Capítulo Onze - O Caldeirão de Clyddno Eiddyn

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(...)


Ao movimento, o grande mago erguera sua cadeira sem o mínimo de esforço a uma distância de pura observação, aprumando a pesada vestimenta e seu negro pequeno enrugado chapéu pontudo inclinado e que nunca insinuava deslize. Typson respirara fundo a fitar-se no fundo da ala oval da suposta casa do mago. "E como ele é idêntico a mim!" – Pensou e estremeceu.

Fora ao singelo gesto de Merlino que a réplica pisara forte no chão e retumbara em palavras uma pura e poderosa fúria.

Viribus directam!

De imediato Typson tomara posição, mas ao ver a onda de energia que se jogava contra ele, simplesmente as palavras lhe faltaram e toda aquela poderosa carga atingira-o, impelindo-o bruscamente contra a porta de madeira. O som de algo a ser quebrado viera junto ao impacto.

– Foi disto que fui duplicado? – Ironizara a réplica.

– Eu... ouvi isso! – Gemeu ao momento em que o mago o erguia. – Acho que quebrei algo, senhor.

– Sim. Por sorte apenas a minha amada porta. Já você?

– Acho que meu corpo me odeia. Tudo está doendo e eu não o vejo bem. – Sorrira. – Desculpe-me.

– É melhor você ir. – Disse o mago rispidamente. – Esta dor passará. Quero que volte pelo caminho que fez e esqueça...

– O quê!? – Typson prostrara-se mais firmemente de pé. – Não me mandarás embora, não? – A pedra vermelha iluminara seu peito.

– Acredito que seja demais para você. Está claro que não conseguirá. Isso foi uma perda de tempo.

– Ah! – Sorrira Typson desdenhosamente irritado. – Não partirei enquanto não estilhaçar em pedaços esse vidro de segunda mão.

– Estás certo disso, assistente? Não é vergonha alguma...

– É vergonha sim e não me iluda, senhor Merlino Ambrósio. – Respondera Typson a submeter-se a mesma posição.

– Pois bem. – Permitira o mago. – Lembre-se que a raiva não um bom aquiritivo para motivação.

– Eu não preciso disto! – Exclamara. – Apenas...

– Typson Matteric! – Reverberara em palavras e brilho o grande homem. – Não me trate como tolo, portador! Eu vejo o que há em teu jovem coração! Ouça as minhas palavras e permita o fluir desta raiva. Não apenas esta raiva mesquinha de teu adversário, mas a raiva dos anos que se passaram. Concentre-se no que farás e nisto unicamente. – Enfatizara as últimas palavras com suas mãos aos ombros do jovem, a sacudi-lo levemente. – Foque nas palavras que sei que conheces bem. Respire, feche os olhos e sinta verdadeiramente pela primeira vez em tua vida a responsabilidade que tu carregas.

E Typson respirou, inflando seus peitos lentamente, soltando o ar em seguida na mesma lentidão. Fitou seu adversário e esperou até que o próprio dirigisse a ele a mesma energia. Desta vez não houvera colisão alguma, pois ao momento certo as palavras certas foram mencionadas.

– Interfeciat! – Pronunciara Typson ao auge de sua concentração.

E o semelhante acontecera. Uma esfera a cor de sua pedra o envolveu protegendo-o do ataque a uma maneira extremamente brusca que fizera suas pernas tremerem como a segurar algo de demasiado peso. Passado à investida, ambas as reações desvaneceram e ambos os reflexos se entreolharam por alguns segundos. Sua cópia, por um breve segundo, demonstrara uma reação diferente ao da raiva, assim como o grande mago com seu sorriso de admiração.

– Formidável! – Falou o grande homem exercendo uma pausa em cada sílaba. – Acredito que não terei grandes dificuldades contigo, assistente. Aprendes muito rápido.

Typson não contivera seu sorriso de orgulho.

– Assim como a defesa é imprescindível, o ataque deve complementar o arsenal deste mesmo indivíduo.

– O senhor deseja que a ação se reverta?

– Exato. – Repousara a mão no ombro do jovem para então se sentar e observar.

– Não sei se estou muito certo de que conseguirei, senhor. Defender-se é uma coisa, mas atacar...

– Não existe mais segredo. – Aliviou o senhor. – Apenas introduza sua concentração a algo com maior poder de dano.

Sem mais instruções, o mago dera pura liberdade no que se devia fazer. Typson apenas respirava em concentração quando estranhamente a voz de sua réplica repercutiu.

Hostem repellas!

Algo circulara a cópia de Typson, uma energia transparente que em caminho colidira-se ao portador, empurrando-o novamente contra a porta, rachando-a consideravelmente pela segunda colisão.

– Mas, o quê!? – Disse Merlino e Typson em espantoso uníssono. – Isso não é... – Continuara o mago logo interrompido pelo erguer enraivecido de Typson.

– Oh, maldito! Maldito seja eu e este meu lado desprezível. – Vociferara para a sua duplicata que em resposta apenas sorria desdenhosamente. – Ora, seu...

Em algum momento Merlino alarmara, ou gritara para não continuar com algo que Typson não escutou. Neste intermédio, original e duplicata confrontaram-se com ambos a dizer a menção em comum:

Hostem repellas!

Infelizmente, Typson não sabia das consequências que sofreria depois. Sob a influência da palavra, as energias se encontraram em pleno ar numa poderosa e estrondeante colisão trovejante, iniciando uma feroz rotação em seu próprio eixo a uma velocidade que a compactava, aos segundos que se passavam, a um tamanho cada vez menor. Entrelaçavam-se, repudiavam-se loucamente chegando ao tamanho que não mais encolhiam e, a partir desta limitação, começaram a vibrar perigosamente. O grande mago, deslumbrado pela magnífica dança das potências, apenas olhou para Typson dizendo-lhe uma única palavra:

– Proteja-se.

Imediatamente, barreiras foram conjuradas; e quando uma ínfima ideia começou a cogitar que nada aconteceria, por fim, veio a forte explosão surda.

Typson não se lembrou dos acontecimentos que transcorreram posteriormente e, quando acordou, fora em sua cama, espantado a ponto de perguntar onde o mago estava. Decerto que ninguém o respondera, pois, ao apurar da audição, ouvia-se apenas o suave ronco proveniente do quarto de sua irmã. Procurou por alguma luz, mas a única que havia era a da lua crescente ao lado de fora da casa.

Em silêncio ficou, paralisado e confuso, pondo em ordem o que lhe parecia ser sensato. Ao se analisar, descobriu estar chamuscado por uma fuligem escura. Metade de seu cabelo estava irisado e imundo por um pó negro. Ao se mexer para retirar as vestimentas, um som característico o chamara atenção no cinto que segurava suas calças. Era um pequeno pedaço de pergaminho amarelado, porém novo e com escrita recente. A caligrafia era evidente. Leu:

Talvez teu ódio não seja um sentimento muito obediente. Continuaremos amanhã. Explicar-lhe-ei essa observação.

P.S.: Tome um bom banho.

Merlino Ambrósio

Typson sorrira com nunca. Durante seu demorando e gélido banho, continuou a sorrir e mesmo a rir em certos momentos sequer sabendo como defini-los. Era unicamente uma boa sensação no peito, algo que o deixara leve, tão leve que juraria flutuar.

Ao se enxugar, enxergou inúmeros furos em sua roupa. Pensava apenas do falatório que sua mãe faria, mas tão pouco o incomodava. Não notara o quão estava cansado ao se esquentar em sua cama, adormecendo com a lua a sorrir-lhe no canto superior de sua janela. Sim, esta noite ele a deixaria aberta. Apreciaria melhor os elementos deste dia em diante. Nesta noite dormiria feliz, ele sabia.Finalmente uma noite em que teria sonhos bons e que no momento em que acordasse no outro dia não mais os lembrariam, mas um sorriso estaria estampado em seu rosto pelo conforto de um bom sono, finalmente. 

A Jornada de um Assistente e a Esfera da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora