Capítulo 58

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Gustavo

      Três dias depois, Teresa finalmente pôde sair do hospital e voltar para casa. Ela não estava cem por cento curada, já não havia necessidade de ficar internada, mas ainda assim, os médicos fizeram várias recomendações.

– É aconselhável a vocês a não terem relações sexuais pelas próximas duas semanas. – Dra Paloma nos disse. – Engravidar novamente agora, nem pensar. O seu útero, Teresa, ainda está se recuperando do dano e provavelmente seu período possa vir irregular no próximo mês, mas não se preocupe que isso é normal. – Olhei para Teresa e a percebi tensa. Tentei segurar sua mão para passar apoio, mas ela se afastou de mim. Fiquei confuso com essa atitude dela, mas não discuti na frente dos médicos.

– Não tem problema, doutora. Não é como se eu quisesse engravidar tão cedo agora. – Seu tom de voz me fez ficar em alerta de que algo estava errado, mas esperei os médicos saírem para perguntar.

– O que está havendo? – Me virei para ela assim que os eles nos deixaram a sós depois de se despedirem.

– Nada. – Ela disse simples, mas não me olhou de volta.

– Teresa. – Toquei em seu braço e pareceu que ela tinha levado um choque porque pulou para longe de mim. – Isso não é "nada". – Disse dando ênfase ao que tinha acabado de acontecer.

– Onde está Dulce Maria? – Ela mudou de assunto.

– Estefânia levou ela para casa. – Me aproximei dela e ela deu um jeito de fugir. – Vai ser assim agora? Eu tentando estar perto de você e você fugir de mim? – Comecei a ficar frustrado, mas respirei fundo. Não era hora para briga.

– Não quero que ninguém me toque agora, Gustavo. Será que você pode me dar esse espaço? – Ela disse ríspida.

– Tudo bem. – Suspirei. – Vamos para casa. – Peguei suas coisas e saí do quarto na frente. Tentei não ficar chateado, mas era quase impossível.

      Durante esses três dias em que Teresa ficou no hospital, eu a percebi um pouco estranha e calada. Aliás, não só eu, como todos da nossa família que pararam para visitá-la. Dulce Maria não saia do lado de sua cama e, pelo menos com ela, Teresa falava um pouco mais e não deixava transparecer que algo estava errado, mas até a minha pequena sabia que algo estava acontecendo com a mamãe.

      O caminho inteiro Teresa estava em silêncio. Eu tentava puxar alguma conversa com ela, mas ela malmente me respondia e quando respondia, eram palavras simples, então eu desisti. Na verdade, Estefânia levou Dulce mais cedo pra casa porque queriam fazer uma surpresa para Teresa e isso poderia fazê-la se sentir melhor. Logo que chegamos em casa, eu fiz questão de demorar um pouco mais para avisar a Estefânia que já estávamos subindo.

– Bem vinda de volta! – Dulce gritou para a mãe assim que passamos pela porta de entrada. Teresa sorriu, mas sabia que seu sorriso não era verdadeiro.

– Obrigada, minha carinha de anjo. Você preparou tudo isso? – Ela olhou em volta. Haviam cartazes de "bem vinda, mamãe" espalhados pela sala.

– A titia me ajudou, mamãe. – Dulce a abraçou novamente e Teresa a soltou rápido. Estefânia tentou abraçá-la também, mas Teresa foi pro outro lado da sala, ficando longe de todos nós. Olhei para Estefânia e ela ficou sem entender, mas apenas balancei a cabeça pedindo pra deixar pra lá.

– Obrigada a vocês, mas me desculpem, estou um pouco cansada. – Teresa se afastou e subiu as escadas apressada, deixando todos nós sem entender.

– O que a mamãe tem? Ela não gostou da surpresa? – Dulce disse triste olhando pra escada.

– Não, filha, a mamãe ainda está se recuperando, lembra? – Disse olhando pra Estefânia.

– É Dulce, Teresa precisa descansar um pouco pra ficar boa logo. Que tal se a gente ir tomar um sorvete? – Estefânia disse a ela.

– Mas agora que a mamãe voltou? – Ela ainda estava triste.

– Quando a gente voltar, aposto que ela já vai estar descansada e vai brincar com você. – Vi Dulce pensar um pouco e me olhar.

– Pode ir, minha filha. Eu vou ficar com a mamãe aqui. – Dei um sorriso a ela e ela aceitou ainda desconfiada.

– Tudo bem, então. – Dulce se levantou e saiu com Estefânia. Respirei fundo e subi com a bolsa de Teresa que ela tinha deixado ali. Entrei no quarto e escutei o barulho do chuveiro ligado e me sentei na cama esperando por ela. Não demorou muito pra ela sair do banheiro de toalha.

– O que está fazendo aqui? – Ela se assustou e tentou se cobrir.

– Esse também é o meu quarto. E não precisa se esconder. Conheço o seu corpo há anos. – Ela não me olhou nos olhos e fugiu pro closet. Me levantei e a segui. – Teresa, eu entendo que você ainda esteja traumatizada com o que aconteceu, mas Dulce Maria não tem culpa de nada. Ela estava esperando você chegar com a maior alegria do mundo e você simplesmente ignorou a sua filha. – Ela continuou procurando uma roupa. – Você não vai me responder? – Me irritei pelo seu silêncio.

– Não tenho o que falar. – Ela deu de ombros.

– Não tem o que falar? Então você acha certo sua filha sair daqui triste porque a mamãe não quis abraçá-la? – Ela foi pro banheiro me ignorando completamente de novo. – Tudo bem, Teresa. Faça como quiser. Sua teimosia não está deixando você enxergar o erro que está cometendo com a sua própria filha. – Saí do closet furioso e bati à porta do quarto.

      Era como se tudo o que eu tivesse dito a ela tivesse entrado num ouvido e saído por outro, porque depois disso, eu sentia Teresa cada dia mais distante de mim e principalmente de Dulce Maria, que não entendia porque sua mãe ficava tanto tempo no quarto e quase não a colocava mais para dormir.

– Mas porque a mamãe não vem me dar um beijo mais, papi? Sinto falta dela cantando até eu dormir. – Dulce disse ao se deitar na cama.

– Filha, vamos dar um tempo para a mamãe, tudo bem? Eu estou aqui com você pra te colocar todos os dias para dormir. – Disse me sentando na cama.

– Eu estou de férias e até agora ela nem brincou comigo. – Ela fez biquinho.

– Olha, o Natal está chegando. Quem sabe assim, ela não melhora? – Disse tentando animá-la.

– Vamos fazer uma árvore bem bonita, né papi? Com muita luz, assim ilumina a mamãe e ela volta a me dar atenção. – Ela se ajeitou na cama.

– Filha, não fala assim. Dorme, tá? Amanhã a gente começa a decoração. – Dei um beijo na cabeça dela e fiquei até vê-la dormir e suspirei. Saí do quarto dela e fui direto para o meu.

      Já tinha mais de uma semana que Teresa tinha voltado pra casa e nada dela conseguir superar o acidente. Isso me deixava frustrado porque eu não conseguia ajudá-la. Ela não me deixava nem chegar perto dela e eu não sabia mais o que fazer. O fato da gente ter perdido o nosso Arthur traumatizou tanto que estava ficando preocupado em ver a Teresa se afundando em uma depressão. E o pior de tudo, era que ela não me deixava ajudá-la. O Natal estava batendo na porta e era o primeiro dela de volta, queria que fosse especial, mas não sabia como fazer.

A volta de TeresaOnde histórias criam vida. Descubra agora