Capítulo Seis - Herôon

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(...)

Partindo de seu pé esquerdo, a tábua que o sustentava gemeu em pressão. A madeira torcia-se, afundava, estralava de podridão. Typson por instantes clamou que não quebrasse, tampouco pelos ferimentos, mas por sua mãe, pois de nada contente ficaria ao ver um buraco em seu ofício. E assim ficou. A cada vez que tentava colocar o vaso no chão, a madeira rangia ameaçadoramente, forçando-o sustentar o insuportável peso na esperança de retorno de sua irmã, que essa não aparecia.

– Ana. Ana! – Tentou gritar, mas sua voz não passou de um gemido. – Meu orgulho não é... tão forte quanto imaginei.

Suava. A parede estava muito longe para numa tentativa de apoio, e não havia nenhum outro móvel ou objeto que pudesse ajudá-lo. Então, com um longo suspiro, decidira arriscar dar um passo, ignorando os sinais, implorando para não acontecer o pior. Apoiou seu pé ao exato momento em que conseguira confiança de seguir em frente. Mas, para infelicidade de Typson, o previsto aconteceu; o chão se partiu. Crash. Sentiu seu pé atravessar o nada, e nada esse que engolira toda sua perna. Mais que a metade de sua coxa estava agora dentro de um buraco abafado no centro do ofício de sua mãe.

Durante o susto largara o vaso, tal esse que rolou em círculos parando apenas ao encostar-se à parede. Typson ouviu o tinido soar na colisão, aliviando-se por nada de grave acontecer com a mercadoria. Respirou. Sentiu que sua perna ardia em alguns cantos, e ao retirá-la visualizou os machucados surtindo-se com a dor pelo esfriar do sangue. Nada de muito grave, não passavam de cortes – uns na panturrilha, dois no joelho e leves escoriações na coxa – Arranhões apenas, mas que ardiam com vontade.

Ao ver que o vaso em nada fora danificado, voltou-se para o buraco, pensando no que faria. Deitou-se ao nível do chão, enfiando seu braço na frecha perfeitamente retangular, apalpando em busca das partes resultantes da quebra. Sentiu algo macio. Enrugou seu cenho. Retirou seu braço e o colocou de novo. Em resultado, não encontrou as partes quebradas, mas ela inteira. Trouxe para luz o pedaço de tábua onde se encaixava perfeitamente na falha do chão. Estava exatamente como antes.

– Mas como... – Falou aproximando-se da tábua, limpando-a com mão, soprando em sua superfície a fim de tirá-la o pó.

Ao abaixar da poeira, pôde então observar que ali se conservava um emblema, um suposto desenho em baixo relevo.

Era a Lua. Com seu sorriso crescente, as extremidades quase se tocavam, pois, intercalando-se entre as duas, um círculo menor estadeava. Da própria Lua se lançava riscos, simbolizando na madeira raios prateados das quais jorravam brilho no círculo menor como uma direção final. No total eram quatro linhas, quatro riscos.

Constatou-se da solidez. Verificado que tal não cederia, pusera-se de pé. Limpou a poeira vermelha de suas roupas, analisando seus ferimentos. Percebeu a aproximação de sua irmã fitando-o assustada, observando imediatamente seus cortes.

– O que, pela Esfera, aconteceu aqui!?

– Caí, apenas. – Respondeu acidamente.

– Você está vermelho. – Riu.

– Disse-te que caí. – Esclareceu aborrecido. – Tropecei. Poeira. Barro. Minha cara no chão e... – Espirrou.

– Saúde. – Dissera automaticamente. – E... está tudo bem?

– Estou bem. Tenho uns arranhões e...

– Referi-me ao vaso. – Caminhara célere ao objeto a um ar preocupante.

– Acabei de me espatifar no chão por causa desse vaso idiota. – Dissera espalhafatoso. – Veja quanto sangue!

– Em você o arranhão sara. – Conferiu o vaso, ignorando seu irmão. – No vaso, não.

A Jornada de um Assistente e a Esfera da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora