Meu Desejo Meu Destino - Livro 01 'Os Fisher's'

45.🌼

CAMILA.Abro os meus olhos aos poucos para se acostumar com a claridade do sol que invade o quarto. Sinto um peso confortável em cima da minha barriga, notando-o ser de Allan.

__ Pode dormir mais um pouco. Está muito cedo ainda. __Ouço sua voz calma e baixa perto de meu ouvido. Me viro para ele, notando a mesma expressão de ontem. Ele está preocupado.

Dou-lhe um sorriso pequeno, o mesmo retribui da mesma forma.

Como é bom acordar e tê-lo aqui tão perto de mim.

__Se é tão cedo assim, por que está acordado?

Ele sorriso mínimo se repuxa um pouco mais, seus dedos suaves e longos tocam minha bochecha, acariciando-me. Seu toque quente e carinhoso aquece o meu coração.

Ah, se você soubesse o tanto que vem mexendo com o meu coração, Allan.

__ Porque gosto de apreciar de primeira mão a beleza que você tem ao acordar. __ seus lábios tocam minha testa.

__ Obrigado por cuidar de mim.

Lembrar dos acontecimentos anteriores faz com que me sinta amedrontada. Saber que apenas a aproximação daqueles dois estranhos me trouxe algo que tento esquecer todos os dias, faz com que me sinta fraca demais. E talvez eu realmente seja.

Só quero que esse pesadelo acabe, quero parar de ter medo, quero parar de sentir culpa, quero parar de sentir-me tão fraca toda vez que as lembranças virem à tona. Só quero parar de me sentir tão pequena, frágil e assustada o tempo todo. Mesmo sabendo que o passado irá me perseguir por onde quer que eu vá, anseio pelo dia em que todo esse tormento se tornará e não passará de apenas isso. Passado. Eu quero que essa dor, esse inferno regado de lágrimas e sangue, me deixe viver uma vida sem medo, sem tristeza.

Isso parece um sonho tão distante..

__ Não me agradeça. Não por isso. __ Seus olhos prendem os meus. __Como se sente?

Ainda mais destruída, ainda mais assustada. Estou me sentindo pequena e imunda, me sentindo culpada por deixá-la daquele jeito.. Estou me sentindo um lixo, é assim que estou me sentindo.

__ Estou bem. Não se preocupe. __é o que digo. É sempre o que eu digo.

Sei que não o convenci com a minha resposta, sei que ele quer alguma explicação pelo que aconteceu, mas não posso, não consigo. Allan, por mais que eu negue, se tornou alguém importante para mim. Ele vem ocupando um espaço perigoso em meu coração, se tornando alguém que me faz sentir segura, e quando estou em seus braços, a proteção que sinto ele ter comigo multiplica.

Allan me faz sorrir com facilidade, me faz desejá-lo constantemente e ansiar quando está longe. Allan faz com que o meu coração palpite a cada vez que escuto o som da sua voz, e mesmo que eu saiba que posso confiar nele, não me encontro pronta para contar o que tanto me assombra. Falar sobre o que me aconteceu é o mesmo que romper os pontos de um recém-machucado.

O homem a minha frente, que ontem foi capaz de me amparar em seus braços, que fez meu coração bater forte e rapidamente só por enxugar minhas lágrimas, que me acalentou, consolou-me, e que hoje está me mostrando que se importa de alguma forma comigo, faz com que eu sinta aqui dentro de mim, se intensificar mais.

Seus olhos escuros são capazes de me fazer perder os sentidos, seus toques suaves capazes de me aquecer, seu perfume me acalma, e seus lábios têm gosto de lar... Tudo nele, ele, se envolveu em minhas correntes sanguíneas, direto para meu órgão pulsante. Não posso, não consigo mais negar para mim mesma que me encontro apaixonada por Allan.

E ainda que eu anseie por um amor, eu não posso acreditar que isso é para mim. Não de novo. A primeira vez que me permiti, me machuquei. Estou cansada de colecionar feridas em cima de feridas. Cansada de colecionar cicatrizes. Carrego o suficiente em minha alma, que me leva a lavar a minha pele suja e marcada todas as noites, na tentativa insana e fula de apagar o que me manchou.

__ Não minta para mim.__ Pede, como se sentisse dor.__ Não irei forçá-la a falar, mas não minta para mim.. por favor.. __ seus olhos fechados em meio ao sussurro, seu carinho suave em minha pele, apertam meu coração. __ Que tal prepararmos o café da manhã juntos? __ A mudança de assunto, ainda que sussurrada, é bem-vinda, assim como o beijo carinhoso que dá em minha testa.

.

.

Depois do banho, descemos para a cozinha, preparamos o nosso café conversando sobre coisas aleatórias que nos tiravam risadas sinceras. Allan puxava um assunto atrás do outro na tentativa de deixar-me o mais distante da dor que eu sei que ele via em meus olhos.

Allan não sabe, mas faço como sempre fiz, coloco o melhor sorriso no rosto e finjo mais uma vez que nada me machuca. Não sou diferente dos demais do restante do mundo. Todos nos acordamos, trabalhamos, estudamos, sorrimos aqui e ali, choramos quando não aguentamos a pressão, e no outro dia, até mesmo no mesmo, estamos nós lá, dê novo, sorrindo, agindo como se nada tivesse acontecido, nos afetado. Afinal, a vida continua, quem está parada sou eu.

Em meio ao caos que sou, que sinto, cada momento que venho passando com Allan desde que o conheci, vem sendo uma nova cor vivida em minhas páginas em branco. Allan é a tranquilidade de que preciso após me esforçar tanto em meio à chuva tempestuosa.

Talvez seja o sentimento voraz que transborda em meu peito, que nasceu sem mais nem menos, como uma flor brotando em meio ao deserto, um deserto infértil, mas que ainda, sim, conseguiu fazer nascer algo bom ali.

Uma parte de mim quer se agarrar nesse sentimento novo, que pulsa como esperança e amor, e a outra se fecha, recua medrosamente, pois Allan poderia muito bem ser mais uma cicatriz em meio à minha coleção, uma daquelas que eu demoraria a se recuperar.

Por que eu tinha que me apaixonar por ele?

Por que ele tinha que ser a tranquilidade que meu coração tanto ansiava..