Marcelo
Quando minha tia Moni me disse pela primeira vez sobre a Helena, eu fiquei chocado com o fato dela ter sobrevivido ao acidente sem nenhuma sequela. Eu trabalho em hospital e sei quão grave pode ser uma pessoa que se acidenta e entra em coma. E ela passou quase dois anos assim. Seria quase um milagre ela acordar lembrando de tudo. Mesmo eu não a conhecendo, só o que a tia Moni falava, me mostrou o quanto Helena era uma pessoa nobre e de boa índole que foi pega por uma armadilha do destino que a trouxe para nós. E bom, não custava nada tentar ajudá-la, não é? Minha tia e eu podemos não ser ricos de dinheiro, mas se precisarem da nossa ajuda, não negaremos as mãos.
Trabalhar no hospital de Doce Horizonte às vezes era um pouco cansativo, mas eu gostava. Eu não era médico tampouco enfermeiro, na verdade, eu trabalhava na parte administrativa do lugar. Ajudava a organizar e arquivar todos os registros médicos dos pacientes até 2014 quando tudo foi passado pra um tipo de sistema e agora era só colocar tudo no computador.
Quando minha tia pediu para eu procurar alguma coisa sobre a Helena nos arquivos daqui, eu achei que era quase impossível. Uma agulha no palheiro, porque eu achava que ela nunca tinha dado entrada no hospital, então, logicamente não haveria nenhum registro dela aqui e sem saber seu nome verdadeiro, me fazia até querer desistir, mas uma voz no meu interior dizia que eu poderia desvendar todo esse mistério.
– Bom dia, Marcelo. – Suzi me cumprimentou.
– Bom dia, Suzi. – Sorri. Suzi estava há anos aqui no hospital, não duvidava que sabia o nome de cada médico e enfermeiro daqui. – Suzi, posso te perguntar uma coisa? – Perguntei incerto.
– Claro! O que houve? – Ela parou o que estava fazendo.
– Eu queria saber se você lembra de algum caso de acidente envolvendo uma mulher, no final de outubro de 2014. – Suzi riu. Riu bem alto.
– Marcelo, estamos em um hospital, o que mais tem são acidentes com homens e mulheres todos os dias. Você quer que eu lembre de um em 2014? – Ela disse ainda rindo da minha cara.
– Eu sei que parece louco, mas é que eu tô procurando um específico, mas não sei explicar como ele foi. – Cocei a cabeça.
– Olhe nos registros dessa data, se você sabe o dia que foi, já reduz a procura. – Ela sorriu gentil. Era disso que eu precisava. A autorização dela para que eu pudesse procurar. – Mas para que você quer? – Ela me olhou desconfiada. Droga. O que poderia dizer?
– Minha tia que trabalha no hospital da cidade vizinha queria algumas informações. Depois eu pesquiso nos arquivos. – Inventei algo pra fazer enquanto sentia Suzi me olhando.
Deixei para fazer na hora do meu almoço quando eu podia procurar com calma e segui o combinado. Eram milhões de arquivos, ia passar dias para achar, mas ia tentar até conseguir. Fui até uma estante que tinha numa sala escondida do hospital, onde estavam os arquivos até 2014 e sai procurando o mês de outubro. Eram várias caixas desse mês, eu tinha que abrir uma por uma e procurar em cada registro para saber se tinha algum que batia com a Helena. Eu estava nisso há dias. Estava ficando cansado de procurar e não achar nada. Passei praticamente uma semana almoçando naquele lugar só para ter tempo máximo para encontrar o que queria.
– Ainda faltam tudo isso. – Olhei para uma pilha de pastas que estavam do lado. Peguei um da parte de baixo dela e abri. Fui lendo sobre o que era e sobre o paciente. – MEU DEUS! Tem que ser esse! – Dei um pulo do chão onde estava sentado e sentei numa mesa para ler melhor. Li atentamente cada linha daquele arquivo e vi várias informações que poderiam bater com a história que minha tia contou. A data, as características das duas. Eu só não entendia o que poderia ter acontecido para que a Helena fosse parar em outro hospital e ninguém tinha percebido. – Suzi. – Chamei a minha colega quando voltei do meu horário de almoço.
– Oi. – Ela respondeu sem me olhar mexendo no computador.
– Você lembra o que aconteceu na última semana de outubro de 2014? – Perguntei frenético.
– Por que? Ainda não achou o que queria? Há dias você procura. – Ela me olhou.
– Sim, achei. Quero dizer, eu acho que achei. Mas eu queria saber se você lembra de alguma coisa, quase no final do mês. – Sentia meu coração se acalmar as poucos.
– Bem, eu lembro de um dia específico de outubro, era bem final do mês mesmo, esse hospital estava um caos, parece que tinha acontecido um acidente com dois ônibus e muitas vítimas vieram para cá. Estava tudo uma loucura. Tivemos que mandar vários pacientes para vários hospitais diferentes. – Ela disse com uma carinha pensativa e então, ela me contou tudo que lembrava daquele dia. Não podia pegar o arquivo sem permissão dos parentes, mas também não podia deixar de mostrar o que tinha descoberto a minha tia e até a própria Helena, então, peguei escondido e fiz uma cópia de tudo o que estava ali. Poderia perder o meu emprego se alguém descobrisse, mas eu tinha que arriscar.
– Tia. – Falei ao telefone assim que cheguei em casa naquele dia.
– Oi, meu menino. Está tudo bem? – Tia Mônica me perguntou.
– Sim. Eu consegui algumas informações sobre aquilo que a senhora me pediu. – Fui direto ao assunto que ela tanto esperava.
– É sério? E então? – Ela disse com expectativa e eu contei tudo o que tinha descoberto para ela e disse que estava enviando os papéis pelos correios, no mais tardar dois dias, ela já estaria com eles em mãos porque iria mandar pelo mais rápido.
– Obrigada, meu filho. Eu sei o quanto você arriscou para conseguir. – Ela disse mais contente.
– Não conte para ninguém isso, ouviu tia? Senão complica para mim. E o que a senhora vai dizer a Helena? – Perguntei a ela nervoso.
– Não se preocupe, quando chegar a hora, direi tudo. – Conversamos mais um pouco e logo desligamos. Fui dormir com a sensação de dever cumprido.
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A volta de Teresa
FanfictionE se o acidente de asa delta da Teresa não tivesse sido fatal? Se ela tivesse sido dada como morta mas, na verdade, não foi o seu corpo que foi enterrado naquele dia? Por um acaso do destino, Teresa sobreviveu ao acidente que mudou o rumo da sua vid...