(...)
Typson saía da cozinha quando decidiu voltar e pegar mais alguns biscoitos. Calçara suas botas e correu até a frondosa árvore, entregando os sapatos a Ana para após subirem pelas tábuas em uma sincronia.
– Por que demorou tanto? – Perguntara Ana enquanto subia, protegendo-se de um vento forte. – Ele falou alguma coisa a você?
– O que disse? – Gritou, a voz abafada pelo vendaval. – Segure-se.
– Estou bem segura. – Contestou a garota. – Ficaria melhor caso não engolisse terra de suas botas enquanto falo. – Typson riu, somente.
Quando subiram – com Typson a ajudá-la – sentaram-se e deitaram-se logo, sem se incomodarem com as folhas caídas alfinetando as costas. Um ou dois vendavais passaram, fortes, porém curtos, carregando consigo partículas de pó e folhas secas.
– Eu gostei da escultura do Sr. Lucvan. – Falara Anabell soando sem nenhuma admiração. – Ele é realmente talentoso.
– E um pouco estranho. – Acrescentara Typson a sorrir. Ana sorrira junto, a falar em seguida.
– O que ele te disse? – Abrira os olhos, curiosa.
– Fui eu que perguntei, na verdade. – Confessou. – Perguntei sobre aquele homem de madeira, o que acabei de mencionar.
– E o que há de especial? – Enviesara os lábios, desmerecida.
– O que há de especial!? – Repetiu, irônico. – Não ficastes curiosa? Não querias saber como ele fez aquele rosto só em ouvir uma história antiga? Pois eu fiquei.
– Pois eu não. – Respondera ela secamente. – É só um homem de madeira. Até formoso, não acha?
– Ele... tem rosto de homem. – Limitou-se a dizer isso. Não queria usar o nome "formoso" em relação a outro homem ou escultura. – Mas, o que quero dizer é: eu perguntei sobre esse homem e o Sr. Lucvan afirmou que nos contaria a história amanhã depois do almoço.
– Nos contará? – Ana pareceu surpresa – Difícil ele nos contar algo.
– E você irá? – Perguntara sentando-se.
– Não sejas um bobo. Não costumo perder uma boa história, Typson. Lembra-se da última que ele nos contou? Ainda imagino um urso branco e preto a me atacar caso olhar fixamente muito tempo para a floresta ao anoitecer.
– Isso foi invenção. – Cortou Typson pegando uma folha no ar esfarelando-a em mãos. Ana dera os ombros em um ar impassível.
– Mentira ou não, ele tem mais um dom entre muitos. – Ana fechara os olhos. – O Sr. Lucvan é um ótimo contador de histórias.
Assim ficaram por muitos, com a floresta a orquestrar na quietude.
Typson sempre gostou da casa na árvore. Parte pelo gosto de ter ajudado construí-la e ver cada parte da casa em sintonia de uma casa. Curioso como a madeira, outrora uniforme, tornava-se bela a um aspecto tão rústico e natural. As estrias em vários tons marrons, a firmeza de algo que fora apenas uma semente e que agora era tão dura quanto uma pedra qualquer recolhida do chão. Era-se seguro e confiável, além de temível e assustadora. Gostava da altura, a confiável, de como tudo parecia menor com a distância, do quanto o vilarejo era pequeno em relação a vastidão de terra pelo horizonte adiante. Um singelo grão marrom na imensidão verde da floresta. A notória vida do homem em terra.
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A Jornada de um Assistente e a Esfera da Lua
PertualanganNada inicia-se sem uma perturbação. Do que você seria capaz caso perdesse parte do que ama e tudo que tivesse como esperança fosse uma lenda antiga esquecida por muitos? Um jovem chamado Typson encontra-se numa situação semelhante, juntamente a Anab...