Capítulo 56

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Gustavo

      Não tinha percebido que tinha adormecido até ouvir meu celular tocando em algum lugar do quarto. Demorei um pouco para voltar a consciência por causa da minha exaustão, mas quando percebi, já estava pulando da cama e procurando o bendito por toda parte.

– Gustavo Lários. – Disse sem identificar o chamador.

– Senhor Gustavo? Aqui é do hospital, precisamos que o senhor venha urgente até aqui. – Meu coração bateu forte e senti minhas mãos tremerem.

– O que aconteceu com a minha esposa? – Perguntei desesperado sentindo uma sensação estranha no peito.

– É melhor o senhor vir até aqui e conversar com os médicos. – A mulher falou e eu suspirei.

– Estou indo agora. – Desliguei e peguei a primeira roupa que vi na frente e saí do quarto apressado.

A casa estava escura e silenciosa, claro, então não me preocupei em dizer onde iria. Peguei novamente as escadas, mesmo ainda estando cansado demais, eu morreria de angústia à espera do elevador. Cheguei em tempo recorde ao hospital e fui logo em direção à recepção para saber notícias de Teresa. A mulher pediu para que eu esperasse que ela iria chamar o médico. Eu queria gritar com ela, mas não adiantaria de nada. Me sentei na cadeira e minha perna balançou nervosa. Em minha cabeça passavam mil coisas e eu rezei para que não fosse algo grave demais. Mas se não fosse, eles não teriam me ligado a essa hora.

– Gustavo. – Me levantei ao ouvir a voz da Dra. Paloma que estava com uma cara séria.

– Doutora. – Olhei para ela e sua expressão mudou para uma de pesar. – O que... o que aconteceu? – Uma coisa dentro de mim se agitou.

– Eu sinto muito, Gustavo, mas o bebê não resistiu. – Minhas pernas me traíram e eu sentei de vez na poltrona que estava antes.

– Vocês falaram que eles dois estavam bem. Eu saí daqui e ela estava bem. – Sentia uma dor no meu coração, como se ele tivesse sido rasgado e chorei incontrolável. – Não pode ser, doutora. Meu filho. Meu filho. – Coloquei minhas mãos em meu rosto e abaixei a cabeça chorando.

– Eu sinto muito. – Ela disse de novo. – Ele lutou, Gustavo, mas a pancada foi muito forte. A quantidade de oxigênio necessária não chegou até ele. – Percebi-a sentar perto de mim.

– E a Teresa? – Perguntei olhando para ela com a visão turva das lágrimas.

– Ainda está dormindo. Ela precisa passar pelo processo de retirada do feto. – Ela me explicou.

– Meu Deus. Quando ela acordar, eu não sei como vai reagir, doutora. – Chorei ao pensar na dor da minha esposa. – Eu quero vê-la, por favor, me deixa vê-la. – Implorei a ela.

– Estão levando ela para a curetagem (processo de retirada de fetos do útero) e logo depois ela volta para a UTI. Só então você poderá entrar, mas não poderá ficar por muito tempo. Ela ainda vai estar sedada. – Paloma falou.

– Quando ela vai sair da UTI? – Perguntei angustiado.

– Vamos esperar passar 24h para que ela possa finalmente acordar. Só assim poderá ir para o quarto. Temo que terá que ficar alguns dias aqui para o útero se recuperar. Você terá que falar com o médico responsável por ela para ele te dizer com certeza. – Assenti.

– Obrigado, doutora. – Disse sem olhar para ela.

– Eu sinto muito, Gustavo. Eu sei o quanto vocês estavam ansiosos pela chegada do bebê. – Ela se levantou. – Eu vou fazer o procedimento e quando ela já estiver no quarto de novo, o médico vai vir aqui te chamar e você fala com ele. – A vi voltar para dentro e voltei a chorar pela perda do meu filho e a dor que Teresa iria sentir. Seria a mesma que eu estava sentindo agora.

A volta de TeresaOnde histórias criam vida. Descubra agora