Harry
Dois anos se passaram desde o fim da Batalha de Hogwarts. Quando tudo terminou, a escola estava em ruínas, e levou muito tempo para se reerguer. Por isso, só agora retornamos.
Para ser honesto, não foi apenas Hogwarts que ficou destruída. Todos nós fomos. Basta olhar ao redor para ver as cicatrizes que a Guerra Bruxa deixou. A ausência de algumas risadas na família Weasley é gritante, e elas nunca mais serão ouvidas. Teddy, meu afilhado, crescerá sem conhecer seus pais, e eu jamais terei de volta os amigos que perdi.
Ao observar as pessoas ao meu redor, vejo o mesmo vazio em seus olhos. Um brilho que antes existia simplesmente se apagou. Alguns dizem que são "águas passadas", que superaram e estão prontos para viver novamente. Eu, definitivamente, não sou uma dessas pessoas.
Desde o fim da guerra, minha cicatriz não doeu mais, mas, em vez da dor física, vieram os pesadelos. E seria muito mais fácil se fossem sobre Voldemort... mas não são. Nos sonhos, vejo os rostos de todas as pessoas que testemunhei morrer. Ouço seus gritos, os pedidos de ajuda que nunca consegui atender, o desespero. Se pudesse resumir este ano em uma palavra, seria culpa. É isso que tenho carregado: o peso das mortes e da culpa.
O mundo me venera como "O Salvador do Mundo Bruxo". Não posso andar pelas ruas sem ser parado por alguém pedindo autógrafo ou me agradecendo. Mas essas situações só reafirmam duas certezas: a primeira é que não consigo aceitar agradecimentos por salvar vidas enquanto outras foram perdidas. Trocar uma vida por outra... realmente vale a pena? Comemorar como se tudo fosse apenas uma questão de equilíbrio? Eu não consigo.
A segunda certeza é que, em algum momento, serei apenas uma lenda. Meu nome será um adendo nos livros de história, e logo as manchetes serão outras. Quando isso acontecer, estarei sozinho lidando com a culpa e o peso de tudo. E essa parte não será manchete.
Apesar de estar imerso nesses sentimentos sombrios e com mil motivos para me trancar em casa e nunca mais sair, Hermione insistiu o ano inteiro que, se eu quisesse ser um auror, precisaria terminar os estudos. Então, aqui estou, com todas as minhas dúvidas e medos, arrumando meu malão para voltar a Hogwarts.
No último ano, fiquei na casa dos Weasley. Molly me acolheu com seu calor maternal, e a família me tratou imensamente bem como sempre. Mas, agora, o amor maternal de Molly está um pouco... diferente, enquanto ela bate violentamente na porta do quarto, gritando que Rony e eu vamos nos atrasar.
Pelo jeito que ela agride a porta, acredito que logo vai derrubá-la.
– Já estamos descendo, mãe. – Rony avisa, depois da nona batida.
– Vamos logo, se não sua mãe vai nos espancar.
– Meu medo é abrir a porta e ela lançar um Cruciatus. – Rimos, mas somos interrompidos por outra batida frenética. Nos entreolhamos e apressamos em fechar nossos malões.
Descemos as escadas com nossos malões e a gaiola de Errol, que finalmente cederam ao Rony após tudo o que aconteceu no ano passado. Pichitinho agora está sob os cuidados de Molly, mas parece profundamente decepcionado, lançando um olhar de desgosto para Ron e sua nova coruja.
– Finalmente, rapazes. Da próxima vez, eu derrubaria aquela porta. – Molly diz, irritada, assim que chegamos ao térreo, mas logo nos cumprimenta com um beijo suave na testa.
Arthur desce a escada, apressado e desajeitado, arrumando sem jeito a gravata no seu pescoço com uma mão e penteado o cabelo com a outra. Molly provavelmente o apressou também.
– Bom dia, meninos. – Ele acena enquanto acha um espelho para auxiliá-lo no processo de ajeitar sua gravata listrada.
Jorge não está em casa. Ele avisou na noite anterior que não poderia nos ver partir, pois tinha compromissos na Gemialidades Weasley. No fundo, sei que o verdadeiro motivo é que nos ver indo para Hogwarts o faz lembrar de Fred. Entre todos, obviamente Jorge foi quem mais sentiu a morte do irmão.
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Dois Opostos
FanfictionDizem que a guerra faz apenas duas coisas com as pessoas, ou mata, ou marca para sempre seus sobreviventes. Foi isso que a Segunda Guerra Bruxa fez com Harry Potter e Draco Malfoy. Um sobreviveu a pressão de ser o eleito, aos traumas de presenciar...