Draco
Goyle retorna ao vagão assim que Potter sai irritado, lançando-me um olhar preocupado, provavelmente para se certificar de que não nos atacamos no curto tempo em que ficamos a sós.
— O que ele queria? — Gregório pergunta, sentando-se.
Olho para ele com uma surpresa involuntária. Não é comum Goyle fazer perguntas, afinal, uma das nossas principais regras de convivência é nunca questionarmos a vida pessoal um do outro. Claro que fui eu quem criou essa regra, mas isso é irrelevante.
— Sei que você não gosta de falar sobre suas coisas, Draco, mas é impossível ficar quieto fingindo que não é estranho Harry Potter querer falar com você em particular. A última vez que vocês conversaram a sós, você terminou com trocentos cortes pelo corpo.
— Que bela lembrança, hein, Goyle.
Deixo escapar um leve sorriso, quase imperceptível. Não posso negar que qualquer pessoa em sã consciência acharia estranho e suspeito Harry Potter conversando comigo sem ninguém sair amaldiçoado. No entanto, a conversa não foi tão horrível e desconfortável como eu esperava. Na verdade, foi até... agradável?
Não, lógico que não. Estou apenas acostumado a infernizar Potter. Fazer algo diferente é... interessante, mas não significa que eu tenha gostado da presença dele. Isso nem faria sentido.
— Se continuar com esse sorrisinho bobo no rosto, vou começar a pensar que você está enfeitiçado. — reconheço a voz de Pansy facilmente. Arrancando-me dos pensamentos confusos sobre Potter.
— Eu não estava sorrindo. Está alucinando logo cedo, Pansy? — ironizo, enquanto ela revira os olhos e me puxa para um abraço apertado.
Continuo detestando contato físico, mas Pansy nunca respeitou esses limites. Minhas repetidas advertências — "Parkinson, eu não gosto de abraços" — sempre foram ignoradas com respostas como "Não me lembro de ter te perguntado". Ela simplesmente faz as coisas à sua maneira.
Posso afirmar com total certeza que, se as pessoas me acham insuportável e mesquinho, nunca conviveram com Pansy Parkinson. Ela chegou ao ponto de fazer um Malfoy considerar outra pessoa mesquinha, o que significa que Pansy quebrou todas as barreiras do suportável. Talvez seja por isso que nos damos tão bem.
No começo, sua proximidade me incomodava, mas com o tempo me acostumei. Em segredo, até posso dizer que gosto dessas suas demonstrações físicas de afeto.
— Senti sua falta, Draco. — afirma, apertando-me mais contra si e fazendo movimentos circulares nas minhas costas.
— Também senti, Pansy. — respondo, bagunçando de leve seus cabelos negros.
— Agora que já passamos por esse momento afetuoso...
O tapa atinge meu rosto com tanta força que levo a mão ao local imediatamente. Certamente vai ficar vermelho mais tarde. Goyle nos olha chocado por um momento, mas logo cai na risada, enquanto eu encaro Pansy, sem entender a agressão repentina.
— O que foi isso? — pergunto, sem saber se aumento o tom de voz ou se continuo a olhá-la, incrédulo. Opto por me virar para Goyle. — E você, pare de rir, parece uma gazela.
— Não tente me dar ordens agora. Você perdeu toda sua postura quando fez cara de dor com o tapa da magrela. — Gregório continua rindo, e Pansy, ao ouvir "magrela", vira-se para ele, ameaçando o bater. Goyle salta para trás, quase se engasgando com a própria risada.
— Você ficou um ano e meio, Draco, um ano e meio, sem mandar uma única notícia, seu egoísta do c*ralho! — Abro a boca para responder, mas o olhar furioso dela me faz calar. — Teve a ousadia de mandar uma única carta no mês passado com a frase "estou bem". Bem em que parte do mundo, seu infeliz?
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Dois Opostos
FanfictionDizem que a guerra faz apenas duas coisas com as pessoas, ou mata, ou marca para sempre seus sobreviventes. Foi isso que a Segunda Guerra Bruxa fez com Harry Potter e Draco Malfoy. Um sobreviveu a pressão de ser o eleito, aos traumas de presenciar...