Harry
- Então, qual o plano? - Rony pergunta quando ficamos sozinhos, os outros saíram para um intervalo de uma hora, porque já estavam em um estado que se ficassem mais cinco minutos trancados nessa sala iriam surtar pelo resto da vida.
- Você não deveria estar no intervalo também? - Retruco, sem sequer me mover na sua direção, mantendo o olhar fixo na foto de James presa no quadro branco de antes do sequestro.
- Você deveria descansar um pouco também, olhar para essa foto não vai simplesmente fazer ele aparecer na nossa frente. - O ruivo se aproxima sentando-se do meu lado, direcionando o olhar até mim.
- Eu sei que não vai, é só que... - Respiro fundo antes de pensar na melhor maneira de formular a confusão dos meus pensamentos. - não consigo parar de olhar para essa foto, nem parar de pensar no quanto ele era feliz e agora simplesmente não tem mais nada.
- Está pensando nele ou em você?
- Como é? - Finalmente consigo desviar a atenção da foto, focalizando no seus olhos, não conseguindo disfarçar a surpresa com a pergunta.
- Harry, eu te conheço há anos, você é praticamente meu irmão, acha que não sei que um dos motivos que fez você se apegar tanto nesse garoto é porque está vendo nele um espelho do seu passado?
- Quando foi que você aprendeu a perceber tão bem as coisas e a falar frases sensatas? Foi o casamento com Mione?
- Ela passa metade do dia falando termos incompreensíveis para um mero mortal, alguma coisa eu tenho que extrair disso, não é? - Rimos por alguns instantes, quebrando momentaneamente o clima tenso que se instalou no ambiente. - Mas é sério, não fuja do assunto.
- Ele é meu primeiro caso como chefe, minha responsabilidade, todo dia que fracasso nas tentativas de salvá-lo, é mais um dia falhando com ele e falhando no meu papel.
- Não comece com isso, Harry, nem o auror mais experiente desse lugar conseguiria resolver esse caso tão rápido, os Rinx são inteligentes e muito calculistas, não é toa que o Ministério não conseguiu os prender até hoje. Você está dando o melhor de si desde o começo, nós não teríamos descoberto sobre o colar, nem sobre o cofre, se você não estivesse liderando essa operação. Não pode se culpar por todos os empecilhos desse caso.
- É claro que eu posso, Ron, porque se eu tivesse notado o colar antes ou visto os saques antigos, se eu tivesse sido mais detalhista, poderíamos ter resgatado o James há tempos.
- Por acaso você está trabalhando sozinho? Não foi somente você que não viu, fomos nós, nós todos. Quer se culpar? Ok, se culpe, mas nos culpe também.
- Eu estou comandando a operação, não posso culpar meu esquadrão por não ver o que nem eu mesmo vi. - Jogo a cabeça para trás, fazendo o maior esforço possível para não levantar e começar a gritar ou quebrar as coisas.
- Harry, é o seu primeiro caso dessa importância, envolvendo vidas, ninguém acerta tudo de primeira. Você tem essa mania de achar que tem de ser perfeito, tem que acertar todas, mas você não tem. Voldemort está morto, Harry, o um mundo bruxo está a salvo, não precisa mais agir como se ainda fosse o eleito, escolhido, destinado a salvar todo mundo o tempo todo, você é um ser humano, e seres humanos erram.
- Mas eu não posso continuar errando com um bebê - Deixo as palavras saírem da minha boca sem pensar, estourando de vez, como se essa bomba de ódio, raiva, desespero e dor finalmente estivesse se dando o direito de gritar com toda força, explodir, desabar. - Um bebê que perdeu o dedo, que pediu socorro, aquela criança só confia em mim, Ronald, em mim! - Sinto o gosto amargo das lágrimas na minha boca, deveria tentar pará-las, deveria me recompor, mas elas continuam caindo e caindo, e eu não faço nada para impedir.
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Dois Opostos
FanfictionDizem que a guerra faz apenas duas coisas com as pessoas, ou mata, ou marca para sempre seus sobreviventes. Foi isso que a Segunda Guerra Bruxa fez com Harry Potter e Draco Malfoy. Um sobreviveu a pressão de ser o eleito, aos traumas de presenciar...