Capítulo Doze - Não muito longe

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(...)



Fato que não mais chovia. Certamente que o tempo ameaçaria castigar um pouco mais a terra encharcada com tombas impetuosas de água, mas não agora. As nuvens situavam plenas no céu, portadas de um cinza quase negro. O sol não passava se uma sombra branca enevoada entre as falhas das nuvens.

E por aquela terra ela caminhou.

O cheiro do solo não era como imaginado. A mesma estava negra, suja por dejetos no sentido mais tosco de "animais". Mesmo com uma correnteza ao cento da rua lamacenta, a fetidez caminhava junta a brisa, e aqueles que não se condicionavam ao cheiro de muito provável enojariam com tamanha imundice.

Por sobre as pedras ela caminhara. Como era estranho que no passar do tempo respectivo vilarejo tenha decaído para tamanho nível. Fato que nunca fora algo de demasiado excepcional, todavia nunca que restos seriam arremessados janela afora num movimento tão natural.

Ao chegar numa segunda rua relativamente limpa em comparação, barracas posicionavam-se a mostra. Vendiam frutas e animais abatidos quais as moscas tomavam posse num enxame de zumbidos.

Aproximando-se do primeiro mercador, perguntou:

– Olá. – Sorria docemente. – Maçãs, por favor.

– Bom dia. – Respondera o jovem a um tom desatento e irônico, ainda de costas a organizar galinhas mortas penduradas no sustentar da barraca. – A senhora ficará parada sem dizer o que quer? – Aprumara-se, juntando pedaços do animal num vasilhame escuro.

– Deverei repetir? – Retorquiu incomodada com aquele tom.

– Se for capaz. – Disse a se virar, estagnando-se ao mesmo instante a escancarar as esferas azuis em seu rosto flácido. – O que você faz aqui?

– Que tipo de pergunta é essa? – Recuou incompreendida.

– Você não pode andar aqui. Saia aqui! Saia daqui com estas suas... coisas!

– Amacie seu tom de voz, sua criança insolente! Tenho idade o suficiente de lhe dar uma boa lição! Agora, eu quero algumas maçãs, assim como qualquer pessoa compraria uma. – Aumentara o tom da voz pela irritação desrespeitosa.

– Não pactuamos com gentes do mais Norte. Agora, vá embora!

– Venderá nada com esta educação invejosa.

E retirara-se a pisar forte no chão. Talvez nunca tivesse reparado, mas hoje em especial tudo parecia um pouco diferente. Pares de olhos direcionavam-se a ela e a ela unicamente tal como um animal raro perante público ou um radical fora dos eixos e costumes sociais. A andar mais depressa, olhos a acompanhavam para onde ia aprisionando-a ao ar livre e perante o céu. Não paravam. E mesmo após sumir da singular rua, pessoas que saíam de suas casas iniciaram um macabro ritual de observação a um único e particular lugar: a mulher de posse da pedra arroxeada.

Ao longe, trovoadas repercutiam abafadas pela distância, anunciando um presságio das precipitações que viriam. Um vento forte do Leste a fez parar de andar com assustada velocidade, segurando seu capuz e se inclinar perante o vendaval. Ao erguer a cabeça contra o vento, não mais existia uma criatura viva em delimitações. Estava sozinha no vazio de uma rua penumbrosa.

"Onde estão todos?" – Pensara espantada. – "O que, pela santa estrela da manhã, está acontecendo com essa gente? Não estavam assim dias atrás. Ou mesmo durante minhas outras vindas".

A Jornada de um Assistente e a Esfera da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora