Capítulo 41: Recordar

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Dia do ataque:

Theodore Nott

- Eu disse e digo a todos os cantos que Lucius foi o único culpado por eu ser incapaz de demonstrar sentimentos positivos, porque ele destruiu a minha vida, mas isso é uma enorme farsa, me tornei incapaz no dia que ergui a minha varinha para machucar a única pessoa que foi capaz de se apaixonar por mim. Eu me destruí, sozinho.

Queria poder dizer que suas palavras são completamente indiferentes para mim, queria poder gritar em seu rosto que nenhuma afirmação sua vai me fazer parar de odiá-lo, que nunca irei perdoá-lo por ter tirado a vida do meu pai, mas estaria mentindo tão amargamente que nem mesmo eu acreditaria nas minhas próprias palavras.

Quando Draco decidiu que não iria levar Potter para Voldemort, eu disse que prezava pela saúde do meu pai, mas no fundo, bem no fundo, nós dois sabemos que eu estava prezando era pela saúde dele, afinal se Draco traísse Voldemort ele estaria morto, e eu não tinha ideia de como seria viver em um mundo onde o loiro não estivesse vivo. Que sacada eu escalaria de madrugada para poder dormir sem chamar a atenção dos pais deles? Que janela eu pularia pela manhã pelo mesmo motivo? Com quem olharia as estrelas? Quem jogaria comigo o jogo dos três motivos? Quem me beijaria com tanta intensidade? Quem me faria me sentir vivo como ele me fazia?

Com oito anos eu já tinha aceitado que minha vida seria um completo inferno depois do meu pai chegar vários e vários dias banhado de sangue dentro de casa, com oito anos já sabia de cor o funcionamento das Maldições Imperdoáveis, com oito anos eu já não tinha vida. Até conhecer o Draco. Quando que ele entrou na minha vida, os dias que sempre foram obscuros ganharam uma cor tão... bela, foi como se eu tivesse passado anos dentro de uma cova, morrendo lentamente, até que alguém finalmente cavou arduamente até conseguir me puxar para fora. Com oito anos, ele me mostrou que viver poderia fazer algum sentido afinal.

Durante anos Draco foi apenas um amigo, a pessoa a quem eu recorria quando tudo parecia cruel demais, cansativo demais, a casa para qual eu ia com um travesseiro embaixo do braço e uma corda para subir até o seu andar, a pessoa que ralava os joelhos comigo, se jogava no rio ou se escondia das torturas na sala de estar, mas então Voldemort voltou, se instalou ali, na casa dele, e nosso refúgio se transformou justamente na prisão que queríamos fugir, então qual seria nossa válvula de escape? Foi aí que nos encontramos, nos enxergamos como algo mais, ou pelo menos eu enxerguei. Começou com beijos despreocupados, mãos bobas confusas, até se tornar um sexo casual indiferente no dia seguinte, mas as coisas saíram do controle por minha parte.

Quando me apaixonei por Draco é uma pergunta que não sei a resposta até hoje, foi no meio de uma transa quando percebi que aquilo era muito mais do que apenas casual? Foi quando ele me jogou contra a parede e quebrou uma prateleira? Ou quando seus olhos encontraram o meu no meio do beijo e notei que seus lábios significavam para mim muito mais do que apenas um momento? Não sei, mas um dia me encontrei apaixonado, rabiscando em um caderno como seriam nossos nomes juntos, como fugiríamos dali, imaginando se algum dia teríamos um futuro além de um quarto e uma casa que não desejávamos.

Foram anos guardando esse sentimento no meu peito, o batendo tanto para que ele ficasse quieto e compacto ali dentro, beijando tantas bocas desgostosas apenas para não lembrar da boca dele 24 horas por dia, me machuquei internamente somente para que a dor se sobressai-se a paixão, bebendo, fumando, mas nem mesmo todo o esforço do mundo era capaz de esconder o sentimento que pulsava fortemente sempre que eu parava na cama dele ou no jardim, ou em qualquer outro lugar. Também não sei dizer quando foi que assumi meus sentimentos para ele, sei que larguei como se estivesse contando uma notícia aleatória do meu dia, pensei que Draco fugiria, diria que teríamos que parar por ali porque relacionamentos com emoções eram demais para ele, assim como fazia com todos os seus casos, mas não fugiu, não correu, ele ficou. Me abraçou e ficou.

Dois OpostosOnde histórias criam vida. Descubra agora