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Typson disparou-se até a porta, abrindo-a e esbarrando-se a uma garota de mesma idade: doze anos. O cabelo ruivo lembrava uma grande esponja de cachos vermelhos, com fios a cair nos olhos com ela a soprar-lhes constantemente. O vestido, que um dia fora azul-escuro, desbotava-se ao branco como as flores amarelas costuradas a mão.
Em soma, grandes olhos amendoados davam-na uma expressão atenta e indolente, uma convicção do que seria sua personalidade. Por fim, as sardas deixavam-na com um aspecto ainda mais sapeca, pintinhas negras salpicadas no rosto arredondado.
– Por que demorou tanto? – Questionara a garota. – Eu tenho uma coisa importante a contar. – Segredou. – E eu estou com fome. É bom ter comida.
– Anabell!? – Chamara a mãe de Typson com o incorporar de sua voz nos fundos da casa – Venha cá, arrepiada.
– Sim, Sra. Atícia. – Respondeu a olhar para Typson com braveza e espanto, transmitindo apenas com aquela expressão o que acontecia. Typson unicamente dera os ombros observando o caminhar receoso da garota.
– Bom dia, senhorita. – Disse pomposamente Atícia, a repartir o pão e a passar um bocado de manteiga. – Já comeu?
Typson estava atrás da garota a empurrá-la quando ela respondeu:
– Bom dia, senhora. E sim, já comi, senhora. Não estou com fome.
Typson a olhou de relance. Atícia engolia o pão quando se virou para a menina com um olhar indagador e alegre.
– O que faz uma garota em minha casa numa hora como essa? Não há mais nada para você fazer? – Typson observou o quanto Anabell enrijeceu-se ante os olhos de sua mãe. Ela estava vidrada, estática.
– Não, senhora. Tudo já foi acabado. – Respondia rápida e orgulhosa, chocalhando a cabeça e a piscar. – Minha família acordou muito cedo hoje. É o dia especial do papai, por isso.
– Ele ainda com essa superstição... – Deliciava-se Atícia. – Mas, diga-me então uma coisa: cortar lenha durante a madrugada deixa a madeira realmente mais rentável?
– Apenas meu pai saberia responder. Eu acho que sim. Ele corta lenha deste que eu era pequena. Ele sabe como escolher as árvores e o tempo certo de cortá-las.
– Compreendo. – Expirara a estudar a garota. – E seu pai sabe que você está aqui?
– Sim, senhora.
– E quanto a sua mãe?
Na última pergunta, assentiu.
– Pois bem, então. – Suspirara – Vão aonde, posso saber?
Typson e Anabell entreolharam-se aos risos contidos. Atícia sorriu resoluta ao olhar das crianças.
– O que eu faço com vocês? – Suspirou satisfeita. – Vão. – Ordenara. – Não sei o que veem lá, mas podem ir.
Correram. Despediram-se abrindo a porta às pressas, atravessando a frente da casa aos saltos, percorrendo o caminho da porta de entrada até a estrada; um trajeto lamacento onde o capim não crescia pelo passar frequente da carroça e o pisar dos pés.
Juntos empurraram a porteira e juntos olharam para a casa, para o telhado de capim e madeira cujo pontiagudo teto de um dourado fosco pelo marrom da palha suja brilhava com o sol matutino, banhando-se em luz. Havia apenas uma porta e uma janela pequena, e a esquerda um celeiro velho onde criavam os animais a próprio sustento.
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A Jornada de um Assistente e a Esfera da Lua
AventuraNada inicia-se sem uma perturbação. Do que você seria capaz caso perdesse parte do que ama e tudo que tivesse como esperança fosse uma lenda antiga esquecida por muitos? Um jovem chamado Typson encontra-se numa situação semelhante, juntamente a Anab...