Capítulo 3

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      Os meses foram passando e eu ficava cada vez mais forte na "parte médica" da minha vida. Dr. Paulo ficava impressionado cada vez que eu o visitava mensalmente para checkups de rotina. Nem parecia que eu fiquei quase dois anos em coma. Nesse tempo, tinham se passado seis meses e nada da minha memória voltar. Às vezes, ficava irritada com a minha incapacidade de lembrar, outras, deitada na cama, chorava até dormir, agarrada àquele colar que era como se fosse a âncora da minha vida.

      Um dia, uma das crianças da creche me viu conversando com o Dr. Paulo e fez um desenho meu e dele juntos, como se fôssemos casal. Ele pintou o Dr. Paulo com cabelos e barba pretas e seus olhos verdes como o mar e eu, com cabelos loiros e longos e olhos castanhos de mãos dadas. Eu ri do pequeno e disse a ele que nós dois não éramos um casal, mas agradeci mesmo assim pelo desenho.

      No final desse dia, me peguei deitada na minha cama encarando o pedaço de papel junto com a corrente com as duas bonequinhas pensando em como a vida era boa por me dar uma nova chance de viver e ao mesmo tempo injusta por ter passado tanto tempo sem eu lembrar de nada. Adormeci e nem percebi.

      Eu estava em um jardim florido, sorrindo e cantando, com um vestido vermelho que combinava com as cores das flores. O sol estava a pino e tinha um girassol como enfeite no cabelo. Parecia feliz. Era como se eu tivesse me vendo como telespectadora. Um homem vestido com uma camisa azul e calça jeans preta se aproximava de mim com o mesmo sorriso que aquela "eu" tinha no rosto. Um sorriso apaixonado. Quando olhei para o rosto daquele homem, vi que ele tinha um par de olhos verdes brilhantes, como duas esmeraldas. Fiquei perplexa ao ver que ele se ajoelhava em um joelho e parecia que estava pedindo a minha mão em casamento.

– Meu Deus! O que foi isso? – Acordei num sobressalto e com o coração acelerado. Não sabia o que tinha sonhado. Era algum flash da minha verdadeira vida ou o inconsciente brincando com meu coração? Passei a mão na cabeça e respirei fundo. Não sabia o que pensar. O que poderia ser? Eu realmente vivi aquilo ou era só o efeito do desenho? Olhei para os lados e vi que o dito cujo estava no chão, mas não encontrava a corrente. Levantei da cama e olhei debaixo, encontrando o tesouro ali. Peguei o papel do chão e fiquei olhando para ele. – Estou ficando louca. Até comecei a sonhar com o Paulo por causa desse desenho. – Ri de nervoso e fui até a cozinha pegar um copo d'água. Quando voltei, guardei o papel na gaveta do móvel ao lado da cama e fiquei encarando as duas bonequinhas até o sono voltar. Beijei como sempre as duas e coloquei a corrente ao lado de cama, voltando a dormir quase instantâneo.

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      Aquele sonho não foi o único que aconteceu nos dias que o sucederam. Eu comecei a sentir com se, em alguns momentos, meu corpo não estivesse mais em mim nos meus sonhos. Como se eu tivesse assistindo a um filme que passava na minha cabeça. E eram sempre com aqueles olhos verdes. E sempre como se eu fosse muito feliz.

– O que está acontecendo, minha menina? Estou sentindo você um pouco mais quieta ultimamente. – Mônica me perguntou no café da manhã.

– Os sonhos, Mônica. Eles continuam. – Respondi cansada mexendo na xícara de café.

– Mais uma vez? – Balancei a cabeça afirmando. – O que teve agora? – Ela perguntou preocupada.

– Sonhei com uma criança. Um bebê. Uma menina linda que me chamava de mamãe, Mônica. Ela me chamava de mamãe. – Solucei escondendo meu rosto com as mãos.

– Minha menina! – Mônica me abraçou em pé enquanto permaneci sentada na mesa. – Você tem certeza que pode ser alguma lembrança e não apenas o fato de que você vive rodeada de crianças e isso te impressionou? – Ela me questionou.

– Não sei, Mônica. – Passei a mão pelo meu rosto. – Eu não lembro de ter tido nada parecido e aquela criança não parecia com nenhuma das que estão na creche. – Suspirei com pesar. Estava tudo tão confuso.

A volta de TeresaOnde histórias criam vida. Descubra agora