Capítulo 43: Fugir

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Harry

- E aí? Como você está? - Rony pergunta pelo lado oposto da porta do banheiro, enquanto lavo o rosto tentando evitar os pensamentos descontrolados que me invadem. Não respondo, não consigo responder, simplesmente não tenho mais forças o suficiente para isso.

- Harry, está tudo bem, ok? Quando quiser conversar, estaremos bem aqui. - Hermione toma a palavra parecendo preocupada, mas evitando invadir o espaço que ela sabe que eu preciso.

Consigo ouvir Rony sussurrando contrariado que eles deveriam abrir a porta a força, Hermione por outro lado parece dar mais uma de suas lições de boas maneiras para ele, ainda não sei como esses dois funcionam tão bem juntos, mas funcionam.

Eu sei que deveria estar pulando de felicidade, Draco acordou, está vivo, estamos bem, todos os meus desejos mais profundos parecem ter se realizado, mas ainda assim quando subo os olhos para o espelho, os gritos dele ainda ecoam na minha cabeça. Eu não estava desacordado quando Draco estava sendo torturado, não estava desmaiado e não posso dizer que não vi nada, na verdade estava acordado, olhando cada ataque, cada machucado, ouvindo cada grito cortante que ele deu durante a tortura de Lucius, mas não conseguia falar nada, era como se eu gritasse e somente eu conseguisse ouvir, minhas pernas não correspondiam aos meus comandos, assim me impediam de levantar. Vi o corpo dele ser praticamente dilacerado e remontado na minha frente e não pude fazer nada. Sinto-me tão impotente ao lembrar do quão inábil eu fui sobre cuidar do homem que eu amo.

Quebro o espelho a minha frente com um único soco, deixando a minha mão pingando sangue, não vou conter o sangramento, não vou gritar de dor, não vou fazer nada, porque eu mereço cada gota que escorre dos meus dedos nesse momento. Não sou nem metade do salvador que todos dizem que eu sou, já salvei tanta gente, tantas pessoas que nunca vi na minha vida, mas mais uma vez fui incapaz de salvar alguém que eu verdadeiramente amo, assim como foi com Fred, Remus, Tonks, Sirius, Dobby, Dumbledore, todos morreram porque eu era suas esperanças, que tipo de esperança eu sou que deixo-os morrer? Snape lutou por mim por mais que me odiasse, Cedrico me ajudou mesmo não precisando, Colin me idolatrava e nunca lhe dei a devida atenção. Todos mortos, mas sigo vivo, e por que? Eu que merecia ter morrido, sempre fui eu.

A verdade é que nunca fui um salvador, Hermione foi, Rony foi, eles todos que morreram foram, eu apenas ganhei um mérito que nunca foi meu, o destruidor do mundo bruxo seria mais coerente com todos que eu deixei morrer. Poderia ter perdido Draco e eu não seria capaz de aguentar mais isso... Mais uma perda... Todos que se aproximam de mim morrem, não posso deixar que o meu loiro seja uma dessas pessoas.

Saio do banheiro, colocando a mão no bolso e olhando ao redor a procura dos meus amigos, quando me certifico de suas ausências, sigo até a porta de saída dos fundos, fugindo dos jornalistas acampados na recepção e na frente do Hospital. Congelo por alguns instantes, hesitando em deixá-lo, em não o amar finalmente quando podemos nos amar, porém não vou deixar que ele tenha o mesmo fim que todos os outros tiveram.

Assim que abro a porta, colocando um pé para fora, paraliso quando vejo alguém vindo em minha direção, parecendo ter aparatado a poucos segundos devido a maneira como ainda caminha meio zonzo. Pego minha varinha e a coloco em riste, fechando a porta atrás de mim com um balançar dela. Não consigo identificar quem é, e levando em conta todas as incríveis situações que temos passado, o medo de ser Lucius ou alguém tentando nos matar novamente fala muito mais alto do que qualquer coisa.

- Abaixe essa arma, Potter, antes que você chame a atenção dos repórteres. - Reconheço a voz de Zabini o que me faz abaixar a varinha rapidamente, porém ainda sem a guardar, porque definitivamente eu não confio em mais ninguém.

- O que faz aqui? - Pergunto, descendo os degraus da pequena escada da saída enquanto Zabini dá pequenos passos até mim colocando as mãos no bolso no sobretudo preto.

Dois OpostosOnde histórias criam vida. Descubra agora