Capítulo 9: Jogo

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Draco

Quando percebi que já estava anoitecendo decidi seguir de volta para a comunal.

- Hoje você está parecendo um fantasma. - Pansy reclama, levantando-se do ombro de Blásio, onde estava deitada, para poder encarar.

- Por qual motivo? - Respondo, me sentando na poltrona na frente deles e cruzando as pernas.

- Está sumido, é a primeira vez que não vem conosco até a comunal, ou sai sem levar Goyle.

- Acho que depois de tudo que passamos, não preciso mais de um guarda-costas. - Tento ser delicado ao falar, mas meu jeito me impede de ser mais educado que isso.

Usar a palavra "guarda-costas" me faz lembrar da discussão com Córmaco, a lembrança faz imediatamente meu estômago se embrulhar.

- Não é isso - Explica, buscando reformular sua frase - estou apenas tentando entender onde você estava.

- Com todo o respeito, baixinha, mas eu não lhe devo satisfações de todos os meus passos. - Afirmo, me levantando, cansado da conversa, pronto para seguir até o dormitório.

- Sempre que você evita me responder é porque ou estava seguindo Potter, ou falando com ele, soube que agora vocês estão virando amiguinhos.

- Goyle já repassou a informação que Potter foi me procurar? - Pergunto retoricamente, visivelmente incomodado. - Querem saber o horário que vou ao banheiro também? Talvez se sintam satisfeitos em vigiar toda minha vida. Com licença.

Entro no dormitório batendo a porta e me sento na cama, adentrando o cabelo com os dedos, enquanto escoro meus cotovelos nos joelhos.

Não posso culpá-los por acharem estranho essa aproximação repentina de Potter, afinal ela realmente é estranha, inclusive para mim, mas isso não lhes dá o direito de tratar minha vida como se fosse um jornal e eu estivesse sendo o entrevistado da semana.

Decido tomar um banho, decidido a evitar qualquer pensamento relacionado a Potter, ele está endoidando acreditando que seremos amigos, e estou endoidando por ainda não ter o amaldiçoado.

Apesar de toda a minha convicção anterior, assim que deixo a água pingar sobre meu corpo acabo involuntariamente levando meus pensamentos a Potter.

Talvez eu realmente não queira o amaldiçoar, talvez esteja gostando dessa aproximação, é possível que eu esteja querendo saber onde isso vai dar. E será que tem onde dar? Milhares de perguntas que mais uma vez me aparecem e mais uma vez não tenho respostas a elas.

Saio do banho colocando uma roupa um pouco mais folgada, uma calça de moletom preta e uma blusa levemente cinza, seguida de um casaco também preto.

Deito na cama, me dedicando em não ficar compenetrado nessas ideais melindrosas, entretanto com o passar do tempo isso acaba se tornando quase impossível, principalmente quando a frase de Potter volta a disparar na minha mente, "eu nunca achei você parte das trevas, Malfoy, porque, no fundo, você sempre alimentou a luz."

É estranho ouvir que você pode fazer parte de uma luz depois de todos terem declarado publicamente que você faz parte das trevas, passei a minha vida inteira vivendo envolto por uma névoa sombria que acompanhou sempre todos os meus passos, diariamente, obvio que durante muito tempo essa névoa se tratava de Lucius, que tinha sempre um informante em Hogwarts, pronto para o contar se eu chorasse, se sorrisse demais, se demonstrasse qualquer emoção que ele considerasse excessiva.

Toda vez que essas emoções excessivas apareciam eu recebia castigos quando voltava para casa, nos feriados ou nas férias. Era como viver sempre em um ambiente de tortura, cada vez que "falhava" em Hogwarts, deixando minhas emoções transparecerem demais, quando eu retornava a Mansão Malfoy ele fazia da minha vida um inferno, talvez até pior do que isso.

Dois OpostosOnde histórias criam vida. Descubra agora