Capítulo 45: Sempre

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Draco

Cientificamente falando ou medicinalmente, não tenho certeza da palavra e não quero pensar na correta agora, eu perdi os movimentos da cintura para baixo, não sei como e nem porquê, mas nesse exato momento sinto como se tivesse perdido todos os sentidos do meu corpo, todo o controle sobre mim mesmo, meu corpo inteiro treme descontroladamente, minha cabeça lateja com uma dor destrutiva e meus pensamentos... eles me destroçam cada vez mais.

Nesse último ano ouvi as melhores frases motivacionais possíveis, que Harry fez questão de proferir para mim todos os dias, inclusive colar algumas na geladeira quando eu me recusava a falar com ele, ouvi sobre luz e trevas, sobre lembrar de acender a luz e tantas outras, mas nesse momento não consigo focar em nenhuma delas e se for para focar, a única palavra que consigo pensar é nas trevas, eu finalmente fugi das amarras de Lucius, finalmente estava conseguindo ser quem ele me privou de ser, e para que? Para parar aqui, deitado, sem controle sobre meu próprio corpo? Inundado pela escuridão.

- Draco... - Ouço a voz de Harry pacífica e suave me chamando, entretanto, mesmo sabendo que ele está tão perto, sinto como se ele estivesse bem distante de mim, como se eu não estivesse aqui, mas sim em um mundo hostil e caótico.

- Draco, você não precisa olhar para mim, mas por favor, me ouve. - Harry fala ao mesmo tempo que aproxima meu corpo ainda mais do dele, enlaçando minha cintura com seus dedos e acariciando meu cabelo com a mão, deixando-nos colados um ao outro, é instantâneo o movimento de enroscar meus dedos em sua camiseta, como se todos os meus medos e problemas pudessem se resolver o mantendo grudado a mim.

As lágrimas não descem pelos meus olhos, porque minha mente continua reproduzindo a voz de Lucius, não posso chorar, não devo chorar.

- Eu sei que sua mente deve estar com um turbilhão de pensamentos os quais você não tem nenhum controle, sei também que você odeia não ter controle sobre as coisas, mas nem sempre podemos controlar tudo, manter as coisas no caminho que queremos que elas sigam. Você não tem culpa por estar nessa condição, Draco.

- Tenho, tenho sim. - São as primeiras palavras que consigo pronunciar com a voz embargada, armazenando nela o choro que não desce pelos meus olhos. Sim, eu tenho culpa de estar nessas condições, porque não enfrentei Lucius antes, porque compactuei com as mortes que ele causou, porque deixei que meu pai me transformasse em um monstro assim como ele, se estou nesse estado é porque mereço estar assim, por tudo que já causei as pessoas, por todos que matei indiretamente.

- Não, Draco, você não tem culpa nenhuma, mas antes de eu falar sobre isso, quero que saiba de uma coisa, acredito que é uma coisa que você precisa ouvir de outra pessoa.

Ele leva a mão até meu queixo trêmulo, fazendo com que eu olhe fundo nos seus intensos olhos verdes, não consigo sustentar o peso do seu olhar, sinto que não sou merecedor de receber um olhar tão doce, tão sentimental, não o mereço, não mereço nada de bom. Quero recuar, porém ele mantém seu toque firme para fazer com que eu continue o olhando.

- Você pode chorar, Draco, não é um crime ou algum tipo de pecado. Você pode chorar, chore tudo que você não chorou a vida inteira, tudo que Lucius te impediu de demonstrar.

- Harry...eu... - Gaguejo, porém antes que eu termine de negar sou interrompido por sua voz sutil.

- Lucius lhe tirou tantas coisas, Draco, coisas as quais eu sei que você nunca vai superar, mas ele não pode lhe tirar o direito de sentir, porque sentir é o que te deixa vivo, você não pode continuar sobrevivendo aos seus dias, tem que viver. Eu sei que você deve estar pensando que é muito fácil eu falar, mas acredite essa história de viver e sobreviver eu devo ter entendido há menos de 24 horas.

Dois OpostosOnde histórias criam vida. Descubra agora