Capítulo 1: Amigos?

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Draco

As pessoas se aglomeram ao redor dele, desesperadas para tocá-lo, como se ele fosse algum tipo de alucinação coletiva, não apenas o garoto com quem conviveram por anos. Nem mesmo os alunos da Grifinória o enxergam mais apenas como "Harry"; para todos, ele é o "salvador do Mundo Bruxo". Ao contrário da maioria, ainda o vejo como o irritante Testa Rachada.

Observo-o de longe. É claro que Potter não mudou em nada. Seus cabelos negros continuam indomáveis, caindo sobre a testa, seus óculos redondos escorregam para a ponta do nariz, e sua cicatriz ainda está lá, visível sob as mechas que tentam camuflá-la.

Ele distribui sorrisos amarelos para as pessoas ao redor, tentando parecer relaxado. Mas a maneira como sua respiração está ofegante e sua mão bate repetidamente na perna o denuncia — Potter nunca se sentiu confortável com tanta atenção. Sempre foi assim: evitando os holofotes, mas ao mesmo tempo tirando proveito deles para manter sua imagem de "Santo Potter". Para mim, isso o torna um manipulador, ou talvez um masoquista.

Em meio a todo o caos, inesperadamente, seus olhos encontram os meus. Ele me encara como se estivesse me vendo pela primeira vez, seus olhos percorrendo todo meu corpo até parar nos meus. Por um breve momento, sinto-me perdido naquela imensidão esverdeada. Há algo de incompleto nele, algo faltando. Decido não desviar e sustento seu olhar com a mesma intensidade. Após alguns segundos, ele esboça um sorriso debochado, e com um pouco de esforço, consigo decifrar suas palavras.

— Sentiu saudades, Malfoy?

Reviro os olhos imediatamente.

— De jeito nenhum. — Respondo, negando com a cabeça e me segurando para não mostrar o dedo do meio.

Entro no Expresso de Hogwarts, deixando Potter para trás, ainda me observando pelas janelas, como se tentasse me encontrar discretamente. É um certo alívio saber que, apesar de tudo, ele continua o mesmo — até sua paranoia está intacta. Sorrio involuntariamente enquanto procuro um vagão vazio. Perdi meu lugar no mundo bruxo, perdi Crabbe e tantas outras coisas que nunca mais voltarão a ser como antes — até minha sanidade foi questionada. Mas é bom saber que algumas coisas não mudaram, mesmo que essa coisa seja ele.

Passo pelas janelas das cabines, à procura de Goyle, Pansy ou Zabini. Após alguns minutos, finalmente encontro Goyle, sentado sozinho numa cabine afastada.

— Draco! — Goyle exclama ao me ver entrar, levantando-se para me cumprimentar. — Não achei que você fosse voltar.

— Quem diria, não é? Fugi de Azkaban. — Ironizo, dando-lhe um sorriso mínimo enquanto aperto sua mão e bato de leve em suas costas, o máximo de intimidade e afeto que sou capaz de demonstrar.

— É estranho... — Após alguns minutos de completo silêncio, Goyle o quebra, olhando pela janela, envergonhado.

— O que é estranho? — Eu sei do que ele está falando. Claro que sei. Passei o último ano evitando pensar nisso, mas agora, de volta a Hogwarts, sabia que não poderia fugir para sempre.

— Crabbe não estar aqui... — Ele finalmente admite, virando-se para me encarar.

Crabbe morreu na Sala Precisa, há dois anos. Ainda me lembro de cada detalhe daquele dia, do corpo dele caindo nas chamas. Sinto falta dele, claro. Ele era um dos meus melhores amigos. Mas, ao contrário de Goyle, eu simplesmente não sei expressar essa tristeza. Não é que eu não queira, eu apenas não consigo.

— Nós vamos nos adaptar. — É tudo o que consigo dizer, colocando no rosto a melhor expressão de solidariedade que posso.

Goyle apenas assente, voltando a olhar pela janela, perdido em pensamentos.

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