Dois Opostos

Capítulo 37: Galáxia

Draco

Assim que entreguei o anel para Harry fiz questão de conectá-lo ao colar que ele me deu, foi um feitiço rápido e não-verbal, Harry sequer percebeu quando o executei. Pensei que só o usaria quando o moreno estivesse em perigo, porém, no momento que ele começou a ter essa crise de pânico o colar queimou contra o meu peito, e não estou exagerando quando digo queimou, me alertando que algo estava errado, pedi desculpas para Hermione e corri para cá, não sabia se era algo grave ou não, mas sabia que ele precisava de mim e isso já me bastou.

A primeira coisa que ouvi quando o encontrei nesse estado foi ele implorando para Rony não me chamar, não querendo me privar da diversão da festa, não querendo me preocupar nem mesmo nessa situação, estando nitidamente precisando de ajuda, a única preocupação de Harry era que eu permanecesse bem. Foi nesse instante, no momento que essa percepção se tornou tão nítida na minha frente, que gradativamente o entendimento sobre meus próprios sentimentos começou a aparecer.

Não sou bom com palavras, então foi meio que instantâneo oferecer para Harry os meus braços, afinal não é isso que fazemos há meses? Correr para os braços um do outro quando as coisas parecem turvas demais para serem enfrentadas em silêncio.

Lembrei das minhas próprias crises, que nas primeiras vezes me tranquei no quarto ou fugi para praça, mas nas mais recentes Harry sentou do meu lado, me puxou para os seus braços e começou a apontar falhas na parede ou no chão, porque percebeu que observar detalhes no ambiente me acalmava muito mais do que palavras consoladoras.

Harry se encolheu no meu braço, colando nossos corpos como se esse fosse seu refúgio, sua válvula de escape, foi com esses gestos, essa sua angústia e desespero em se manter próximo a mim como se eu pudesse calar seus medos e seus temores, mesmo sem dizer nada, sem saber de nada, que percebi que Harry é tudo que eu sempre desejei, nas noites em que me agarrei nas cobertas da Mansão Malfoy, prezando por um momento de paz, nos dias que o persegui pelos corredores como uma distração para as sombras que me seguiam.

Em cada instante que me encontrei ao olhar em seus olhos esverdeados, nos momentos de culpa e medo ou nos de alegria e contentamento, em todos os menores e também os mais cruciais instantes Harry estava ali, fisicamente ou mentalmente.

Nas situações em que tudo parecia perdido, ele estava ali para me dar uma razão para continuar, quando tudo parecia alegre ele foi o causador da felicidade, se hoje me sinto verdadeiramente vivo, intensamente feliz, é porque Harry se jogou no fundo do poço e se sentou lá até que pudéssemos subir juntos, nos resgatar juntos, um passo de cada vez, um sentimento de cada vez.

Agora, com ele encolhido em meus braços, chorando baixinho enquanto acaricio cada pequena parte do seu rosto, que percebo enfim o que já deveria estar nítido há tempos, que Harry é e sempre será, o grande amor da minha vida, o garoto pelo qual senti meus sentimentos heteronormativos serem completamente destroçados, o garoto pelo qual beijei bocas e mais bocas para apagar da lembrança a boca que eu não podia beijar, mas desejava tão ardentemente, pelo qual usei Blásio por Ginevra ter conquistado tudo aquilo que sempre sonhei, o garoto que agora, finalmente, tenho em meus braços.

Sinto que nunca mais o soltarei, nunca mais irei deixa-lo se afastar e nunca mais irei me afastar, porque esse é o meu lugar, ao lado do homem que sempre fingi odiar para me contentar em não assumir que ele sempre foi tudo que eu mais preciso.

Harry ergue os olhos, nossos olhares se cruzam por talvez um mísero segundo, mas para mim é como se fosse uma hora, anos ou possivelmente décadas fitando a intensidade do seu olhar, sinto como se eu pudesse ver uma galáxia inteira ali, diante dos meus olhos, palpável e visível.