Dois Opostos

Capítulo 53: Tiziano

Draco

Harry saiu no meio da noite, não foi difícil perceber isso. Não vi o horário exato, mas quando acordei e não senti seu peso no meu braço foi uma dedução rápida, principalmente após esperar um pouco e não o ouvir em nenhuma parte da casa. É inevitável não lembrar da minha falta de locomoção em momentos como esse, os quais não posso me levantar e revisar os cômodos para confirmar que ele não está, que não posso levantar sozinho da cama, nem descer as escadas.

O fato de Harry me deixar sozinho de noite me faz ficar ainda mais preocupado sobre em qual encrenca esse idiota se meteu dessa vez, porque ele nunca correria o risco de me deixar sozinho de madrugada, vive repetindo que tenho ficado com o sono pesado demais e que isso coloca minha segurança em dúvida, além de que tem medo que eu invente de tentar levantar e acabe me machucando, por isso ele não estar aqui com suas paranoias me leva a crer que com certeza Harry Potter está fazendo justamente o que ele odeia que eu faça: Se colocando em risco.

Quando eu ouvia Snape dizendo que Harry era igual ao pai no quesito arrumar confusão, eu sempre achava que pela forma que falavam James era muito pior, mas todos os dias Harry destrói esse meu pensamento mostrando que sim, ele consegue arrumar confusão tanto quanto o pai. Mesmo querendo me manter acordado para ficar cuidando o horário que ele vai voltar, o sono começa a tomar conta do meu corpo novamente, fazendo com que meus olhos pesem, fugindo de se manterem abertos.

...

Acordo sentindo o peso do outro lado da cama, o que me faz soltar um sussurro de alívio, ele pelo menos está aqui. Viro-me para o lado encontrando o moreno sentado na cama, escorado na cabeceira, pelo seu olhar fixo na parede e pela forma como nem percebeu meus olhos recaídos sobre si é visível que Harry não dormiu direito a noite inteira, ainda assim me sinto na obrigação de perguntar o óbvio.

- Você não dormiu, não é? - Empurro-me para trás, me escorando na cabeceira também. Harry leva um choque de realidade ao ouvir minha voz, finalmente demostrando sinais de vida e virando o olhar para mim, os olhos verdes cansados me atingindo em cheio.

- Insônia. - Sua voz está abafada, seus olhos estão com olheiras pesadas embaixo dele e o cabelo mais bagunçado do que de costume, não sei o que aconteceu ontem, mas com certeza mexeu muito com ele.

- Onde estava ontem a noite? - Perguntar coisas que me perturbam com calma, é um fingimento que devo a Narcisa por ter me ensinado, porque se fosse para falar no tom de voz do meu desespero toda a casa me ouviria falando.

- Como sabe que eu sai ontem à noite?

- Não responda minha pergunta com outra pergunta, Potter. - Harry revira os olhos, deixando um ruído desgostoso escapar dos seus lábios, ele odeia ser chamado pelo sobrenome quando sabe que estou o usando com o intuito de dizer "Estou certo, fique quieto".

- Eu vou lhe explicar onde eu estava depois, Malfoy. - Uma criança birrenta é um bom sinônimo para Harry Potter. - Mas agora se quer mesmo seguir o Ministro antes dele chegar no trabalho, já está na hora de você se aprontar.

- Está certo, porém você vai me explicar tudo quando eu voltar, achei que já tínhamos combinado que não precisam existir segredos entre nós.

- Draco, eu me meto em problemas todos os dias, só não vejo necessidade de te preocupar com antecedência se posso apenas te dizer o resultado depois.

- Meu pai é um psicopata, meu ex orquestrou uma fuga de Azkaban só pra se vingar de mim e meu padrinho era um agente triplo, a gente vai realmente começar a falar sobre se meter em problemas? - Apesar de todas as afirmações realmente serem verdadeiras, nenhum de nós consegue conter o riso, o que parece tirar um pouco do peso dos ombros de Harry, mesmo eu ainda não entendendo qual o motivo dele. - O que eu quero dizer, é que não importa a gravidade da situação, você não precisa me deixar de fora dela, não foi você que disse que estamos nessa juntos?