Capítulo 34: Farol

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Draco

— Entra. – Ele sussurra ao pé do meu ouvido assim que nos afastamos após vários e vários minutos abraçados em silêncio.

Entrar no Largo Grimmauld, número 12, deveria ser algo comum, considerando que estou morando aqui há um bom tempo, mas agora o clima é diferente, é como voltar ao ponto de partida e tentar fazer uma largada melhor depois de perceber que talvez você tenha trapaceado a corrida inteira por medo de perder.

Cada passo em frente, são trilhões de pensamentos na minha mente, milhares de formas de falar tudo que percebi e absorvi durante o tempo que evaporei, mas sentir já é algo novo para mim, quem dirá expressar essas coisas.

Sento no sofá, escorando os cotovelos no joelho, colocando as mãos para baixo, as mexendo meio descontroladamente, como uma forma de distração, uma maneira de evitar o olhar de Harry, que agora está sentado na mesa de centro, bem diante de mim, esperando que eu comece a falar, esperando alguma explicação ou um pedido de desculpas, enquanto ainda me sinto congelado.

— Eu... eu sinto muito. – É a primeira coisa que consigo retirar dos meus pensamentos e finalmente expor em palavras, mas ainda parece muito pouco para Harry.

— Não há muito pelo que se desculpar, eu disse que você poderia ir embora. – Sua afirmação não condiz com sua expressão, que diz claramente que sim, eu preciso me desculpar e muito mais do que apenas um "sinto muito".

— Dizer e querer são coisas diferentes.

— Exatamente como você disse querer ficar e foi embora. – Suas palavras proferidas rispidamente me atingem de um jeito quase brutal e me sinto como um animal indefeso que acaba de ser atacado, como quando um cachorro abaixa as orelhas assustado quando alguém fala com ele em um tom mais alto.

— Eu sei que parece ridículo aparecer aqui depois de ficar tanto tempo sem dar nenhum sinal da vida, mas eu precisava respirar... pensar.

— Todos precisamos, Draco, você acha que não penso nisso – Ele aponta para nós dois. — todos os dias? Claro que penso, mas eu nunca, nem por um instante, pensei em fugir, porque eu nunca conseguiria fazer isso com você.

— Eu passei muito tempo me considerando uma experiência para você. – Gradualmente as palavras começam a sair, nervosas e angustiadas. — Alguém que você precisava cuidar para provar algo para si mesmo, um ato de caridade.

Harry ameaça voltar a falar, talvez negar severamente minha frase, mas o interrompo continuando a expor coisas que nunca pensei que fosse expor, aproveitando o momentâneo indício de coragem que começa a se formar em mim.

— Ninguém nunca tentou me ajudar, Harry, minha mãe nunca se opôs a Lucius, meus amigos e eu nunca conversamos sobre sentimentos, a única pessoa que chegou perto de tentar me ajudar foi Dumbledore e agora ele está morto...

Congelo por alguns instantes, Harry não diz nada, mesmo ofendido, me dá o espaço que preciso para me estabilizar e voltar a falar.

— Eu não me sinto alguém que mereça ajuda, que mereça sentimentos, afeto ou tudo que você me proporcionou nesses últimos meses. Sempre acreditei que não merecia tudo isso, como se eu estivesse ocupando o lugar de alguém que realmente merecesse estar aqui, mas era fácil fugir desse... medo quando ninguém sabia que existia algo entre nós, quando você não havia sido exposto ao ridículo.

— Mas então aconteceu, todos enfim sabiam da gente, e só consegui pensar que não era mais somente eu que sabia que não te mereço, todos ganharam conhecimento sobre o quanto eu poderia estar te prejudicando, nisso percebi que talvez eu realmente estivesse te machucando, em todas as vezes que evitei pensar no que sinto ou no que temos, percebi que além de não merecer sua ajuda, eu também estava ocupando um espaço nos seus sentimentos sem me importar em dar a devida atenção a isso.

Dois OpostosOnde histórias criam vida. Descubra agora