Capítulo 10

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Gustavo

    Quando sai de casa hoje, não sabia que minha vida ia dar mais um giro tão cedo. Desde a suposta morte da Teresa, eu não consegui ter mais sossego. E o que me deixava mais furioso era que tudo envolvia a minha filha. Dulce Maria estava crescendo, se metendo em confusão como toda criança, mas não merecia passar por tanto sofrimento com tão pouca idade. Ela já tinha perdido a mãe uma vez e agora, com Cecília fora do internato, a minha filha estava mais uma vez sofrendo a perda de alguém que amava.

     Cheguei no escritório e não encontrei ninguém na entrada, pensei que Verônica pudesse já estar na sala do Cristóvão, mas me enganei quando a encontrei no corredor e ela disse que ele não tinha chegado ainda.

– Madrugando na empresa desde sempre, hein? – Brinquei com ela.

– Só gosto do que eu faço. – Verônica disse tímida e fui em direção a minha sala. – Ah, senhor Gustavo? – Ela disse incerta.

– Sim? – Me virei para olhá-la.

– Tem uma moça na sua sala lhe esperando. Se chama Helena. Ela disse que o senhor a conhecia. – Ela disse e eu franzi a testa.

– Helena? Não lembro de conhecer nenhuma Helena. – Pensei confuso.

– Ela disse que era uma amiga, quer que eu a dispense? – Verônica deu um passo em direção à porta da minha sala.

– Não, não precisa, vou ver o que ela quer. Obrigado Verônica, pode voltar ao trabalho. – Segui para minha sala tentando lembrar de alguma amiga chamada Helena, enquanto Verônica voltava para sua mesa. Esperava que não fosse nenhum problema, já chega, por favor. – Me desculpe a demora. – Disse fechando a porta.

Uma mulher loira que estava sentada de costas para mim levantou ficando de frente. Quando olhei nos olhos dela, senti o chão tremer porque não acreditava no que estava vendo. Fiquei estático perto da porta sentindo que o ar estava ficando escasso.

– Oi, Gustavo. – Aquela mulher falou baixo e eu reconheceria esse tom voz e esse sotaque em qualquer lugar.

– Teresa? – Disse depois de alguns segundos em silêncio a olhando sem acreditar. Parecia que as coisas estavam acontecendo em câmera lenta ou tão rápido que eu não estava acompanhando tudo. Era a Teresa que estava ali, na minha frente, tão viva quanto eu, tão bonita quanto era antes ou até mais. – Teresa! É você? Que tipo de brincadeira é essa? – Disse exasperado.

– Não é brincadeira. Eu estou aqui. – Ela disse e eu fechei os olhos sentindo as lágrimas pinicarem.

– Mas como? Como você pode estar viva? Eu vi você cair. Eu estava lá. – Percebi que ainda estava parado perto da porta.

– Gustavo... – Ela se aproximou de mim e num ato impensado, levantei as mãos em defesa.

– Não chega perto! – Ela parou no mesmo instante e vi em seus olhos a dor da rejeição, mas eu precisava raciocinar.

– Eu posso explicar. – Ela disse num choramingo.

– Como assim explicar? Eu estava lá. Eu vi você desaparecer. E depois te achamos toda machucada e já chegando sem vida no hospital. – Passei a mão no cabelo olhando para aqueles olhos castanhos que estavam comigo em todos os meus sonhos. A verdade era que eu queria tocá-la. Abraçá-la. Sentir que ela era real e que estava aqui. Não aguentei e deixei o choro vir. Ela era uma das poucas pessoas que eu não me importava de me ver chorando.

     Senti Teresa chegar perto de mim e me abraçar. Aquele abraço era como se eu estivesse agarrado numa âncora, e ela estivesse me puxando para cima. Como um copo de água num dia quente de verão. E seu cheiro era o mesmo. O mesmo cheiro de conforto, de amor e ternura. Poderiam passar mil mulheres em minha vida, mas Teresa continuaria sendo a única. Soltei-a do abraço, mas ainda segurei-a perto, para que não perdêssemos o contato.

A volta de TeresaOnde histórias criam vida. Descubra agora