Capítulo 16: Ninguém

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Draco

Dia 21 de outubro (sábado)

Minha cabeça lateja de uma forma inexplicável, sinto meu corpo inteiro pesar e meus olhos fazem um enorme esforço para permanecerem fechados mesmo comigo os querendo abertos. Ouço passos ao meu redor e vozes que não consigo distinguir devido ao som abafado nos meus ouvidos.

Acho que uma mão toca meu braço, mas este está tão dormente que não consigo identificar seus sinais, minha boca parece seca, seca demais e quando penso em a abrir, por mais delicadamente que seja, uma forte dor percorre minha espinha e opto por deixá-la fechada.

Mesmo com toda essa confusão, com toda a minha audição e os meus sentidos em colapso, eu consigo reconhecer a sua voz, e como se ela fosse uma cura milagrosa para tudo meus olhos se abrem em uma velocidade surreal, porém logo em seguida sou obrigado a fechá-los novamente, os abrindo de novo com mais calma para poder me adaptar com a luz do ambiente.

— Draco? - Ouço ele me chamar, quando percebe que estou consciente sua voz carrega um tom de preocupação tão grande que nunca havia ouvido antes.

— Estou vivo, Potter. – Falo, com uma dificuldade absurda, minha garganta parece se fechar ainda mais após proferir essas palavras, mas apesar de toda a dor meu corpo não consegue se manter calado perante Potter.

— Por Merlin, Draco, eu pensei que você fosse morrer. - Sua voz está embargada, e embora a luz do ambiente ainda machuque meus olhos, e até os mesmo os mínimos movimentos agridam meu corpo, acabo ignorando todos os meus sinais mentais para permanecer imóvel me virando para olhar o moreno ao meu lado.

Potter está sentado em uma cadeira do lado da minha cama, de uma forma tão desajeitada que suas costas devem estar pedindo por socorro, o cabelo está todo bagunçado, a roupa amarrotada e os óculos mais tortos que o comum, não adaptados ao seu rosto.

Vou subindo os olhos gradativamente até finalmente nossos olhares se encontrarem, engulo em seco ao ver que não é somente sua voz que está embargada, seus olhos contêm algumas lágrimas que ele segura veementemente, isso se torna nítido pelo jeito como morde o lábio e pressiona as mãos sobre as pernas, parecendo querer descontar ali todo o desespero aparente em todo seu corpo e rosto.

— Harry? - O chamo, sentindo o nervosismo crescer dentro de mim, Harry se levanta e segue até a janela, incapaz de se manter parado em um só lugar, bagunçando os cabelos com as mãos, inteiramente desconcertado.

— Harry, por Merlin, olha para mim! – Peço, mesclando no meu tom de voz a aflição com sua reação e uma delicadeza incomum para um Malfoy, principalmente para esse Malfoy, mas mesmo assim as palavras saem com naturalidade, não pensei nem por um segundo antes de falar, simplesmente pareceram ser as palavras corretas.

Ele se vira com lentidão, aparentemente fazendo isso contra a sua vontade, quase caio da cama, ou volto a desmaiar, com a visão que vejo diante dos meus olhos, Potter definitivamente está com os olhos vermelhos pelas lágrimas que já deve ter chorado e também pelas que aparenta segurar nesse instante.

Harry realmente chorou de preocupação comigo? Está quase chorando agora por que estou vivo? Por Merlin que ele esteja chorando de tristeza por eu não ter morrido.

— Você não está chorando por minha causa, não é? - Deixo a frase escapar sem rodeios, porque um desespero fora do comum começa a me invadir.

Nunca vi Potter chorando, nunca vi ele demonstrando qualquer traço de fragilidade, e nunca imaginei que a primeira vez que eu veria isso seria por minha causa, de preocupação e alívio por eu estar bem.

— Droga, Draco. - É a única coisa que fala, e apesar de suas palavras serem pronunciadas envoltas por uma voz embargada, tenho que morder o lábio para conter um sorriso ao notar como o meu nome parece se encaixar perfeitamente em seus lábios, saindo com uma naturalidade fora do comum que me faz pensar no quão desesperado ele deve estar para esquecer de me chamar pelo sobrenome.

Dois OpostosOnde histórias criam vida. Descubra agora