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A segunda se arrastou e a terça também. Na quarta eu já estava um pouco melhor e pronta para voltar a minha vida. A Carol não precisou da terça para conseguir sair de casa e se encontrar com o povo, mas eu precisei de mais um dia para pensar no meu falecido irmão. Mas querendo ou não, eu precisava voltar para a vida. Precisava sair com meus amigos e, principalmente, precisava conversar com Guilhermo que vai embora em dois dias. 

Acordei na quarta com a Carol me chamando. 

-Papai quer conversar com a gente sobre o que nossa mãe. -A Carol revirou os olhos. 

-Bom dia para você também. -Coloquei o edredom na cara. Minha irmã pulou em cima de mim e me fez cócegas. Comecei a rir e a rolei para baixo de mim. Foi a minha vez de fazer cócegas nela, que, por sua vez, também riu. Parei de fazer cócegas e nos olhamos. 

-Você ter brigado com o Arthur no início do ano passado foi a melhor coisa que aconteceu. -Ela sorriu para mim. Sei que na época eu fiquei um caco por ter brigado com ele, mas até que foi bom, eu me aproximei da minha irmã de uma forma que eu achei, por anos, ser impossível e até fiz vários amigos. No fim das contas, até voltei a falar com o Arthur. 

-Eu sei... Eu te amo Carol. -Dei um beijo estalado na bochecha dela.

-Eu também te amo Elena. -Ela retribuiu o beijo. -Agora vamos. -Ela bateu na minha bunda e eu saí de cima dela. Fiz minha higiene bem rápido e fui para sala de estar, onde meus pais e minha irmã estavam sentados. 

-Bom dia. -Falei sentando ao lado da Carol. 

-Bom dia filha. -Meu pai falou. Olhei para a minha mãe e vi que sua aparência física, de segunda para hoje, havia piorado muito. Seus olhos estavam fundos e pretos, seu cabelo estava um emaranhado só e seu rosto inchado de tanto chorar. 

-Podemos ir direto ao ponto? -A Carol falou. Meu pai suspirou.

-Bom meninas, como sabem, o namorado/marido, sei lá, da mãe de vocês foi embora e ela veio ficar com a gente por causa do Arthur. -Minha mãe fez uma careta ao ter o nome do filho mencionado. - Eu disse que ela poderia ficar aqui o tempo que precisasse para cuidar dele e agora... Bom... Agora fica a critério de vocês se querem a mãe de vocês por perto... -Ele queria falar mais coisas, mas ficou receioso de falar na frente dela, então parou de falar e esperou pela nossa resposta.

Deixando todo o assunto Arthur de lado, essa mulher, vulgo minha mãe, nunca fez nada pela nossa família, nunca demonstrou sentir afeto e nem carinho. Os motivos que uniu a gente foi impactante e triste. Eu amei o pequeno Arthur no tempo que ele morou com a gente, sei que foi amor e não pena. Mas agora que o que nos unia partiu, acho que seja hora dela partir também. A vida real não é como nos filmes que segundas chances dão em árvores que a mãe some por anos e depois aparece tendo o perdão dos filhos como se nada tivesse acontecido. O mundo real é duro e cruel e sei que não consigo esquecer e nem apagar o passado. Infelizmente, também acho que não existe um futuro que eu imagine essa mulher em minha vida. 

-Olha... -Parei de falar em busca das palavras certas. 

-Quero que ela parta. -A Carol falou curta e grossa. Vi o corpo da minha mãe se contrair, como se tivesse levado um soco ou um tiro. 

Meu pai olhou sério para a minha irmã. 

-Elena? -Ele me olhou. 


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