Capítulo 40: Inverno 1997

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Draco

— Você sabe o que fomos, Theodore. – Respondo, esforçando-me para manter a rispidez no meu tom de voz, mesmo sabendo que estou perdendo gradativamente o controle das minhas emoções, principalmente após reviver tão nitidamente essa lembrança.

— Francamente, Malfoy? Se você me perguntasse há três anos o que éramos, com certeza eu teria milhares de respostas apaixonadas na ponta da língua... Que jovem tolo eu era, não? Atualmente duvido que nós tenhamos sido qualquer coisa, nada mais do que um passatempo, uma distração, na verdade, era assim que o Zabini me chamava, não é? Sua "distração principal", a pessoa que você beijava porque quem você queria realmente beijar estava preocupado beijando outra. É, isso que fomos.

Dessa vez é Theodore quem desvia o olhar, se recordando de coisas as quais não quer recordar. Abro a boca para discordar de seu comentário, dizer que ambos sabemos que fomos muito mais do que apenas isso um para o outro, porém ele estende a mão deixando claro que prefere que eu não fale nada, que me cale perante afirmações as quais ele não pediu por uma resposta, e como Theodore é a única pessoa no poder aqui, obedecer parece ser uma ótima opção.

— Eu não vim aqui para falar sobre nossos sexos casuais – Novamente sinto vontade de protelar, dizer que nós dois sabemos que fomos muito bem mais do que apenas sexo casual, mas esse não aparenta ser o momento adequado para reclamar do uso das palavras.

— Vim para falar sobre outra coisa, contar ao seu amado uma parte crucial da sua vida e você sabe muito bem qual. – Realmente sei, sabia que uma hora ou outra ele tocaria nesse assunto, afinal Theodore não viria aqui para termos uma conversa amigável e saudosista, depois de tudo que o fiz já esperava que sua visita tivesse um propósito... negativo.

Minhas mãos tremem e sinto um aperto no peito que reconheço muito bem, o medo, não sei como Harry irá reagir diante dos acontecimentos que Theodore contará, meu único medo é que ele decida que realmente o melhor sempre foi se manter afastado de mim, finalmente perceba que nunca existiu uma faísca sequer de luz dentro de mim e que eu com certeza não mereço seu afeto, sua presença, ou seja lá o que esteja disposto a me dar, ainda mais do que já me deu.

Desde do início esse sempre foi o meu motivo para me manter distante, o medo que algum dia ele acordasse e percebesse o grande erro que cometeu ao colocar-se ao meu lado, agora depois de tanto tempo estou enfim acostumado a conviver com Harry, finalmente aceitei a profundidade dos meus sentimentos, perdê-lo será como abrir uma enorme ferida a qual acredito que nunca mais irá se fechar.

— Eu posso contar essa parte. - Afirmo secamente, tomando a frente dos meus atos, se Harry vai descobrir esse lado do meu passado de qualquer jeito, então quero que pelo menos descubra pela minha boca.

— Claro que pode, faça as honras, mas conte bem detalhadamente, caso contrário não hesitarei em acrescentar os detalhes por você. - Theodore estende os braços mandando que eu continue, cruza as pernas e leva as mãos até o queixo, repousando-as ali, com o olhar de soberania gritando nos olhos.

Respiro fundo, batendo com os dedos na coxa, tentando encontrar uma calma que com certeza se perdeu em algum lugar dentro de mim. Direciono um último olhar para o moreno petrificado no meu colo e tomo coragem para começar a falar, fitando o quadro atrás de Theodore, incapaz de olhá-lo nos olhos, enxergar nele a dor que eu o causei é muito mais destrutivo do que simplesmente falar.

Nunca falei abertamente com ninguém sobre o que aconteceu naquela noite, sobre quem eu destruí naquele dia, sobre como naquele milésimo de segundo onde tomei a minha decisão destruí a última parte boa que restava dentro de mim, a única parte que Voldemort ainda não havia tomado conta. Aquele dia... eu morri.

Dois OpostosOnde histórias criam vida. Descubra agora