Capítulo Quatorze - A Voz de Outrora

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(...)


A velha aprumara-se na cadeira a se preparar na narrativa. Jogara o miolo de sua maçã pela janela da cozinha que se encontrava ao seu quintal desnudado.

– Curiosamente chovia da mesma maneira que choveu agora. – Iniciara em um tom de voz longínquo. – O tempo estava pesado e eu estava em minha cama quando ouvi baterem à porta. Quando eu a abri, o mesmo mago, que agora é seu tutor, estava em minha entrada com um corpo nos braços. Era uma mulher de pele fria, mas ainda viva! Logo fiz o que deveria ser feito é claro; mas, infelizmente, ela não sobreviveu.

A tampa da panela começara a sacudir, sinal que fizera com que a velha levantasse, pegasse a colher de madeira e provasse de sua sopa em uma expressão de aprovação. Jogado algumas pitadas de sal, e um tempero que Typson desconhecia, a velha mulher continuou a história a mexer a sopa com peculiar delicadeza.

– Nesse dia ocorreu um tremor na terra. Fiquei apavorara sem saber o que fazer. Minhas pernas tremiam como de um bebê molenga. Todas as minhas panelas e vasos se quebraram. Foi horrível, mas... isso não tem mais importância. O que realmente me assustou foi o horroroso estrondo vindo da montanha, aquela que vemos mais ao norte. Lembro-me que o inverno tirou todos das ruas e cobriu as casas com neve e gelo, assim como na montanha que estava branca como as nuvens em dias de verão. Bem, esse... "tremor no chão" fez com que toda essa neve descesse montanha abaixo... e acho que se tem um nome para isso... hum... Pois bem, foi entre a neve que encontram uma mulher e o homem já morto. – Respirara. – Dizem que eles apenas gostavam de subir a montanha para ver a paisagem, mas eu duvido disso. Eu tenho quase certeza de que eles procuravam alguma coisa lá em cima. Desfortunados foram pela avalanche furiosa. Oh, é esse o nome: avalanche. Que palavra estranha.

– Ainda não entendo. – Questionara-a, sincero.

– Graças ao Grande Ser que nada aconteceu a sua mãe. Mas, os ferimentos dela, os ferimentos de todos neste quarto são iguais ao do casal de anos e anos atrás. Igual ao da mulher que ajudei há muitos invernos atrás. – Ponderara a senhora. – Veja: Um braço quebrado, uma cabeça machucada e os ferimentos na pele são todos iguais. É como revivesse aquela cena horrível. – Cuspira a senhora.

– Mas, minha mãe ficará bem? Certo?

– Sim! Sim! Ela e todos estão ótimos. Um pouco fracos, mas ficarão bem. Nada de ruim lhes acontecerá enquanto ficarem sob este teto. – Sorrira a velha a tirar a sopa do fogo a apagar a lenha. – Está pronto. Quer comer agora?

– Sim. Claro. Estou faminto. – Assim a senhora despejara uma boa concha de sopa em um vasilhame de madeira a oferecer um pão velho da sua dispensa. Typson aceitara de bom grado. – Está ótima, Sra. Strink.

– Não beba como um animal! Acabará queimando a sua língua!

– Tarde demais. – Sorrira a refletir. – Sua história tive um final muito triste. – Admitira. – Por que me contou?

– Pela semelhança, eu acho. E pelo filho que deixaram para trás.

– E ele está vivo?

– E saudável, ou que se parece.

– Eu o conheço?

– A última notícia que tive foi de que ele ajudava seu avô na Biblioteca.

– Ajudava na Biblioteca? – Typson freou a colher que ia para sua boca. – Como assim?

– O que sei é que o garoto não estava sozinho, e para a sorte dele o seu avô era um membro importante do Conselho... quero dizer... ainda é. Hoje esse menino já é quase um homem, sinal da passagem de um simples informante a um futuro aprendiz dos Anciãos.

A Jornada de um Assistente e a Esfera da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora