62.

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Um menininho apareceu na sala. Senti meu coração apertar ao ver o menino, ele usa aquele tanque de oxígênio para respirar, seu tom de pele é um branco pálido, seus cabelos já não existiam mais e como se não bastasse, ele estava muito magrinho. 

Porém, apesar de tudo, estava com um grande sorriso no rosto, o que me fez sorrir também. 

-Ela é a menina que você falou, mamãe? -Ele perguntou olhando para a nossa mãe. 

-É uma das, eu te contei que eram duas. -A minha mãe e o menininho me olharam, sabia que era hora de falar algo. Me aproximei do menino e me ajoelhei para ficar a sua altura. 

-Oi garotão! -Forcei uma voz empolgada. -Fiquei sabendo que vai ficar por aqui! Espero que goste da casa. 

-Ela é linda, bem mais bonita do que a que eu morava. -Ele disse, aparentemente encantado.

-A é? E qual é seu nome? 

-Arthur e o seu? -Olhei para a minha mãe e a mesma deu de ombros.

-Elena. -Voltei a olhar para o Arthur. -Você sabia que meu melhor amigo tem o mesmo nome que o seu? -Encostei meu dedo no queixo dele, o que o fez dar uma risadinha. -Ele vai adorar te conhecer. 

-Sério? Quando? -Ele perguntou todo animado, mas logo sua empolgação passou e ele conseguiu ficar mais pálido do que já era. Olhei para a minha mãe e ela já puxava uma cadeira para ele sentar. Meu pai foi pegar um copo de água na cozinha. 

-Amanhã. Você está livre? -Ele pensou por um instante. 

-Sim. -Disse animado. Segundos depois, meu pai entregou um copo d'água para ele. 

-Vamos para o quarto, Arthur? Está na hora de dormir. -Me segurei para não olhar o relógio. 

O Arthur assentiu e caminhou com dificuldade até o quarto. A minha mãe o acompanhou, segurando o carrinho de oxigênio. 

-Quantos anos ele tem? -Perguntei com a voz falhada. 

-11 anos. -Meu pai disse suspirando. Ele sentou no sofá e passou as mãos no cabelo. 

Sentei ao lado dele e o abracei. 

-Não quero você a trantando mal, pelo bem daquele menino e trate de falar com sua irmã para fazer o mesmo. -Ele levantou do sofá, como se nada tivesse acontecido, mas no fundo eu sabia que ele estava destruído por dois motivos; a ex-mulher dele ter aparecido pedindo casa, mas principalmente, pelo Arthur. -Preciso voltar para o trabalho. -Meu pai caminhou para a saída.

-Você já vai? -Minha mãe perguntou aparecendo na sala.

-Sim, preciso trabalhar. Qualquer coisa você sabe o meu número. -Ele disse e saiu de casa.

-Então fi... -Estiquei a mãe para ela e a mesma parou de falar.

-Nem tenta. Gostei do Arthur, ele parece ser um menino incrível e, se você permitir, eu vou me aproximar dele, mas é só isso, o passado continua intacto. 

-Ok. -Ela me olhou triste. -Claro que eu permito, ele precisa de amigos.

-Ótimo. Hoje não vou estar em casa, mas amanhã vou trazer o meu Arthur para ficar com a gente. Acho que você sabe que vai ser mais difícil manter a Carol por aqui. -Ela assentiu. Não me senti obrigada a falar mais nada e achei que seria uma boa hora para a minha saída marcante. 

Caminhei sem rumo pelas ruas, pensando no Arthur, meu meio irmão e em tudo que ele vinha enfrentando, e quando percebi, o meu "sem rumo" me levava para a casa do Guilhermo. Continuei caminhando, sem pensar na possibilidade dele não estar em casa. De algum jeito, eu tinha certeza que ele estaria lá. 


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