(...)
Ao iniciar uma busca entre os compartimentos que havia em sua escrivaninha, Alorry puxava e abria gavetas um por uma, vasculhando cada canto a procura de algo importante. Não tardou em encontrar o que queria, soltando a conhecida inspiração de quem acha o que estava perdido. Com um pouco de esforço, o velho pôs sobre seu escrínio um bloco retangular muito pesado envolto por um tecido azul-escuro. Os jovens estavam unos ao móvel quando o ancião repousou sua mão no objeto, a tamborilar seus dedos cansadamente sobre.
– Bem, crianças... sem dúvidas devem conhecer com precisão e clareza a história de nossa humilde Cidadela e, obviamente, conhecem como os guerreiros derrotaram as Trevas e a paz pairou sobre nós?
Responderam positivamente.
– Excelente. Pouparam-me de uma longa introdução. – Sorriu derreado.
O ancião aprumou seu bordão em mão, com a direita sobre o objeto retangular. As pedras cintilaram. O senhor respirou fortemente.
– Precisam saber que existe certo período de nossa história que pouquíssimos conhecem. – Prosseguiu, longevo. – Tempo esse antes da morte de Alfred, um pouco depois da construção do muro, num preciso tempo no fim das décadas douradas onde a juventude repousava plena nos Grandes Guerreiros.
Dera uma pequena pausa. Saíra detrás da escrivaninha para a pequena mesa, servindo-se do chá que próprio oferecera. Retornou a sua cadeira com a xícara em mãos, prosseguindo logo após o primeiro gole.
– Nas décadas de ouro – assim como foi nomeada – todos viviam com harmonia e segurança, protegidos pelo muro e pela recente Esfera obtida. Os guerreiros visaram projetos colossais, construindo famílias, negócios... E assim seguiu-se por muitos outros anos e tudo ocorria bem. Nunca faltava a verdadeira necessidade, pois a nossa terra era altamente generosa em fertilidade. A Cidadela vivia em paz. – Respirou. – Mas, infelizmente para nós, essa serenidade não durou muito tempo. – A voz embargou-se. – No trigésimo quarto ano dos anos dourados, ocorrera uma coisa um tanto... inesperada. Ou melhor, um acidente terrível.
Suspirara lentamente. Beberica mais que uma vez seu chá. Continuou a narrar, agora em um tom obscuro.
– Houve uma morte.
Os jovens permaneceram parados, olhos fixos, atentos às palavras do senhor. As pedras pulsavam de acordo com o interesse.
– Um homem foi encontrado morto na floresta mais ao Norte, não muito longe. – Revelou. – Ninguém o reconhecia, razão por estar terrivelmente disforme. Tal homem sofrera um ataque brutal; a face e partes do corpo não mais existiam depois do acontecimento. Um assassínio. Uma obra das repugnantes... Sombras.
Pausou mais um a vez. Tomara mais três goles para prosseguir.
– Essa ocorrência abalou o povoado, tanto quanto aos Guerreiros e em especial a Alfred. Ele sabia que esse acontecido não era natural, principalmente tão perto da Esfera; fato esse o fez pesquisar o porquê da morte do desconhecido e solicitar ajuda a seus companheiros para o auxiliar da melhor forma possível. Fato que, independentemente dos esforços que realizaram, tamanha incidência caiu no esquecimento ante a demora de respostas. Alfred, por sua vez, permanecia firme na sua busca mesmo após o ignorar de seus irmãos. Não muito tempo havia se passado quando o segundo inverno chegou acompanhado por outro assassinato.
Sua voz esmoreceu. Bebericou tantas vezes o chá que o som começara a irritar Typson pela frequência.
– Desta vez não fora semelhante. – Continuou. – O corpo foi encontrado no Grande Portão do Sul... Um corpo de uma mulher de cabelos vermelhos... uma jovem mãe. Essa mulher encontrava-se na mesma posição que a do homem desfigurado, os mesmos profundos ferimentos. Mulher essa que, ao contrário do antigo corpo, não estava irreconhecível e, ao contrário do antigo corpo, essa mulher era amada por muitos na Cidadela. Mulher essa conhecida e zelosa aos três Grandes Guerreiros... Mulher essa que era amada a uma forma descometida... amada por um homem... amada por um guerreiro...
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Jornada de um Assistente e a Esfera da Lua
PertualanganNada inicia-se sem uma perturbação. Do que você seria capaz caso perdesse parte do que ama e tudo que tivesse como esperança fosse uma lenda antiga esquecida por muitos? Um jovem chamado Typson encontra-se numa situação semelhante, juntamente a Anab...