele quando ele acordava, e que logo ela chegava.
Esse tempo não parecia suficiente para o pequeno sentir falta da mãe, mas era o bastante para levantar suspeitas sobre os motivos de suas saídas.

Às cinco da manhã, Ella retornou. Suas botas estavam sujas de lama, e um corte fino marcava sua bochecha. Quando ela avistou Maylos, hesitou brevemente, escondendo algo que trazia na mão.

- Maylos? Que surpresa... - comentou ela, despreocupada, embora um cansaço fosse perceptível em sua voz. - Faz uma semana que não o vejo.

- Talvez porque você nunca está aqui quando eu venho - respondeu Maylos com calma, mas sem esconder a reprovação, ele se sentou na poltrona e apontou para o que ela havia escondido, com um olhar indagador.

Ella suspirou, deixando de lado as tentativas de fingir que não era óbvio.
- Certo, vou falar logo - disse ela pegando algo de dentro do bolso da capa e jogando sobre a mesa à sua frente.

Maylos olhou o objeto com interesse. Uma taça dourada, que irradiava uma leve aura sinistra.
- Magia negra - observou ele, depois de alguns segundos de análise.

- Não é tão maligna quanto eu esperava, mas já é um começo - disse Ella, retirando a capa e se jogando no sofá, exausta.

- Por que está atrás de artefatos impregnados com magia das trevas? - questionou Maylos, sem desviar o olhar da taça.

Ella desviou os olhos, fixando-os em suas próprias mãos. Após um breve momento de hesitação, ela se virou e conjurou sua varinha, guardando a capa no armário.

Maylos observava com atenção, sentindo que havia algo mais profundo no que ela estava prestes a revelar.

- Ainda está em busca das horcruxes ou está querendo drenar magia negra desses objetos? - perguntou ele, com cuidado nas palavras.

Ella fez uma careta.
- Bem que eu gostaria - respondeu ela, com um sorriso amargo. - Veja o que acontece quando tento drenar algo.

Ella pegou a taça se concentrando, e uma fumaça densa começou a sair do objeto, enredando seus dedos. A magia negra parecia se infiltrar em suas veias, tingindo sua pele com um tom sombrio. Por um breve momento, parecia que Ella estava absorvendo o poder, mas então seu corpo resplandeceu e a taça se desfez em fuligem.

Maylos riu, mas seu olhar era atento.
- Seu lado anhangá está cada vez mais evidente, enquanto seu lado racional busca o poder, sua alma rejeita o que é maligno - comentou ele com um sorriso triunfante surgindo em seus lábios.

- Pois é... - murmurou ela encostando-se no sofá com um olhar de resignação. - Achei que era minha varinha que rejeitava a magia negra, mas sou eu mesma. E com um movimento displicente, conjurou uma garrafa de hidromel e bebeu longamente, sem sequer oferecer a Maylos.

- Isso já era esperado, quase óbvio. Mas se não consegue drenar a magia e se não são horcruxes, por que continuar caçando esses artefatos? - perguntou ele observando que ela parecia desconfortável com a direção da conversa.

Ella olhou para a garrafa por um instante, como se quisesse ganhar tempo antes de responder.
- Digamos que... estou ajudando um amigo - disse ela, sem entusiasmo.

- Dumbledore? - arriscou Maylos, já compreendendo o que Ella hesitava em admitir.

- Aquele velho caduco colocou um anel amaldiçoado no dedo sem pensar duas vezes, e agora está condenado à morte - respondeu ela, com um sorriso triste. - Só estou tentando lhe dar mais tempo, ele anda visitando locais onde Riddle escondeu uma coleção intrigante de artefatos malditos, eu só estou indo antes dele e retiro de circulação itens que podem destruir outras vidas, ou anéis que podem atrair a atenção de um velho sentimental.

Maylos ficou em silêncio por um instante, assimilando as palavras.
- Você o ama, é compreensível que queira protegê-lo mesmo depois... de tudo. Então isso significa que desistiu de buscar por poder? - perguntou ele esperançoso.

Ella balançou a cabeça.
- Eu percebi que abraçar as trevas não é o caminho para mim, já que sou incompatível com esse ramo da magia, mas ainda posso alcançar meus objetivos... de outro jeito.

- E o que pretende ? - perguntou Maylos, agora mais atento, percebendo que ela finalmente estava disposta a falar abertamente.

Ella tomou um longo gole de seu hidromel antes de responder.
- Riddle está atrás de lugares com concentrações de magia antiga. Estou me adiantando, localizando essas fontes e absorvendo o que posso, antes que ele ou Carrow os encontrem.

Maylos, pela primeira vez, pareceu preocupado.
- Ella, seu corpo é parcialmente humano. Você pode sucumbir ao excesso de poder e acabar se destruindo, ou pior se deslumbrando com a própria força, e se esquecendo de quem realmente é.

Ella revirou os olhos
- Não pretendo ficar com o poder depois que eu atingir meus objetivos. Sírius me deixou, e agora Dumbledore vai me deixar também, meu filho precisa de segurança, Carrow quer ele, e Riddle é uma ameaça a nós dois no momento. Preciso ter as armas certas para combater fogo com fogo.

- E se você não suportar o poder? E se morrer? - questionou Maylos, fixando seu olhar nela. 

Ella estreitou os olhos, séria.
- Não vou falhar. - disse ela com simplicidade e confiança.

Maylos abriu a boca para responder, mas fechou logo em seguida. Ele sabia que não seria fácil convencê-la. Ella conjurou outra garrafa e tomou um longo gole, o silêncio entre eles pesando.
- Suas intenções são boas, mas seus métodos... - começou Maylos, escolhendo suas palavras com cuidado. - Não são os mais prudentes. Os humanos estão em guerra, e entendo que se sente sozinha e queira proteger Sírius de tudo isso. Mas eu já fui jovem como você um dia, e cometi erros catastróficos com boas intenções, e não vou deixar que você siga o mesmo caminho.

Ella ergueu uma sobrancelha, curiosa.
- E o que você poderia fazer para me impedir?

Maylos sorriu gentilmente.
- Tenho quase mil anos, Ella, e acredite, não vou te impedir de conseguir o que quer, por que sei que não adiantaria, mas se me permitir, te ensinarei a não cometer os mesmos erros que cometi, e a não perder o que eu perdi, te ensinarei o que ninguém me ensinou quando cobiçei o que não estava pronto para obter.

Ella franziu o cenho.
- O que não estava pronto para obter?

- A magia antiga não se resume a apenas poder, mas nela está contido os segredos da vida e da morte. Se sua mente não estiver apta, você não poderá se controlar, e pode até enlouquecer. - explicou Maylos com uma expressão nostálgica.

- E como aprendo a controlar isso? - perguntou ela intrigada.

- Começa com o aprendizado das leis da magia primordial dos seres vivos - disse Maylos, de forma enigmática.

- As leis de Gamp? - perguntou ela descrente.

Maylos sorriu o olhar carregado de uma sabedoria antiga
- Não, a lei da natureza, toda magia tem um preço. - disse ele num suspiro carregado de subentendidos.

A Princesa Mestiça e a Ordem da FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora