Draco
Logo que Potter sai fugindo do meu vagão, mas tentando manter sua postura de grifinório inabalável, começo a dar risada sozinho, pensando nas expressões memoráveis que o Testa Rachada fez no curto espaço de tempo que ficou aqui, rio ainda mais ao perceber que o inteligente esqueceu suas roupas em cima do banco onde estava sentado. Já posso dizer que sou tão gostoso ao ponto que o deixei tão desnorteado que o fiz esquecer até mesmo suas roupas?
Uma ideia marota passa pelos meus pensamentos, se Harry Potter quer tanto assim se aproximar de mim, vou dar para ele uma prova de como é ser amigo de Draco Malfoy.
Pego suas roupas e sigo até o vagão onde sei que ele está, com sua trupe de seguidores grifanos, assim que abro a porta Potter me olha confuso e os garotos ali dentro parecem mais confusos ainda, me lançando olhares de nojo e aversão que eu já esperava receber, os quais que aumentam minha vontade de executar o meu plano.
- Esqueceu suas roupas, Potter. – Digo, com o tom de voz mais malicioso possível, apenas para ter a gratificação de presenciar os olhares de espanto dos seus amigos.
Incrédulo ele pega as roupas, em resposta lhe direciono uma piscadinha travessa, saindo em seguida. Potter está bem enrascado.
Permaneço mais alguns instantes escorado na porta do vagão, tempo suficiente para ouvi-los gritando com Potter, que se encolhe no banco com os olhos rodopiando como se pensasse em respostas plausíveis para dar aos amigos. A sua expressão pensativa e assustada é mais uma que estou guardando na memória, assim como as outras que presenciei hoje.
Enquanto faço isso vou continuar ignorando a dúvida que exala na minha mente, por que estou tão interessado nas expressões faciais de Potter?
- Então que sejamos amigos, Potter. - Sussurro para mim mesmo, rindo dos meus próprios pensamentos e também das vozes altas e interrogativas que ecoam de dentro do vagão.
Distraidamente quase não noto quando Goyle se aproxima, entretanto, por sorte o vejo antes que esteja perto suficiente e consigo fechar a expressão sem que ele perceba.
- Te procurei no Expresso inteiro, decidiu ficar sumindo agora, Draco? - Gregório pergunta com o tom de voz levemente alterado.
Não posso evitar franzir o cenho pela maneira como fala, porém tento relevar ao lembrar para mim mesmo que esse ano prometi que me esforçaria para ser um pouco mais receptivo com meus amigos, aparentemente isso vai ser um pouco mais difícil do que eu esperava.
- Apenas fui trocar de roupa e decidi dar uma passeada, espairecer um pouco. Se importa? – Respondo, buscando soar o mais pacífico possível, mesmo assim uma pitada de incômodo escapa no meu tom voz.
- Não me importo, só... esquece. - Ele gagueja antes de me pedir para esquecer, levando a mão discretamente até seus poucos fios de cabelo, o que faz com que eu desconfie que tem algo errado em sua afirmação confusa.
- Potter não me fez nada, se é isso que você está tentando insinuar.
- Como você sabia que era isso que eu estava pensando? – Questiona, impressionado por eu entender.
- Eu te conheço há anos, Goyle. – Afirmo, dando de ombros - Por mais que não demonstre conhecer muito sobre meus amigos, isso não quer dizer que eu não saiba. – Gregório sorri minimamente, por outro lado, acabo pensando o quão lixo de amigo tenho sido nos últimos anos para uma frase tão vazia ter tanto significado para ele...
Eu nunca fui muito receptivo, aquele tipo de amigo que realmente escuta o problema dos outros e dá conselhos, nunca consegui fazer isso, mas não foi por falta de esforço, sempre quis conseguir os ajudar de verdade, porém não sei como fazer isso, como aconselhar alguém, meu pai me ensinou como ser um monstro perfeito e intocável, não um bom amigo para as pessoas.
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Dois Opostos
FanfictionDizem que a guerra faz apenas duas coisas com as pessoas, ou mata, ou marca para sempre seus sobreviventes. Foi isso que a Segunda Guerra Bruxa fez com Harry Potter e Draco Malfoy. Um sobreviveu a pressão de ser o eleito, aos traumas de presenciar...