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Não posso dizer que o final de semana chegou rápido, mas posso dizer que tivemos algumas poucas boas notícias. A Milena teve uma melhora repentina assim que viu o Rafael bem e acordado. A Celeste saiu no hospital no dia seguinte que chegou e o Rafael saiu ontem, sexta-feira. Os pais do Rafael não o obrigaram a voltar para o Rio, mas também não foram para casa, eles alugaram um quarto no hotel e ficariam lá até nossa viagem acabar.
No sábado de manhã eu, a Carol, o Guilhermo e o Pedro fomos conversar com o Rafael em particular no quarto dele. Não sei o que ele disse, mas conseguiu tirar a Celeste do quarto.
-E ai cara, como você está ? -O Guilhermo perguntou.
-Eu estou bem. -A cirurgia que ele passou no meio da semana foi um sucesso e ele vai ter uma boa recuperação. Ele não vai poder fazer muito esforço, mas pode sair para andar com a gente pela cidade e podemos nos divertir sem fazer uma grande bagunça. -Mas vocês podem ir direto ao ponto. -Ele disse forçando uma risada.
-Por que escondeu da gente? -O Pedro perguntou indo bem direto ao ponto.
-Pedro! -A Carol deu um tapa no braço dele.
-Relaxa Carol. Já acostumei com a sensibilidade do Pedro. -O Rafael falou rindo. Apesar do Pedro ser desse jeito ogro dele, sei que ele se importa com o Rafael. -Eu não queria que vocês me olhassem com pena e achassem que eu sou de vidro.
-Não te olharíamos assim. -A Carol falou.
-Olhariam sim. Eu cheguei a ir em uma psicóloga e até ela me olhava com pena... Eu só queria ser um adolescente normal.
O Pedro sentou ao lado do Rafael na cama e nós sentamos também.
-Você é um adolescente normal, Rafa. -Eu falei.
-Eu consegui ser até agora e espero que vocês não me olhem com pena.
-Não vamos. -Nós quatro falamos juntos.
-Fico feliz em saber disso.
-Mas , cara, o que você vai fazer em relação aos outros? -O Guilhermo perguntou.
-Eu já pensei nisso há muito tempo... Quando eu sentir que estou prestes a morrer, eu vou falar para todo mundo que vou viajar com meus pais para a Itália e quando eu morrer, meus pais vão falar que foi um acidente de carro. -Tá que eu não concordei com a escolha do Rafael, mas eu sabia que independente do que eu falasse, nada mudaria a escolha dele. Se ele vive há anos com essa doença, é certo que ele já deve ter pensado em tudo e nada vai mudar essa decisão dele. Porém, ao contrário de mim, meus amigos foram argumentar. 
-Você não pode fazer isso com seus amigos e com a Celeste. -A Carol falou.

-Não, o que eu não posso fazer é contar para eles agora. O que eles vão achar de mim? Que eu não confio neles o bastante? E a Celeste, ela nunca seria capaz de me perdoar por esconder isso dela.
-Isso é loucura. -O Pedro disse. 
-Gente, é uma escolha do Rafael, não podemos nos meter. -Falei. -Ela não queria que ninguém soubesse e apesar de eu achar isso horrível e ter me sentido muito mal e triste, a escolha continua sendo dele. 
-Eu só não quero aceitar que vamos te perder. -A Carol falou tentando se manter forte para não chorar na frente do Rafa. 


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