(...)
Logo um clarão irrompeu-se e Typson e Razi não mais se encontravam na floresta. Em seus lugares, apenas duas pequenas labaredas crepitavam solitárias na floresta, esmaecendo em seguida pela falta de qualquer combustível significativo.
Quem que fosse que estivesse a apreciar a vista nublada do céu noturno de algum lugar alto ou desprovido de barreiras, acreditaria fielmente que necessitariam de uma boa noite de sono, pois estes teriam visto um raio partir do chão direção as nuvens.
Typson ouviu o som de galhos a quebrar, o açoitar do vento contra o seu corpo, a energia que o envolvia, chispando, crepitando, ascendo juntamente a ele, elevando-o ausente de massa. Observou o diminuir da floresta aos seus pés, a imensidão do mundo mergulhada numa escuridão difusa, minúsculos; em especial a Cidadela. Era uma sensação de pura excitação e poder, nunca se sentira tão vivo. Typson elevava-se aos céus.
Tão rápido quando apareceu, a paisagem vanesceu-se num enevoar cinza escuro, camuflando a visão, limitando-se em brechas transitórias o espetáculo que se transcorria ao adentrarem no interior de uma grande nuvem. Typson podia sentir as lufadas do ar condensado em seu corpo envolto de energia. Mas ao esticar da mão, Razi alertou:
- Pare de se mexer! - A voz saia distorcida de seu corpo numa coloração esbranquiçada. - Segure o cordão! Não o solte por nada!
Dito isso, desaceleraram. Não mais estavam na nuvem. Typson pôde contemplar a grande lua crescente acompanhada de incontáveis cintilações com seus singulares tons. Um silêncio fora-se exigido por ninguém, pois o ambiente necessitava o que eles não podiam dar. Era uma quietude altamente penetrante, lugar onde o mundo respirava e dormia diante do eterno.
- E agora? - Typson notara que não mais aceleravam. - O que faremos?
Razi estava ao seu lado a flutuar por poucos segundos e, mesmo contaminado pelo desassossego, esse se dedicara a contemplar o que havia ao seu redor. O jovem, sem olhar para seu companheiro, puxou o cordão que os ligavam e enrolou-os melhor no pulso. Typson, ao ver o gesto, fizera semelhante.
- Agora, meu amigo, nós... caímos.
Se a mesma pessoa que vira o suposto raio brotar no solo, ouvisse os gritos de garotos se aproximando do céu em berros espavoríssemos, seria de muito provável que se autodiagnosticaria como um grande demente, um louco possuidor de um delírio poderoso causado por uma pancada ou uma refeição mal temperada.
- O que colocaste em minha comida, Maria? Tu tentaste me envenenar!? Pela santa Esfera, mulher! Traga-me algo para beber... Ah, devo estar a ver coisas.
De imediato tomaram no mesmo impulso que antes, fazendo com que a nuvem desaparecesse em distância, resultante da queda livre. As árvores cresciam junto a Cidadela de acordo com a aproximação e a cada segundo da intensa velocidade os detalhamentos se definiam para pavor de Typson. O que não passava de um círculo visto do alto não muito distante da base de uma montanha, agora se assemelhava a uma colossal boca escura no intuito de devorá-los.
As casas cresceram, as ruas enlanguesceram, e antes que tivessem a oportunidade de berrarem pela eminente colisão com ao solo, Typson e Razi viram-se de pé sobre o duro e frio paralelepípedo da rua que se dirigia ao grande portão do Sul, mas especificamente, perto da casa de Typson.
- E-eu... Estou vivo?! - Riu. - Vivo! - Apalpara-se. - Rá! Vivo, Razi! Entende o que isso quer dizer?
- Apenas uma viagem de volta, meu caro! - Suspirou olhando em volta. - Imaginei que pararia na minha casa e não na sua! Esse foi meu medo!
Typson dera a Razi um sorriso cansado, socando-o no ombro, depois apalpando seu próprio corpo em busca de alguma imperfeição. Olhou para o céu e percebeu que as nuvens se dissiparam. A lua revelou sua cálida face.
- FOGO! FOGO! FOGO! - Exclamou Razi.
- O que...!
- ÁGUA! FOGO! MINHA PERNA!
- Santa estrela! - Correu e ao retornar, Typson não teve dó; esvaziara toda água do balde em Razi, repensando, posteriormente, o exagero de sua parte diante urgência. "Deveria ter mirado somente no fogo" - pensou.
- Era apenas em minha perna! - Exclamou o rapaz a tomar-lhe o recipiente, enchendo-o em seguida numa rapidez que Typson desconheceu.
- Não faria isso, faria? - Sorriu Typson, séptico. - Razi?
Fora-se certo que Typson ensopara-se numa briga emaranhada dos dois ao chão, tão pouco raivosos, mas contentes. Typson não se lembrava da última vez em que rira tanto em sua vida.
Pararam com a briga aos sorrisos, sentando no chão de costas para a rua. Tomavam fôlego quando outra voz se destacara:
- Uma hora demasiada inoportuna para um banho, não, senhores? - Pigarreou. - Importuno-os em algo relevante?
Os dois pararam de respirar, girando em seus eixos, prostrando-se eretos logo após ouvirem o tom da voz. Observaram a figura oculta que em seguida deslizara seu capuz para trás.
- Tatimus. - Razi entrefechara os olhos. - O que fazes aqui?
- Não são vocês que fazem as perguntas, suponho. - Retrucou secamente. - Pois, ao que foi informado, ambos não deveriam sequer estar... - olhara para os lados - ...aqui.
Tatimus, após revelar suas mãos outrora escondida sob o capote que vestia, lentamente gesticulou para que se aproximassem entregando-lhes um pergaminho, onde pela aparência e cheiro não demonstrava qualquer uso.
- Eis uma notificação. - E ponderou por fim. - Referente aos dois. - Frisara.
Typson, ao segurar o pergaminho, notou, mesmo com a iluminação fraca, que a mão do antigo informante estava estranhamente uniforme, para não dizer deformada, mediante supostas queimaduras.
- O que houve convosco? - Perguntava fortuitamente. - Tenho ervas em minha casa que servem para queimaduras. - Dera-lhe donativo.
- Nada que o infrinja, portador. - Respondera acidamente após esconder sua mão outra vez. Ponderara alguns segundos para em seguida acrescentar: - Mas, obrigado pela preocupação.
Os jovens, no entanto, não retiraram suas expressões condolentes.
- Concentrem-se, garotos! - Alertara-os. - Agora vão! Os Anciões aguardam.
- Contastes o que fizemos? - Typson abriu melhor os olhos.
- Eu? - Riu brevemente. - De pouco há necessidade disso, Sr. Matteric. Eles já sabem. E deveria saber disto.
Suspiraram cansadamente. Razi e Typson se entreolharam pondo-se a caminhar.
Logo, Tatimus disse:
- Tiveram uma breve aventura lá fora, estou certo? - Sorrira maliciosamente. - Sugiro que andem, pois estão com sérios problemas.
E afastara-se sumindo na escuridão da rua acima, ainda a dizer:
-Eles não gostam de esperar.
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A Jornada de um Assistente e a Esfera da Lua
AdventureNada inicia-se sem uma perturbação. Do que você seria capaz caso perdesse parte do que ama e tudo que tivesse como esperança fosse uma lenda antiga esquecida por muitos? Um jovem chamado Typson encontra-se numa situação semelhante, juntamente a Anab...