Capítulo 4

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Gustavo

      Eu precisava ir até a cidade vizinha para resolver umas pendências da Rey Café e queria voltar antes do fim de semana. Desde a complicada viagem para Miami, que quase me fez perder o aniversário de Dulce Maria, não queria mais ir tão longe pra passar sequer um dia longe dela, mesmo ela passando a semana inteira no colégio. Era uma viagem rápida, assim eu esperava, em dois dias tinha que cumprir toda a agenda de reuniões marcadas e voltaria para Doce Horizonte. O Cristóvão era o encarregado desses compromissos, mas de última hora ele adoeceu e eu tive que vir no lugar dele. Aproveitaria também para encontrar um amigo que há tempos não via por conta do trabalho de ambos.

      Olhei para meu relógio e vi que já eram 16:32 da tarde. Estava quente. Saí da última reunião do dia e liguei para meu amigo para saber se eu poderia encontrá-lo antes de voltar para casa naquele mesmo dia. Combinei de me encontrar no ambiente de trabalho dele, já que ele não poderia se ausentar por muito tempo e segui até lá.

– Olá. – Falei simpático com a recepcionista.

– Pois não? –  Ela me olhou e percebi que ela parou por um segundo. Sorri sabendo exatamente o efeito que causei nela. Eu sabia que era um cara boa pinta. Elegante. Mas isso não me importava, de verdade. Era apenas um detalhe diante do que eu sempre procurei numa mulher. Sua beleza interior.

– Gostaria de falar com o... – Antes de terminar falar, escutei uma voz atrás de mim.

– Gustavo, meu amigo! Quanto tempo, cara! – Me virei e vi o Paulo.

– Paulo! Quanto tempo não te vejo. – Apertamos as mãos e nos abraçamos.

– Quando você falou que estava aqui na cidade, eu quase não acreditei. Vamos até o meu consultório conversar um pouco. – Segui Paulo até o consultório dele e nos acomodamos lá. – O que você anda fazendo por aqui? Como está sua família? – Paulo me perguntou sentando em sua cadeira.

– Apenas umas reuniões de trabalho para firmar contratos com a Rey Café. E bem, a família está indo. Dulce Maria cresce sapeca cada dia mais. Essa menina ainda vai me dar bons cabelos brancos. – Disse divertido. – Cada vez que eu olho para ela, me lembra a mãe, incrível à semelhança. Seu jeito doce, sua aparência... – Suspirei melancólico. Teresa sempre estava em meus pensamentos, principalmente quando se tratava da Dulce Maria. Paulo não sabia em detalhes o que tinha acontecido com ela porque quando nos casamos, ele morava fora do país e acabamos perdendo contato.

– Entendo. Ainda sinto muito. Não tive oportunidade de conhecê-la. – Paulo me disse compreensivo.

– Mas não vim aqui para chorar pela Teresa, não é? Ela faz falta a Dulce Maria, mas agora estou seguindo em frente. Até quase me casei de novo, acredita? – Disse rindo, mas só porque já tinha superado a cobra da Nicole. Por algum tempo, ficamos conversando sobre a nossa vida e o que fizemos durante todo esse tempo. – E você, Dr. Paulo, está com o coração livre ou alguma moça da cidade já o colocou na rede dela? – Perguntei balançando as sobrancelhas.

– Ah cara, que nada. Sempre estou cheio de trabalho, quase não dá tempo de sair. Eu até pensei que dessa vez eu tinha arrumado alguém para juntar as escovas, mas ela não está interessada. – Ele ajeitou uns papéis na mesa incerto.

– Sério? Por que? Ela é muito areia pro seu caminhãozinho?  – Dei risada da cara de cachorro que caiu da mudança que ele fez.

– Demais até! Ela é a mulher mais doce e amorosa que conheci na minha vida. Tem um jeito que qualquer homem cairia aos pés dela se ela apenas o olhasse. E nossa, a beleza parece que vem de dentro para fora. – Ele disse ilusionado e eu fique impressionado.

– Uau. Ela te impressionou mesmo! O que deu errado? – Perguntei já pensando em algum conselho para dar a ele.

– Ela era minha paciente. Esteve envolvida num grave acidente e ficou com um trauma grande. Perdeu a memória. Se chama Helena. – Ele disse e suspira.

– Coitada! Mas deve ser confuso para ela se relacionar com alguém enquanto não lembra de nada. Isso foi há muito tempo? – Perguntei encarando-o.

– Foi isso que ela disse. Faz tempo que ela teve alta. Viramos amigos. Melhor que nada, não é? Ela é uma boa pessoa. – Ele sorriu e eu olhei o relógio, já era hora de ir.

– Bem, eu tenho que ir, preciso voltar para casa ainda hoje. – Disse levantando. – Gostaria de conhecer essa mulher encantadora que você tanto suspirou aí. – Apertei a mão dele.

– Você não vai roubar ela de mim, hein Gustavo Lários? – Ele me avisou divertido enquanto balançávamos as mãos. – Ela trabalha aqui no hospital. Se você tiver sorte, pode encontrá-la pelos corredores. Quando bater os olhos nela, saberá imediatamente quem é. – Ele sorriu e caminhamos juntos até a porta.

– Depois do meu último relacionamento, eu estou bem sozinho por enquanto. – Respondi a ele. – Foi muito bom poder reencontrar você, Paulo. Vá até Doce Horizonte, você precisa conhecer a Dulce Maria. – Nos abraçamos mais uma vez.

– Com certeza irei, meu amigo, quero conhecer a pequena mais famosa da cidade. – Saí em direção à recepção do hospital para ir embora. Ao caminhar para a saída, vi de relance duas mulheres conversando. Uma estava de frente a mim com uma criança no colo, e a outra estava de costas, falando com essa criança.

      Não vi o rosto dessa mulher de costas, mas ela tinha um jeito doce de lidar com o pequeno. Era uma cabeça mais baixa que eu, usava uma calça jeans branca, uma blusa de seda rosa claro e um sapato com um salto, mas ainda assim, continuava menor que eu. Seu cabelo loiro, longo, era ondulado e ia até quase metade das suas costas. Senti uma estranha sensação familiar naquela moça, mas não sabia de onde vinha. De costas, ela lembrava um pouco a Teresa, mas estava ficando doido. Não. Cansado. Estava cansado de um dia longo de trabalho e falar sobre a Teresa com o Paulo mexeu com os meus sentimentos. Quando passei por ela, não pude deixar de sentir seu cheiro. Era familiar. Era igual ao da Teresa. Aquela mulher tinha o mesmo perfume que a minha amada esposa. Quis olhar novamente para ela quando estava saindo, mas quando virei, ela já estava caminhando para o elevador, segurando dessa vez a criança no colo que estava com a cabeça apoiada no ombro dela. Então, voltei para ir embora rindo de mim mesmo por achar que por um segundo, aquela mulher pudesse ser a minha Teresa.

A volta de TeresaOnde histórias criam vida. Descubra agora