Capítulo Dezenove - O Livro e o Cofre

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Em cada um de nós há um segredo, uma paisagem interior com planícies invioláveis, vales de silêncio e paraísos secretos.

Antoine de Saint-Exupéry


Os dias se passaram estagnados ao tempo. Praticamente. Uma boa parte de Typson desconfiava que algum efeito externo, além da chuva, estivesse exercendo o estranho retardar do fluxo dos segundos. Irritava-se. Ciente estava do resultado da peculiar ilusão, mas não se continha; toda a sua energia concentrava-se em amaldiçoar a água que caía sem parar.

Foram dias difíceis de maçantes leituras poeirentas juntamente à Razi, Ana e Helena; todos partilhando da tamanha infelicidade. Devoraram o viam: papiros, livros, pergaminhos, blocos de rocha, tudo que mencionasse o nome de algum dos guerreiros, mas nada encontraram de grande relevância. Meia-noite o Solstício estaria em seu auge e tampouco sabia-se onde encontrar o último objeto ou o cofre mal mencionado. Um sentimento de fracasso corrompia os jovens, em principal à Typson.

- Vejo que se interessaram fervorosamente na leitura durantes esses seis dias. - Comentara o chefe do conselho. - Haveria uma busca em especial? Eu poderia ajudá-los, é claro, se quiserem.

Rapidamente o quarteto respondera negativamente.

- Bem... aproveitem a busca. - Alargara um sorriso cansado. - Descobrirão coisas fantásticas nestas folhas, meus filhos. É doloroso saber que tão poucos apreciem esta arte de aprendizado. Existe tanto a se saber. Exemplifiquem-se com a Srta. Remanob e com o meu... bem, apenas não deixem essa energia repentina apaziguar muito cedo.

Distanciara-se a cantarolar uma melodia suave.

A Contenda sempre se finalizava no Solstício na passagem do dia. Era comum observar o céu depois da comemoração, onde todos sentavam-se nas ruas e assistiam o resplandecer das estrelas enquanto ouviam melodias serem tocadas e hinos louvados em caloroso uníssono. Muitos casais, na juventude do amor latente, utilizavam a ocasião para firmarem o fiel compromisso com um longo beijo sincero. Dormiriam tarde, e na mesma madrugada ninguém trabalharia na simples continuação do festejo de longos dois dias extasiantes. Esse não seria um ano diferente; a chuva não impedirá. A única infelicidade seria apenas pelo desaparecer da Lua e de seu raro tamanho colossal. Muitos ainda rogavam para o céu, esperando o momento certo da verdadeira revelação.

Um fluxo incrível de pessoas se alinhava, amontoando-se em direção a pequena casa torta. Ritmos desencadeavam-se aos pés de grupos barulhentos. Muitos dançavam, outros cortejavam enquanto o desprezo risonho das mulheres superava as palavras despojadas. O bom humor superava a chuva sucessiva; e a jovialidade das gargalhadas, os trovões ensurdecedores. Era impressionante como centenas de homens e mulheres entravam por uma minúscula porta, não havendo oposições. Estavam sorrindo, sempre sorrindo, mesmo que por uma única noite.

Entre os demais, quatro jovens não compartilhavam do entusiasmo, não completamente. As cabeças pesavam doloridas tal como o corpo exaurido e fadigado. Typson, Anabell, Razi e Helena assistiam a felicidade inocente dos assistentes a passos curtos, caminhando para o subsolo, seguidamente para a Torre.

Já era muito tarde. A Contenda havia começado e Typson e Razi não participariam devido a eliminação sofrida durante a semana decorrida. Razi perdera para Anabell, enquanto Typson para Will no dia que iniciara. Admitiam na alma o orgulho e a frustração, sendo esses respectivamente substituídos um pelo outro conforme presenciavam a última batalha de duas jovens que conheciam muitíssimo bem. Helena e Anabell acirravam-se numa disputa elementar calorosa, onde ambas se atritavam ao nível do fulgor encorajado de uma parte da alma onde poucos conseguiam administrar. Era o calor do momento, literalmente.

A Jornada de um Assistente e a Esfera da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora