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Toda vez que aparecia um palhaço, o Guilhermo apertava mais a minha mão e a sensação de choque invadia o meu corpo. Deu pena dele, cara. Ele não conseguia rir nem das partes engraçadas que não envolviam palhaços. A Carol estava mais relaxada, se bem que com o Pedro, quem não ficaria?
Aproximadamente uma hora depois a apresentação acabou e saímos para comer.
-Eu nunca, nunca mesmo, vou no circo de novo. -Guilhermo disse alterando o tom de voz. Os meninos riram dele. -A Elena sabe o que eu passei.
-Enfretar nossos medos é mais difícil do que parece, parça. -Caminhamos até uma lanchonete e pedimos alguns hambúrgueres.
Todos terminaram de comer bem rápido, mas eu fiquei enrolando e mastigava milhares de vezes o mesmo pedaço só para adiar a minha ida para casa. O Guilhermo percebeu. 

-Não vai adiantar você enrolar, eu tenho a noite toda. -Ele sussurrou no meu ouvido.

-Eu gostei muito das atrações. Vou ver se meus pais me trazem aqui de novo com a minha irmã. -Milena falou.

-Gente, mudando completamente de assunto. -O Rafael começou a falar. -Semana que vem já é a última semana de aula. A nossa viagem para Natal já está bem próxima, já se acertaram com os pais de vocês? -O pessoal se entreolhou por um tempo e todo mundo concordou. Lembro que meu pai foi o primeiro a topar, já que ele deixeu antes do Arthur sair do coma. 

-Não quero nem pensar nessa viajem. -O Guilhermo falou meio triste, o que abalou a felicidade de todos. 

-Pera lá! A gente se divertiu muito essa noite... -A Carol e o Guilhermo olharam para o Caio que dava o discurso dele. -Bom, em parte nos divertimos muito, não vamos deixar o futuro estragar nosso presente. 

-O Caio tem razão! -O Igor falou olhando a hora no celular. -Da tempo de ir para uma baladinha, alguém fecha comigo? -O Caio, o Paulo e o Igor toparam na hora e tendo o senso de percepção que eu tinha, os que não aceitaram, teria que ir (infelizmente) juntos para casa. 

Celeste e Rafael.

Arthur e Milena, Carol e Pedro.

Eu e o Guilhermo, que apesar de nos encaixarmos na minha frase, não erámos um casal. 

Me despedi de todos os meus amigos e fui, junto do Guilhermo, para  a maquina da morte dele, ou popularmente chamada de moto. Ele percebeu meu nervosismo, mas como um bom amigo não riu ou zombou de mim, assim como não zombei dele. 

-Você não precisa fazer isso se não quiser. -Ele falou me entregando um capacete e subindo na moto. 

-Eu quero. -Falei subindo na moto. Fiquei meio desconfortavel em o segurar pela cintura, mas o mesmo segurou os meus braços e enroscou em sua cintura. Deixei minha cabeça repousar em suas costas. Meu coração batia forte e, com toda certeza, a taxa de adrenalina no meu corpo estava altíssima. 

Ele deu a partida na moto. Eu o segurei forte, fechei os olhos e prendi minha respiração. Nos primeiros minutos pensei no meu primo e em uma moto sendo arrastada pela estrada, mas com o passar do tempo que eu ia afastando meus pensamentos ruins, percebi que andar de moto não era tão ruim assim. 

-Vamos passar na sorveteria? -Guilhermo gritou para mim, para que eu pudesse ouvir. 

Como haviámos acabado de comer, sabia que não era fome e que ele tinha vontade de falar sobre algo sério comigo, provavelmente sobre a partida dele para a Itália. Sei que ele ficou mal lá no circo com isso e sei que isso é algo que contantemente o atormenta. Por mais que ele tenha passado apenas um ano aqui, ele conseguiu construir amizades verdadeiras, achou pessoas que de fato se importam com o seu bem estar e até achou uma paixão, embora eu não saiba quem é. 

-Sim. 

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