Capítulo 29 - Confidências

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- Severo, preciso que reúna a ordem da fênix, acredito que Alastor precisará de reforços. Pode fazer isso? - perguntou Dumbledore com os olhos faiscantes. Severo o encarou por alguns segundos, e assentiu.

- Cuide da pestinha, não a deixe ser imprudente. - disse Severo olhando de relance para Ella, mas mantendo sua pose elegante e fria.

- Cuidarei, fique em paz. - disse Dumbledore o dispensando. - Sente-se senhorita Prince - disse sorrindo.

- O que quer Dumbledore? - perguntou ela sem rodeios, observando Severo sair.

- Ella, eu queria te deixar a vontade, para aproveitar seus dias em Hogwarts, se acalmar e poder lidar com seus traumas e problemas de família, e nesses dias vi que você contou com a ajuda dos centauros para curar seus ferimentos, vi também que você e Severo estão sendo cordiais um com o outro, e você se acostumou com seus dias aqui, eu adoraria lhe dar mais tempo de tranquilidade e paz. Mas chegamos num momento em que preciso entender o que houve com seu passado, preciso entender quem é você, e como foi sua ligação com Voldemort. - disse Dumbledore ainda sentado em sua mesa, com uma expressão determinada e serena.

- Eu imaginei que diria isso, você quer que ver minhas memórias na penseira e quer que eu lhe acompanhe para se certificar do que sinto ao reviver tais momentos. - respondeu ela com perspicácia.

- Exatamente. - sorriu o diretor cordialmente.

- Lhe darei as informações que quer, mas antes quero entender algo, e se não me disser, não lhe darei a informação que quer, e seguiremos separadamente o caminho para derrotar Tom Riddle. - Ella apertou os olhos em direção a Dumbledore que permaneceu sereno.

- É justo, conhecimento em troca de conhecimento, o que quer entender Ella? - disse ele prestando atenção.

- Quero saber o porque sente tanta culpa. Desde o momento que entrou no bar naquele dia eu vi em você os sentimentos conflitantes, nojo de si mesmo, tristeza, desejo de redenção, mágoa... De início pensei que você não havia perdoado alguém que lhe fez mal, mas depois percebi que você não perdoou a si mesmo. - disse Ella num tom acusador, Dumbledore retirou os óculos e massageou a testa, ele parecia mais velho e cansado do que nunca.

- Ella... Eu entendo você, e eu não vou mentir dizendo que não cultivo tais sentimentos, mas é um assunto pessoal, íntimo, talvez deixemos para outra ocasião. - disse o diretor com honestidade e dignidade.

- Faremos uma troca então, vou revelar um segredo, e depois se você se sentir a vontade, me conta sobre esses sentimentos, pois só assim poderei confiar em você. - disse Ella num tom persuasivo, fazendo Dumbledore rir.

- Não posso te prometer nada Ella, mas se estiver disposta me conte, e prometo que contarei tudo o que você precisa saber. - Dumbledore sorriu amigavelmente, embora no fundo seus sentimentos se conflitassem, o que Ella disse era verdade, ele sentia culpa, e aquilo lhe trouxe lembranças que ele preferia não ter, e ao mesmo tempo ele precisava se lembrar, para que nunca cometesse aquele erro novamente.

- Muito político você Alvo Dumbledore, mas você não consegue evitar de sentir, e suas emoções são cristalinas como água límpida, você não consegue esconder como Snape, eu te leio tão claramente como leio os pergaminhos na sua mesa. - disse Ella com serenidade, mas com os olhos frios.

Ambos ficaram em silêncio por alguns minutos, Dumbledore contemplou a luz de uma vela por algum tempo antes de dizer por fim.
- Eu cometi alguns erros no passado, eu era jovem e estúpido, fiquei deslumbrado pelo poder, fiz coisas que não me orgulho. Hoje em dia aceito com prazer ser diretor de Hogwarts e passar meus dias ensinando, do que aceitar algum cargo no governo por exemplo e me deixar ser seduzido novamente por aquilo foi minha ruína. - uma lágrima brincou nos olhos do diretor, que disfarçou elegantemente se levantando e indo até a janela observar o dia ensolarado.

Ella ficou em silêncio olhando para as próprias mãos, a dor de Dumbledore era uma emoção tão forte naquele momento que a sensação poderia se tornar palpável. Ela se arrependeu de ter o pressionado a dizer, toda aquela dor, tanta tristeza, não são sentimentos que deveriam ser relembrados.

Ela respirou fundo e soltou a informação de uma só vez, esperando que aquele assunto pudesse desviar a atenção de Dumbledore de tamanha dor.
- Tom Riddle fez uma horcrux, antes eu pensei que havia apenas tentado e falhado, mas após minha visão tive certeza.

Ella estava certa, Dumbledore se virou com uma expressão de puro assombro,
ele se aproximou da estante de livros lentamente, absorvendo a revelação de Ella aos poucos, então abriu alguns livros aleatórios e os folheou murmurando palavras desconexas sozinho. Após alguns minutos, seu olhar, antes surpreso, agora era mais concentrado e pensativo.

- Uma Horcrux... - murmurou ele, mais para si mesmo do que para Ella. - Sempre suspeitei, mas nunca tive certeza. As lembranças que reuni ao longo dos anos... - ele pausou, como se estivesse revendo cada detalhe em sua mente. - As conversas com Tom Riddle, a obsessão dele por objetos de poder... eu tinha um palpite de que ele teria ido ainda mais fundo nas trevas.

Ella observou a mudança na expressão de Dumbledore, percebendo que sua revelação havia confirmado suas suspeitas.

- Você sabe algo mais? Talvez qual seja o objeto que contém tal magia negra? - perguntou Dumbledore se sentando de volta em sua mesa, com voz calma mas cheia de urgência.

Ella balançou a cabeça lentamente.

- Assim como o senhor eu tenho um palpite, mas posso investigar melhor, irei até os centauros pela manhã, e usando das ervas e rituais deles, talvez eu possa me guiar até a horcrux. - disse ela pensativa.

Dumbledore assentiu, apreciando a prontidão de Ella.

- Isso será de grande ajuda. Mas agora, você precisa descansar. - disse ele, sua voz voltando a um tom mais suave.
Ele se levantou, indicando que a reunião estava chegando ao fim. - Há muito a ponderar, e precisamos de nossas forças.

Ella, no entanto, não se moveu.

- Dumbledore, há algo ainda mais terrível que preciso contar. - disse ela, sua voz baixando para um sussurro intenso. - Mas isso só pode ser dito depois que você ver todas as memórias que lhe dei no frasco.

Dumbledore parou, sua expressão se tornando novamente grave e atenta.

- Algo mais terrível? - repetiu ele, os olhos fixos em Ella.

Ella assentiu, seu olhar sério e determinado.

- Sim, mas você precisa conhecer minha trajetória antes, ver o que eu vi, saber o que eu sei, só assim poderá compreender o porque é tão terrível.

Dumbledore respirou fundo, o peso das palavras de Ella se assentando sobre ele. Ele sabia que, qualquer que fosse essa revelação, seria crucial para a luta contra Voldemort.

- Muito bem, Ella. Vou ver as memórias assim que possível, primeiramente vamos resolver os problemas ligados a Carrow e Olho-Tonto, e então verei suas lembranças, e lhe chamarei quando terminar para discutirmos o que você tem a me contar, mas vamos fazer uma coisa de cada vez. - disse ele, sua voz firme mas cheia de uma nova tensão.

Ella assentiu, sentindo a importância do momento. Ela se levantou, pronta para deixar o escritório de Dumbledore, sabendo que as próximas horas seriam cruciais para o futuro de todos eles.

- Estarei pronta para quando precisar de mim Dumbledore. - ela se virou e foi em direção a porta, mas Dumbledore a interrompeu ligeiramente.

- Ella? Pode me chamar de Alvo. - disse ele organizando alguns pergaminhos e escrevendo rapidamente no rodapé de outro.

- Vou treinar no clube de duelos se precisar de mim, me avise se tiver notícias de Olho-Tonto e Snape. - disse ela, antes de sair do escritório, deixando Dumbledore perdido com seus pensamentos.

A Princesa Mestiça e a Ordem da FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora