Capítulo Vinte - Solstício de Inverno

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O corpo de Tatimus, assim como um fantoche, pendulava-se ao comando da esfera negra que jazia na ponta do cetro argênteo. O rosto da mulher estava a poucos centímetros do rosto adormecido e escoriado do jovem, posição da qual ela forçou-o curvar-se aos seus próprios lábios.

– Desperte! – E os olhos escuros abriram carregados por uma longa e dolorosa inspiração.

Minha... Senhora? – Arranhar Tatimus com sua voz embargada. – Isto é um sonho?

– Ah! – Disse ela. – Acredite, vassalo querido meu, isto não é um sonho. – Sua voz era suave, todavia impetuosa e vivaz. – Vejo-te com verdadeiros olhos meus. Respiro de teu ar outra vez mais.

– Funcionou.

– E agora quero o que me pertence. – Ordenara. – Onde a Esfera está, assistente?

Depois de uma pausa, respondeu-a:

– Eu estou ferido, Minha Senhora e... – o jovem balbuciava, desnorteado – ...cumpra tua palavra...

– Diga-me onde está! – Rosnara a Dama. – Fale-me!

– ... Foi o que ouvi... Eu o fiz... em tua promessa...

– A Esfera!

– ... E cumprir a palavra dada...

– Responda-me criatura estúpida!

– Eu quero a promessa, Dama. – Disse Tatimus às lágrimas, soluçando. – Não suporto, não mais. Não mais tamanha dor... suplico-te... por favor... por favor... Traga a minha mãe para mim. Prometeste que eu a veria! Que a teria novamente!

A Dama, que segurava seu centro solene, fechara melhor o punho aproximando um dos ouvidos do jovem a sua boca. Em poucas palavras, disse:

– E tu a verás como prometido. – Sibilou. – Minha palavra será cumprida.

Ao finalizar, voltando-se aos olhos do jovem contundido, a mulher soprara brandamente ao seu rosto largando-o em seguida como algo sem valor. Typson jamais esquecera a cena decorrida.

Tatimus caiu de bruços ao cessar de sua levitação, soerguendo-se depois com último e extremo esforço aos joelhos. Os ombros estavam caídos e os braços abatidos, mas sua anestesia suspendera-se ao grito de dor. O jovem se contorcia abraçando seu estômago na busca aclamada por ar e compaixão. Levantara-se desesperado compreendendo sua solidão. Correu alguns metros, aceleração que se retardou pela fraqueza e dor. Os músculos enrijeceram-se, o corpo não obedeceu. Subitamente, uma pontada fina imobilizou as pontas dos dedos ao ver que os próprios se tornavam rocha como em uma doença contagiosa. Tatimus previu o inevitável e não mais correu; ajoelhou-se em posição de remissão, enquanto Typson o ouvia chorar pedindo perdão, clamando pelo nome de sua mãe morta.

– Perdoe-me, mãe. – Erguera a cabeça em aceitação. – Eu errei convosco ao ofuscar a Luz que me dera. – Fechou os olhos e expirou, permitindo o ceifar da morte.

Tatimus nada mais era que uma estátua ajoelhada em prece.

Um movimento sutil com o cetro fez, e a estátua, onde há pouco habitava vida, fragmentou-se em partículas menores que um grão, produzindo, seguidamente, um vento a carregar o que existia de um assistente.

A Corrompida volitava sobre um montículo de vestimenta donde fez aparecer um cordão. A verde pedra, outrora viva, esvanecia a uma coloração aproximada do negro. Agarrando delicadamente a pedra, um meio sorriso levantou a maçã do rosto esquerdo quando a pedra fora envolta a uma escuridão que a consumira. Typson não contivera a surpresa do desaparecer. A Dama se virou ao som do suspiro.

A Jornada de um Assistente e a Esfera da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora