Capitulo Cinco - O Tempo Imperdoável

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(...)

Horas se passaram. Atarefaram-se, tempo esse a dedicarem aos afazeres da rotina; Typson com sua plantação, a alimentação dos animais, o reparar das falhas na cerca ou mesmo em casa; Ana com a comida e o trabalho de fabricação de mais louças de barro e outros utensílios.

Quando o acabaram, trocaram-se.

Ana, nunca largando seu velho vestido que um dia fora azul, o remodelara ao seu tamanho, com as mesmas - quase incolores - rosas amarelas costuradas a mão. Seu cabelo, como de costume, não se era penteado diariamente, tornando-se um emaranhado de fios ruivos, dando-a uma singular beleza natural. Calçara sandálias de tiras a pôr um cinto marrom entrançado a mão. Enquanto para Typson, sua calça escura, as botas longas, o velho gibão e camisa cinza eram mais que o suficiente.

A caminho da mesa, Typson pegou uma maçã a esperar sua por irmã, girando a fruta em mãos em uma distração sem significado. Mordeu a fruta. Estava por terminar quando Ana saiu do quarto de sua mãe. Desde que melhoraram o casebre, fora decidido que deveriam ter um quarto para cada. Plano audacioso a princípio, mas que futuramente resultou em um benefício. Os quartos eram vizinhos. O primeiro era o de Typson, o do meio à oficina de trabalho de sua mãe e o último o de Ana e Atícia, pois as duas dormiam no mesmo lugar em camas separadas. Cada aposento fora construído na face esquerda da casa - dependendo do ponto de vista - onde na reforma aumentaram o lado direito, sumindo com o corredor, criando um "L" espelhado da entrada para os fundos.

O sol estava à vista, e apesar de o frio continuar carregado pelo vento do Norte, era um clima ameno em relação aos dias que se passaram. Quando Ana se declarou pronta, Typson não conseguira entender a razão da sua persistência em tal vestido e muito menos com o frio considerável que fazia afora.

- Como consegues sair assim? - Perguntara uma vez em situação semelhante.

Ana, com um sorriso astuto, respondera com uma indiferença humorizada:

- Não tenho culpa se tens pele de uma criancinha. - Saía rindo, fugindo de seu irmão, escapando das cócegas, quintal afora.

Os irmãos preparavam-se para vender seus grãos. Ana os organizava uns sobre os outros para, junto a Typson, carregá-los para fora, para a velha carroça, em seu pequeno estábulo ao lado da casa. Ele fixara os sacos firmemente com a grossa corda de lã, verificando todas as rodas e apoios, pois se soltavam facilmente com grandes trepidações, sendo esse um exemplo passado.

Muitos meses atrás, enquanto Typson dirigia-se até o mercado a vender não apenas grãos, ladrilhos como de costume estavam em falta. No imprevisto, como consequência, uma das rodas com o balançar soltara-se e tal como um espirro pulou por toda ladeira abaixo passando e desviando pelas pessoas, surtindo ao longe somente os gritos e ares de surpresas. Quando finalmente ouviu o som de jarros quebrando, infelizmente para Typson fora exatamente na loja da Sra. Strink; uma mulher mal-humorada, provavelmente insana. Esse não fora seu melhor dia, desejando assim que jamais ocorresse outra vez. Por isso sempre verificava as amarrações, rodas e apoios.

Com todos os precavidos, iniciaram a partida, com Ana ao seu lado apontando com sutileza, procurando as ruas mais ladrilhadas, evitando buracos e a multidão. A cautela custava muito tempo, e o mercado estava perto do fim. À noite, apesar dos anos de paz, ainda era temida, e antes do último raiar, as ruas assobiam com o solitário vento noturno. Typson sabia que precisava chegar a tempo, sabendo que amanhã não haveria comércio. Uma velha comemoração englobaria todo o dia.

Após desvios e distrações, finalmente chegaram a tempo ao alarido local; um lugar vivo e cheio das mais variáveis mercadorias e sons. Todos da Cidadela vinham admirar e comprar de suas diversidades. Era um lugar especial que fazia com que qualquer mente se despreocupasse - ao menos temporariamente - de qualquer problema. As tendas armadas encantavam ao longe por possuir grande variedade de cores, alguma nunca visto, ocupando por completo todo o Rossio.

A Jornada de um Assistente e a Esfera da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora