Capítulo Cinco - O Tempo Imperdoável

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(...)


Pela primeira vez venderam a cevada rapidamente. O sol demoraria a se pôr e poderiam aproveitar essas raras horas restantes para deitarem e dormir. Para a frustração de Typson, a bela moça desaparecera entre pessoas e tendas, e por mais que a procurasse, a sua capa vermelha ou mesmo seu rosto, não se revelara na multidão. Desistindo de caçá-la - algo que seria inútil - aproxima-se cada vez mais de sua carroça, triste por não saber nada sobre essa jovem misteriosa. Respirou fundo sabendo o que lhe viria, ignorando sua irmã.

- Correndo atrás de sua amada? - Ela o cutucou com o cotovelo - Hum? Hum?

- Calada, Ana! - Sorrira aborrecido.

- E como ela era?

- Não era. É linda.

Puseram-se de volta à casa com a carroça leve, em agradecimento ao Misto: o cavalo.

A carroça trepicava mais agora ausente da carga. Fora com o sumir da balbúrdia de vozes que uma em particular se destacou ao lado dos irmãos, acompanhando a velocidade da carroça.

- Uma ajuda, por misericórdia, a essa desafortunada alma faminta. - Aparecera um pedinte, uma criança surrada, porém corada, de bochechas gordas e olhos vivos.

- A reza é o melhor alimento para alma. - Dissera Ana sem lhe direcionar o olhar.

- Mas o corpo precisa de comida, minha querida e doce senhorita. - Respondera o pedinte em um ar de troça - E vejo que possuis belas moedas convosco.

- Vejo que és muito observador. - Ponderou Typson erguendo uma única sobrancelha ao garoto - Não estás gordo demais para uma alma faminta?

- Um dia, senhor, a comida acaba e a fome abate. Todavia, sou mais esperto...

Dito isso o garoto saltou como um gato, puxando da cinta de Ana, fugindo mercado adentro, um saco de moedas a chacoalhar.

- Sua criança miserável. - E ambos desataram a correr para o Rossio, entre os labirintos de tendas e pessoas, seguindo o jovem ladrão de cabelo acinzentado.

Aquela criança corria. A grossa capa marrom do ladrãozinho assobiava tal qual a velocidade que impulsionava. Era ágil, mas os irmãos não perderam a vivacidade de quando crianças. Eles foram os mais rápidos de todo o vilarejo, onde programavam corridas entre as ruas lamacentas, provando entre os demais um respeito a impor, um orgulho e satisfação entre os mesmos, sabendo quão tolos pareciam. Fora-lhes útil esse tempo de agilidade, pois, ao contrário, já o teriam perdido entre o aglomerado de pessoas e sons.

A disputa estava acirrada. Ana, como sempre a mais veloz, adquirira distância com seu cabelo a ondular no ar como um fogo selvagem da qual ganhava liberdade. Ela estava a alcançá-lo e Typson sabia disto, tendo assim de usar a cabeça ao em vez da agilidade. Percebendo o rumo da fuga, tal jogara-se por debaixo de uma tenda aproveitando sua própria rápida deslocação, escorregando para exatamente onde ladrão passava, o derrubando com suas pernas, junto ao dinheiro, o segurando em seguida para não o deixar escapar. O pequeno saco voou longe parando aos pés de outra criança que evidentemente esperava seu colega de furto.

- Corre, Gidie! Corre! - Dissera o ladrão ao seu companheiro.

Assim, a outra criança, um tanto magra e de escura roupas esfarrapadas, pegara o saco de moedas e, tal como seu amigo, começara a correr sumindo entre o amontoado de pessoas. Antes que iniciassem a perseguição, Typson segurou firme o ladrãozinho pelo pulso, quase o erguendo, a raiva a brotar-lhe na boca:

A Jornada de um Assistente e a Esfera da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora