Capítulo Vinte - Solstício de Inverno

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O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer.

Albert Einstein




As palavras soavam como um sino a badalar. "Irmãos de coração", dissera Anabell durante o abraço. Elas se repetiam enquanto corria, cujo mecanismo Typson utilizava como ânimo ao seu objetivo perante o túnel a percorrer. Como estaria em superfície? Haveria o Solstício começado? E como saberia? No fundo angustiava-se com interrogações que tentava barrar a todo custo. Esforçava-se em manter o controle mesmo ciente que lutava contra o curso de um rio. A preocupação do atraso, do perdido e da falha o fazia correr mais e mais.

Typson não conseguia ignorar o pesar das pernas. "O que carrego para resultar tamanho peso? Seria a minha vestimenta? O meu capote? Ou seria estes objetos? Realizo demasiado esforço em qual razão? Por amor? Obediência? Por glória? Responsabilidade? Ou por mim? Será tudo uma grande mentira? Estaria apenas delirando, sujeitando a vida de meus amigos? ", questionava-se, parando, olhando a sua volta, para o fogo e para as chaves que carregava. "Seria tão fácil deixá-los aqui... e esquecer tudo. Fingir que nada existiu. Nada. Voltar para minha antiga vida em que era verdadeiramente feliz", olhara para a escuridão, para o chão, para a rocha e pedra. Um vermelho pulsou perto do coração e Typson repousou a sua mão sobre o calor que carregava durante cinco anos. "A melancolia é o pior mal na solidão", pensou incorporando melhor a sua labareda, semicerrando os olhos, acelerando os passos.

"Bum" este fora o estrondo repercutido pelas paredes, peculiar expansão cujo som carregava consigo o "m" da palavra representada. Imaginou-se o que seria, mas Typson conhecia-se o suficiente para não parar; sabia que ao se virar cometeria um erro com seus amigos em ajudá-los. Avançara sem olhar para trás. Chegado a uma determinada distância Typson pressentira a escura atmosfera do túnel tornar-se poderosa e densa o suficiente para desenvolver uma barreira contra a luz da chama em posse.

Foram inúmeras as vezes que perfurara o característico impedimento, sentido sempre uma sensação de intérmino a uma lembrança vaga. Apenas quando ouvira o estrondo outra vez que obtivera a frieza de olhar para trás. Para surpresa, pouco havia se avançado. De alguma forma o túnel trouxera-o para o começo, pois se via a luz rósea clarear parte das paredes arqueadas e o grunhir do monstro a se fortalecer.

Ao degustar o gosto rançoso da raiva, Typson fechara os punhos e o cenho, movimentando os lábios com paulatina ira, pronunciando em seguida uma encantar conhecido. Mas não houvera efeito. A parede escura continuava intacta e passiva. Rosnara outra palavra; nada acontecera. Sentira-se um tolo ao descobrir o que realmente deveria dizer.

– Permissão. – Pedira expirando o ódio.

Concedida. – Respondera ao mesmo tom a sussurrante voz masculina.

Dissipado a barreira, Typson engolira em seco quando visualizara-se na beira de um precipício. Uma pequena parte cedera aos pés, desaparecendo em queda por uma fenda sem fim. Não houvera o som do impacto. Havia no fundo, ao cerrar dos olhos, uma fraca luminescência nublada por alguns cristais que cresciam, distantes. Uma enorme falha escondida sob o solo.

Aos passos dados em retorno pela surpresa, Typson, com peculiar cautela, enxergara a extremidade oposta do abismo e nesta visualização enxergara algo ao lado.

A palavra "ponte", no conceito comum, é tudo que serve de ligação ou comunicação. O que se revelava metros à esquerda poderia ser definido com qualquer outra coisa, menos com essa característica. Estava evidente o tempo passado e a sua influência nas placas de madeira e na corda podre e gasta que a constituía. Vislumbrava-se a qualidade em seu feito, mas nada como os anos para degradar cada fibra em conjunto.

A Jornada de um Assistente e a Esfera da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora